O estresse tem sido cada vez mais reconhecido como um fator influente na saúde física e mental.

Recentemente, um novo estudo revelou que o estresse pode aumentar significativamente as chances de desenvolver a síndrome metabólica – uma condição que agrupa diversos fatores de risco que podem levar a problemas de saúde graves, como doenças cardíacas e diabetes. O estudo aponta que a inflamação causada pelos níveis de estresse pode ser um dos principais gatilhos para o surgimento dessa síndrome, somando-se a fatores como estilo de vida e predisposições genéticas.

O que é a síndrome metabólica?

A síndrome metabólica é uma condição caracterizada pela presença de múltiplos fatores de risco metabólico que, juntos, aumentam significativamente a probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. Para ser diagnosticado com síndrome metabólica, uma pessoa deve apresentar pelo menos três dos seguintes critérios:

  1. Obesidade abdominal: caracterizada pelo acúmulo de gordura na região da cintura.

  2. Hipertensão arterial: pressão arterial elevada.

  3. Níveis elevados de glicose em jejum: o que pode indicar resistência à insulina.

  4. Triglicerídeos elevados: níveis elevados de gorduras no sangue.

  5. Baixos níveis de colesterol HDL: conhecido como o “colesterol bom”, que ajuda a remover o excesso de colesterol das artérias.

Esses fatores, quando presentes simultaneamente, não só aumentam o risco de doenças cardíacas e derrame, mas também aceleram a progressão de condições como a diabetes tipo 2. É importante notar que o estilo de vida desempenha um papel significativo no desenvolvimento dessa síndrome. Fatores como uma dieta pobre em nutrientes, sedentarismo, obesidade e até a genética são amplamente reconhecidos como contribuintes.

No entanto, o estudo1 financiado pelo National Institute on Aging (NIA) e pela Universidade Estadual de Ohio traz à tona uma conexão crítica entre estresse crônico e síndrome metabólica. A pesquisa, conduzida com dados de quase 650 participantes, revelou que o estresse é um dos principais fatores que podem desencadear essa condição, especialmente por meio da inflamação no corpo.

Como o estresse afeta o corpo e contribui para a síndrome metabólica

O estresse desencadeia uma série de respostas no corpo. Em situações de estresse agudo, o corpo libera hormônios como o cortisol e a adrenalina, que preparam o organismo para uma resposta de "luta ou fuga". Embora essa resposta seja útil em situações de emergência, o problema ocorre quando o estresse se torna crônico.

Quando estamos sob estresse constante, os níveis de cortisol permanecem elevados por longos períodos. O cortisol, embora necessário em quantidades adequadas, quando presente em excesso pode levar a várias consequências negativas, incluindo:

  • Aumento da gordura abdominal: O cortisol promove o acúmulo de gordura na região abdominal, o que é um fator de risco direto para a síndrome metabólica.

  • Resistência à insulina: O cortisol interfere na capacidade do corpo de usar a insulina de forma eficaz, o que pode resultar em níveis elevados de glicose no sangue e, eventualmente, diabetes tipo 2.

  • Inflamação crônica: O estresse prolongado promove inflamação de baixo grau em todo o corpo, que é um dos principais fatores ligados ao desenvolvimento de doenças crônicas, incluindo a síndrome metabólica.

Os resultados deste estudo oferecem uma visão clara de que o estresse vai além do impacto psicológico e possui efeitos físicos concretos. O corpo humano, ao lidar com estressores contínuos, entra em um estado de desequilíbrio que favorece o desenvolvimento de diversas condições metabólicas.

Estratégias para lidar com o estresse

De acordo com uma das autoras do estudo, Dra. Jasmeet Hayes1, professora assistente de psicologia na Universidade Estadual de Ohio, uma das melhores maneiras de reduzir o risco de síndrome metabólica é adotar estratégias eficazes de controle do estresse. Embora existam fatores genéticos e biológicos que não podemos modificar, o manejo do estresse é um componente sobre o qual temos controle.

A seguir estão algumas estratégias práticas que podem ajudar a reduzir o estresse e, potencialmente, diminuir o risco de síndrome metabólica:

  1. Exercícios físicos regulares: A atividade física é uma excelente maneira de combater o estresse, pois libera endorfinas, substâncias químicas que melhoram o humor e aliviam a tensão. Caminhadas, corridas, ioga, natação ou qualquer atividade que você goste pode fazer uma grande diferença na redução do estresse.

  2. Técnicas de respiração profunda: Práticas como a respiração diafragmática podem acalmar o sistema nervoso e reduzir os efeitos do estresse no corpo. É uma técnica simples que pode ser feita em qualquer lugar.

  3. Meditação e mindfulness: A meditação e a prática da atenção plena ajudam a focar no presente, reduzindo a ruminação mental e o estresse. Essas técnicas ajudam a treinar a mente para ser mais resiliente frente aos desafios diários.

  4. Estabelecimento de limites saudáveis: Aprender a dizer “não” quando necessário e equilibrar suas responsabilidades pode evitar o esgotamento físico e mental. Definir limites é essencial para manter a saúde mental e evitar sobrecargas.

  5. Organização e planejamento: Manter um cronograma organizado pode reduzir a sensação de desordem e aumentar o controle sobre as atividades do dia a dia, diminuindo o estresse.

  6. Sono adequado: O sono de qualidade é essencial para a recuperação física e mental. Estabelecer uma rotina de sono regular e criar um ambiente propício ao descanso melhora significativamente a capacidade do corpo de lidar com o estresse.

  7. Terapia profissional: Em casos de estresse crônico, buscar apoio psicológico ou psicoterapia pode ser muito útil. Um profissional pode oferecer ferramentas e estratégias personalizadas para lidar com o estresse de forma eficaz.

Conclusão

O estudo destaca uma nova dimensão do entendimento da síndrome metabólica ao conectar o estresse diretamente ao seu desenvolvimento. A inflamação causada pelo estresse crônico contribui para o surgimento de problemas metabólicos, mostrando que o estresse não é apenas uma preocupação psicológica, mas também uma questão de saúde física.

Embora sejam necessárias mais pesquisas para compreender completamente os efeitos do estresse na síndrome metabólica, o estudo enfatiza a importância de abordagens holísticas para a saúde. Gerenciar o estresse pode ser uma estratégia eficaz para melhorar a saúde geral, especialmente na meia-idade, quando o risco de desenvolver a síndrome metabólica aumenta.

Por isso, cuidar da mente, do corpo e das emoções é essencial para manter uma boa saúde a longo prazo.

Notas

1 Jurgens, S. M., Prieto, S., & Hayes, J. P. (2023). Inflammatory biomarkers link perceived stress with metabolic dysregulation. Brain, Behavior, & Immunity – Health, 34, 100696.