Se por todo o mundo, as cidades procuram ter espaços para os nómadas digitais com acesso grátis à internet, na Holanda a última moda é exactamente o contrário: existirem sítios onde as pessoas possam estar e falar como nos velhos tempos. A ideia de viver sem wi-fi não é nova, mas lá levaram a ideia mais a sério.
No Offline Café, assim se chamam os cafés em Amesterdão, Utrecht e Nijmegen, o Dia Internacional Desligado da Net foi comemorado de uma forma bem ancestral. Num ambiente informal e acolhedor, os clientes estiveram a fazer coisas tão simples como conversar, ler ou mesmo fazer trabalhos manuais.
A notícia foi viral na net e a página do Instagram, chamada The Offline Club, chegou depressa aos 72 mil seguidores. A descrição é simples: este clube promove a troca do digital pelo presencial. Ali, as pessoas podem fazer um verdadeiro detox digital. Por apenas 7 euros qualquer pessoa pode ingressar nos eventos. O mês de Março esgotou logo, pois a lotação dos cafés não é propriamente a de uma discoteca. Mas é uma questão de ir vendo e, quem sabe, não adaptar a ideia na própria cidade.
Cada vez mais são conhecidos os danos de demasiado tempo online. Os gabinetes de psicologia estão cheios de jovens com problemas de socialização e com uma percepção deformada da realidade. As consequências podem ir do aumento da ansiedade à depressão. Os estudos também são afectados, pois torna-se cada vez mais difícil para os alunos conseguirem estar concentrados numa só actividade.
Há estudos para todos os gostos, mas todos eles apontam para um crescimento exponencial do tempo passado em frente aos ecrans desde o início da pandemia do Covid-19. Um dos sintomas mais preocupantes são as perturbações do sono. Só o facto de uma pessoa usar o telemóvel como um despertador, aumenta o risco de acordar a meio da noite para ir ver as actualizações a meio da noite ou acordar com o som das notificações. O que é que acontece? O Sistema Nervoso Central, responsável, entre outras coisas, pela concentração e pela memória, fica afectado. No dia seguinte, quem paga é a escola e o corpo.
Nos dias de hoje, o equilíbrio é difícil, mas não impossível. Por enquanto, porque não monitorizar o tempo (ou as vezes) que usa o telemóvel, por dia. Há mecanismos para medir isso, nas configurações dos telemóveis. É só uma questão de...detox!
Em Portugal, também já há locais sem internet para quem queira passar alguns dias sem consultar emails, ir ver as mensagens de whatsapp ou googlar o que quer que seja. No Vale da Telha, em Alzejur existe um sítio onde se trocam os computadores e smarphones pelo surf, ioga ou conversas reais. Chama-se Vale da Telha e existe mesmo antes de ter surgido a pandemia. E para que ninguém faça batota, os hóspedes têm que "declarar" os dispositivos electrónicos e entregá-los na recepção. Só quando forem embora é que são retirados do cacifo. Para além da vantagem de estar "off", o preço de uma estadia desce consideravelmente.
Um fim de semana romantico pode ficar por pouco mais de 100 euros. Por mais estranho que possa parecer, existem cada vez mais pessoas à procura dos velhos tempos sem internet. Os famosos são frequentemente notícia, justamente, por decidirem sair das redes sociais para preservarem a saúde mental. A cantora brasileira Luisa Sonza desligou-se devido a insultos e ameaças de morte feitas online e teve que receber apoio psiquiátrico. Selena Gomez, que conta com 429 milhões de seguidores no Instagram pediu que lhe escondessem a senha de acesso para estar longe dos comentários mais infelizes. Simplesmente humana, como todos nós.