Coordenar uma equipa é difícil, e enquanto saber liderar é uma arte nela própria, dar ordens é um dado adquirido e um patamar cobiçado por muitos.
Desde tenra idade somos habituados ao contexto da hierarquia, em que quem está acima de nós tem a capacidade de dizer o que devemos ou não fazer, bem como de nos avaliar por isso. E estamos de tal maneira habituados que o tornamos numa realidade transversal: começa em casa, depois na escola, e por fim no local de trabalho; repetindo-se o ciclo com a geração que se segue.
Gostamos de mandar, é esse o mote. Mas essa predisposição tem as suas falácias. Aquele que ordena tanto o pode fazer com conhecimento do facto ou não, e quem materializa a ordem idem aspas. Caso daqui resulte algum erro, a culpa tenderá a cair sempre no último, mesmo que o primeiro, de forma consciente ou não, tenha ordenado algo que na sua génese tinha várias falhas. Desta feita, mesmo que tudo corra mal, é possível descartar as culpas e lavar as mãos com quaisquer argumentos desculposos, já que nada foi feito por elas. Este é um exemplo exagerado na sua simplicidade, mas não deixa de ser algo que se continua a verificar, independentemente do contexto, área, função ou faixa etária. Dar ordens é fácil, mas não saber fazê-lo serve de mote para a criação de ambiente tóxicos e de rivalidade.
De forma a combater isto, é preciso dar uma volta de 180° à ideologia: em vez de olhar para o outro como uma ferramenta, é importante encará-lo como uma pessoa que tem os seus objectivos e os seus projectos de vida; em vez de encarar o outro como algo descartável, é importante reconhecer as suas qualidades (bem como os seus defeitos), e ver de que forma é que eles se encaixam nos nossos (e nos da restante equipa), complementando-os; em vez de encarar o meio/contexto como um de competição, é preciso encará-lo como um de cooperação. Em suma, em vez de chefiar, é preciso liderar.
A vantagem desta perspectiva está na humanidade da mesma. O líder faz mais do que dar ordens e esperar que os resultados surjam. O líder está envolvido directamente no processo, articulando com a sua equipa as demais necessidades e diligências. O líder reconhece e aprende com os erros, transmitindo a sua aprendizagem aos restantes. O líder rege pelo seu exemplo, ao mesmo tempo que move e inspira os demais. O líder é o elemento agregador. É o mentor que mostra o caminho. É aquele que dá o primeiro passo numa jornada feita em conjunto.
Em pleno século XXI não existe razão para as demais práticas promotoras de conflitos. Claro está que reconhecer as individualidades de cada um é todo um trabalho nele próprio, mas é preferível ir introduzindo-o do que ser algo que é feito por motivos de maior conveniência.
Por causa da crise, da inflação e da perda do poder de compra, agora e mais que nunca, as pessoas precisam de ser reconhecidas pelos seus esforços e é preciso ter a sua humanidade em conta. Sim, podemos continuar a fazer o que sempre se fez, promovendo ambientes de desigualdade e de exploração da precariedade e atribuir culpas à economia... ou podemos dar a volta à questão e colocar as pessoas em primeiro lugar.