Amar o próprio corpo nunca foi uma tarefa muito fácil, especialmente para mulheres. Isso porque sempre foi muito complexo se identificar com o padrão de beleza imposto socialmente principalmente nos meios de comunicação. Se enxergar como bonita não se reconhecendo nas mulheres que servem de modelo causa distorções gigantescas na forma como entendemos o real conceito de beleza.
Em 2004 a Dove lançou a campanha pela Beleza Real e foi pioneira na forma de retratar mulheres com corpos e rostos comuns e facilmente identificáveis. De lá pra cá não mudou muita coisa, infelizmente, ainda mais com as redes sociais com filtros e os aplicativos de inteligência artificial que mostram o irreal como natural. E não é qualquer natural, pois ainda temos o conceito estético minimalista e falso natural clean girl sendo fortemente difundido e confundindo as mulheres quanto ao que é de fato uma beleza comum.
Há essa crescente tendência em direção a uma beleza mais natural e autêntica em que, especialmente as influenciadoras dizem buscar alternativas aos procedimentos estéticos invasivos e valorizando a skincare e a maquiagem com um acabamento mais leve. Ou seja, mesmo que a era dos silicones, harmonizações faciais e dentes branquíssimos tenham relativamente saído de moda, a artificialidade ainda tem sido fortemente utilizada para impor ideais de beleza.
Isso não é necessariamente uma crítica, já que, cada um tem o direito de escolher o que o faz feliz e se ter um rosto e um corpo esculpido à base de procedimentos estéticos para parecer que nasceu perfeita é sinônimo de felicidade, não há o que se dizer. Mas é fato que a real beleza natural não anda tão em alta como parece, especialmente em termos de diversidade. Em comemoração aos 20 anos da campanha, a Dove fez uma pesquisa em que os resultados apontaram que 34% das mulheres “aceitariam viver um ano a menos se, em troca, ganhassem uma aparência ou um corpo considerados ideais.”
Na contramão desse contexto tão atual, temos um dos trabalhos memoráveis do fotógrafo Matt Blum. E em tempos em que o conceito do que é belo anda tão distorcido, é sempre reconfortante saber que ainda existem pessoas que valorizam e enaltecem um corpo comum. Sim, com suas celulites e gordurinhas localizadas, uma bunda mais reta ou seios pequenos.
E foi com esse conceito de valorização do belo natural, bem similar a ideia que a Dove trouxe em sua campanha, que Matt Blum lançou em 2005 The Nu Project. Neste trabalho o fotógrafo usa suas lentes para clicar mulheres em momentos cotidianos, sem poses forçadas, maquiagem, efeitos ou glamour.
A ideia é mostrar o nu artístico sem distinção de raça, idade ou classe social, para seu projeto ele recruta as modelos através de seu site e faz o trabalho de forma gratuita. Matt já fotografou mais de 300 mulheres “comuns” nuas na América do Norte, Europa e América Latina, inclusive passou pelo Brasil em 2012.
Em 2013, lançou o primeiro volume do livro com as fotos do projeto e mais recentemente saiu o volume 2, com fotos novas. Matt também é autor de um livro de memórias, o "Failing Upward" (apenas em inglês).
Nascido no Texas, Matt começou fazendo trabalhos de moda e, eventualmente, se aventurou em empreendimentos comerciais e editoriais para clientes como Harper's Bazaar, Esquire, USA Today, Men's Health e Playboy.
Apesar de todo o sucesso, sobre o começo de sua carreira, Matt diz que levou algum tempo para de fato se estabelecer em sua profissão e fazer o que ama:
Quando comecei minha jornada como fotógrafo, era o início da era das câmeras digitais. Eu havia aprendido com filme e, de repente, me vi aprendendo um sistema totalmente novo. Eu estava recém-formado e, como a maioria, estava falido. Passei boa parte de três anos trabalhando em vários empregos para comprar o equipamento necessário para iniciar o negócio sem me esticar financeiramente. Afinal, para ter sucesso na "cidade grande", as pessoas precisavam conhecer seu trabalho e seu nome antes das redes sociais.
Matt Blum é casado, com a também fotógrafa, Katy Kessler e os dois viajam o mundo clicando casamentos, batizados e sessões diversas, além do nu artístico, obviamente. Atualmente, ele reside em Barcelona, Espanha. Interessadas em participar da série The Nu Project podem se inscrever no próprio site do fotógrafo. “Estou sempre procurando almas criativas e de mente aberta para colaborar. Tudo de bom vem disso. A criatividade, sem colaboração, murcharia e morreria.”, diz. E você, está pronta para celebrar a sua própria beleza e inspirar outras mulheres a fazerem o mesmo?
Esse projeto de Matt Blum é uma excelente forma de mostrar que devemos continuar mostrando o quão é necessário termos a liberdade de ser quem somos, com todos os nossos micro e macro defeitos em meio ao clamor por perfeição - especialmente a falsa perfeição.
Aqui temos uma forma de desconstruir os padrões estéticos e festejar a beleza em sua forma mais pura, pois o projeto nos mostra que a verdadeira beleza reside na autenticidade. É hora de nos desconectarmos dos filtros e edições e nos conectarmos com a nossa essência, pois a beleza não se resume a um corpo perfeito, mas sim à expressão da individualidade e à confiança em si mesma.
Que o trabalho de Matt Blum nos inspire a olhar para além das aparências e a valorizar a diversidade em todas as suas formas. Que tal juntas construirmos um mundo onde a beleza seja valorizada em todas as suas nuances? Compartilhe este texto e ajude a espalhar essa mensagem de empoderamento para todas as mulheres que você acredita que merece confiar em seu potencial real.