Dalí, oh Dali!!! Sim, Dalí é dali das bandas do Reino Surrealista. Um Reino que está aqui, ali e acolá, por todo o lado no nosso dia a dia, cada vez mais “sem pés nem cabeça”!
Hoje em dia tudo é surrealista!!! No sentido em que a realidade ultrapassa a própria ficção! O extra- extravagante, extraordinário, excessivo,...estão ali perto, ao lado, são vizinhos nossos! A pequena grande diferença está no sentido das coisas! A obra de Dalí está repleta de sentido, de significação múltipla, de intenções veladas e transparentes, nada tem a ver com o Non Sens, com o absurdo, com o gratuito inverosímil que acontece no nosso dia a dia! A obra de Dali é o tesouro precioso de Alibábá, mas para atingi-lo é preciso conhecer as palavras mágicas “Abre-te Sésamo”!
Isto é, será preciso estar por dentro da magia das associações simbólicas, é preciso estar atento ao contexto, aos pormenores, sentir de todas as maneiras a grande figura de estilo surrealista: a metáfora!
Dalí, ali tão perto! Basta atravessar o rio Douro para o cais de Gaia e encontrar no labirinto de ruelas estreitas as Caves do Vinho do Porto. Aí vai-se encontrar solenemente com Dali e brindar com um cálice de Rubi! Mas para isso há que sair de casa!
Sair. Sair da casca. Sair do ovo e caminhar fazendo o próprio Caminho. Não é com pantufas de trazer por casa mas com sapatos de sair à rua que o verbo caminhar faz sentido. Caminhar firme e tentando encontrar o equilíbrio. Caminhar por trilhos desconhecidos percorrendo as clareiras dos medos e das ansiedades.
Caminhar pelos caminhos já trilhados por milhões de pegadas e sentir o cheiro da carne humana na câmara da gás. Caminhar na passerelle das promessas e dos sonhos que nos levam ao altar. Caminhar na corda bamba, entre a vida e a morte, no fio da navalha, vivendo a metáfora do circo que é a sedução da vertigem e o risco da queda.
Mas não somos nós, por natureza, uns anjos caídos ???
Por vezes caminhamos ao sabor do vento, outras seguindo a Bíblia, outras ao sabor da maré. Mas quando é que fazemos como declarou José Régio, no seu Cântico Negro: “Vou por onde me guiam os meus próprios passos.” ?
Quando é que o nosso próprio eu coincide com a nossa bússola? Mesmo correndo o risco de tropeçar, de pisar o risco, de cair, de andar ao pé coxinho ou com pézinhos de lã?
Um primeiro passo, mesmo sem botas de 7 léguas, pode significar uma viagem de mil milhas! Um primeiro passo pode ser uma declaração de guerra ou um pedido de paz. Um primeiro passo pode significar sair da solidão da sua própria Rua e encontrar pela primeira vez a Cidade, que até tem torres como a bela Clérigos!!!
Um primeiro passo pode significar a matéria do sonho perdido na almofada. E se pensarmos que o Mundo é um perpétuo movimento e que até terá sido feito a dançar...não será melhor ir treinando nas nossas respectivas pistas de dança e contribuir para o Mundo girar?!