Quando você aceita o fim de um ciclo, o universo entende que você está pronto para recomeçar.
A palavra transição sugere a passagem de um lugar / um tempo / um estado / uma situação para outra.
A zona de transição situa-se assim no estreito limite entre algo que está morrendo e algo que está nascendo, sendo que nenhum desses dois estados está plenamente consolidado. Desta forma, quem transita por este interregno sente estar caminhando sobre areia movediça, tendo que se confrontar com o indiferenciado, a matéria ainda sem forma e/ou a que está se esfacelando, e se vê obrigado a conviver com uma aguda sensação de incerteza.
Fases de transição acompanham todo e qualquer processo de mudança.
Assim, a adolescência costuma ser a fase de transição entre a infância e a fase adulta; a meia idade entre a fase adulta e a velhice. O adolescente precisa encarar e se haver com a perda do corpo infantil, a perda da proteção dos pais, a perda da bissexualidade e o fato novo que se constitui na eclosão dos hormônios. Por sua vez, quem está na meia- idade precisa se conformar com o fato de que seu corpo já não funciona mais na plena potência de antigamente, sua aparência gradativamente está mudando para pior e sua memória também já não é mais a mesma. Os cuidados com a saúde se fazem cada vez mais necessários e urgentes, a alimentação precisa ser primorosa, tudo isso para que o declínio se torne mais lento.
Todos esses processos de mudança tanto na adolescência quanto na meia- idade costumam ser vividos de maneira muito intensa e avassaladora, exigindo um grande esforço de adaptação, pois ao mesmo tempo em que se faz necessário elaborar o luto de algo, é preciso encontrar ferramentas adequadas para reagir devidamente à situação nova que está se apresentando.
Talvez a imagem que melhor caracteriza o processo de transição seja uma ponte suspensa feita de madeira e cordas. Ao tentar atravessá-la, o viajante se agarra às cordas, tentando se equilibrar. A sensação de instabilidade é absoluta. Seu deslocamento ocorre de forma titubeante e ele evita olhar para baixo, pois sabe que abaixo de si jaz o precipício.
O precipício pode ser um espaço físico ou um intervalo de tempo, onde acontecimentos importantes estão se processando, um interregno onde tudo pode acontecer, tanto de bom quanto de ruim. Enquanto se esgueira através da ponte, o viajante nem se lembra do que ficou para trás; ele está totalmente presente no aqui e agora, pois sabe que qualquer passo ou movimento em falso pode ser fatal.
Aceitar que nada mais será como d’antes e que tudo irá ficar definitivamente para trás, sendo que haverá perdas necessárias ao lado de ganhos imprevistos, são demandas e prerrogativas da jornada de quem faz a travessia.
Nada é para sempre.
Tudo se transforma.
Verdades tão doídas quanto a dor do parto.
Muitas dores agudas acompanham o processo de transição.
Acontecimentos avassaladores de toda ordem podem nos fazer experimentar uma profunda tristeza por conta daquilo que está morrendo. Por outro lado, súbitas alegrias vindas de oportunidades inesperadas, pessoas que conhecemos e que nos acenam com as mais terríveis verdades da vida, nada mais são do que arautos de um novo tempo. É fato que, na zona de transição precisamos também pagar pedágio, pois assim é quando nos deslocamos de um lugar para outro. Ascender novos degraus e fazer a escalada para novos estados de consciência nunca é de graça. Pagamos “pedágio” de uma forma ou de outra. Além disso, somos também literalmente obrigados a nos desgarrar e deixar para trás coisas que nos eram preciosas, em um compulsório exercício de desapego.
Toda atenção é pouca no caminho da nova estrada que se avizinha. Pode haver obstáculos ocultos no meio do caminho, que se não estamos cem por cento focados, isto pode trazer consequências bastante desastrosas. Desta forma, não há tempo ou espaço para chorar o que ficou para trás.
Tudo o que importa é o caminho que se apresenta.
Este caminho abre as portas para um novo recomeço. É natural que a cada recomeço as luzes sejam bruxuleantes e os passos débeis, entretanto se faz mister ter a coragem de avançar. Se não avançamos, estacionamos. Se estacionamos, morremos. Não podemos nos esquivar ao chamado da vida.
No universo só existe uma direção para a qual a Lei do Progresso nos aponta: a Evolução.