Do alto ganha plasticidade e até certa beleza visual o encontro das "águas" dos rios, negras, pútridas e fétidas, produto do aporte permanente de esgoto com as águas lagunares verde abacate, quase que impermeáveis, tamanha a densidade associada com a multiplicação de cianobactérias, microorganismos que encontram as condições ambientais ideais para sua multiplicação nessas condições de profunda insalubridade.
Some-se à esse genocídio ambiental lagunar, a chegada de toda a mistura de contaminações na praia da Barra pelo canal da Joatinga, onde boa parcela da população local, parece não mais se importar com o grau de degradação das águas nas quais se banham ou praticam esportes.
A primeira vista é um espetáculo multicolorido de degradação da cidade olímpica que apesar de investido centenas de milhões de dólares em diversos aspectos urbanísticos e de deslocamento urbano, simplesmente no quesito ambiental, esqueceu de executar as obrigações claramente apresentadas na matriz de responsabilidade olímpica.
As causas desse desastre ambiental recorrente na área que mais cresce no Rio de Janeiro, são as mesmas que detonaram a qualidade ambiental e de vida do resto da cidade, isto é, crescimento urbano desordenado e falta de saneamento universalizado.
Como já disse dezenas de vezes antes e durante as Olimpíadas para a imprensa local e internacional, a cidade do Rio de Janeiro, porta internacional do Brasil, cidade olímpica, segunda metrópole brasileira do século XXI continua vivendo na mentalidade e a realidade sanitária do século XVIII quando ainda era capital da colônia, onde rios apenas serviam como via de escoamento do esgoto produzido.
Transportados para o século XXI, a atual classe política, quase sempre ausente nas questões ambientais, vive pensando praticamente o tempo todo em duas coisas:
1. O que eu ganho de votos com isso?
2. Onde posso mais obter recursos?
Diante dessas duas questões básicas, que norteiam a vida da maioria dos políticos verde e amarelos, as respostas na prática tem se mostrado por um lado, o crescimento desordenado como uma verdadeira fábrica de votos, onde na ausência de políticas públicas de habitação e transporte sérias e permanentes, o que prevalece é a ausência de ordenação do uso do solo, onde cada morador procura dar uma solução para as suas necessidades de moradia.
Por outro lado, a questão do saneamento, assunto estratégico para qualquer sociedade civilizada, transformou-se numa fábrica de fazer dinheiro para os detentores dos serviços, geralmente até então dominadas por estatais obesas mórbidas com baixíssima qualidade de serviços prestados, onde o que o manda é dinheiro arrecadado por um serviço geralmente não prestado. No Rio de Janeiro em particular, essa ideia transformou-se numa máquina mortífera que aniquilou praticamente todas as bacias hidrográficas transformando-as em valões de esgoto sem vida contaminando lagoas e baías.
Mas afinal quem é que se importa com isso? Aparentemente muito pouca gente, visto que o processo de degradação continua atingindo em pleno século XXI toda a região metropolitana do Rio de Janeiro como demais municípios onde encontrar-se um rio sem contaminação de esgoto é um milagre.
Fato é que num sobrevôo de menos de uma hora sobre a baixada de Jacarepaguá, onde aproximadamente um milhão de cariocas vivem, mostra-se claramente o despreparo das autoridades públicas diante do desafio de gerir ambientalmente uma região metropolitana como o Rio de Janeiro que não consegue nem nos municípios ricos e muito menos nos pobres, resolver demandas infra-estruturais herdados dos últimos três séculos e que só fazem se acumular.
Infelizmente essa falta de prioridade, essa falta de responsabilidade governamental é acompanhada pela omissão e ou muitas vezes apoio de parcelas da sociedade que são diretamente atingidas pela falta de qualidade ambiental gerada por todo o processo de degradação.
Finalizando tenho de destacar que as autoridades brasileiras mentem descaradamente quando alegam a falta de recursos para as questões de natureza ambiental. Nunca faltou dinheiro para os devaneios de políticos que por aqui passaram recentemente nas esferas federal, estadual e municipal, onde apenas no estádio do Maracanã, atualmente abandonado, foram investidos exclusivamente naquela arena, um bilhão e setecentos milhões de reais, algo em torno de quinhentos milhões de dólares, dinheiro mais do que suficiente para a recuperação ambiental de todo o sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá e de sua bacia hidrográfica onde poderia se beneficiar a qualidade de vida de um milhão de habitantes.
O quadro ambiental é desolador e sem perspectivas de melhoras efetivas para os próximos anos.
Deus salve a Natureza e as futuras gerações!