O que está envolvido nas relações amorosas que faz doer? Cada um tem sua própria experiência. Relato aqui a partir da minha, mas sabendo que é difícil encontrar alguém que não tenha sofrido por amor, então talvez se identifiquem. Reflito sobre o processo de amar no que diz respeito a unir ao outro, conjugar a vida, os desejos, escolhas, visão de mundo e também as refeições. Amor é uma palavra muito ampla e subjetiva. Duvido que eu consiga um dia explicar, então coloco esse filtro.
Quando chega o fim de um relacionamento vem o pensamento apostei tudo nessa relação! Esse tudo pode-se considerar um superlativo, mas acredito que diz muito sobre a forma como aprendi a me relacionar, dentro da monogamia e na busca da construção de uma família feliz. Acontece que, quando penso no futuro e nas áreas que compõem meu projeto de vida, ou seja, o que intenciono para minha vida, a(s) relação(ões) amorosa(s) que estarei precisa(m) convergir em diversos fatores. Por isso, acredito que o amor e o sexo não bastam em uma relação. Aquelas pessoas que já disseram fazer sacrifícios por amor podem estar vivendo em uma grande ilusão e desconexão com a própria identidade e caminho de vida.
Apesar dessa conclusão bem racional sobre relações amorosas, quem já viveu a paixão sabe que ela nos toma mental, espiritual e fisiologicamente de tal forma que o desejo e o encanto podem se tornar muito maior do que qualquer planejamento ou objetivo de vida. Viver isso é bom, nos dá impulso de vida, nos conecta com nosso corpo, aumenta a autoestima e até a criatividade. Viver o presente é importante, afinal é onde estamos e quem somos agora, é real. Mas com o tempo ela vai passando ou diminuindo sua importância perante outros objetivos pessoais que, se não estiverem bem alinhados com os de quem se está apaixonada(o), resulta em dor.
Mas o que podemos considerar para saber se há alinhamento? Talvez o primeiro passo seja identificar o que se busca para si, o que quer desenvolver, onde gostaria de morar, qual seu objetivo financeiro, como quer se relacionar, se quer ter filhos e, caso sim, algo essencial: como quer educar essas crianças. Tudo isso tem a ver com valores, visão de mundo e estilo de vida, que são construídos ao longo do tempo em uma pessoa e influenciados por diversos fatores familiares, culturais, sistêmicos e de personalidade.
Acredito que seja possível alguns ajustes em relação aos objetivos individuais para que se possa viver em parceria, afinal, a graça também está em se transformar a partir da relação com o outro, mas mudar o que se sonha para poder estar junto é insustentável a longo prazo.
Acredito então que a dor caminha junto a essa busca de querer viver relações amorosas, que é algo tão natural e instintivo, e ao mesmo tempo construir um projeto de vida alinhado com o que se quer conquistar para si. Já vivi a beleza de ter esses dois aspectos convergindo de forma harmônica em minha vida, e também o momento em que houve divergência e tive que solicitar que minha própria maturidade entendesse que não é possível escolher uma relação em detrimento do que sonho para minha vida.
Há um balanço necessário, mesmo dentro de uma relação amorosa, de se entregar ao outro, se permitir ser atravessada(o), tocada(o), afetada(o), aprender com isso, e, em seguida, voltar ao seu eixo para perceber como você está, o que quer, qual sua identidade. Para mim, não há nenhuma forma de ser mais fiel ao outro do que sendo fiel a si mesma(o), e com isso, entregando a sua verdade, transparência e inteireza.