O grupo Just Stop Oil tem chamado a atenção do público nos últimos anos com suas ações ousadas, especialmente em espaços culturais. Atuando no centro de um debate global sobre a mudança climática, suas manifestações incluem intervenções em museus e galerias de arte, que, apesar de controvérsias, conseguiram, ao menos, provocar discussões intensas.

O Just Stop Oil é uma organização ativista sediada no Reino Unido, conhecida por seu método de desobediência civil não violenta para protestar contra o uso de combustíveis fósseis. Fundado em 2022, o grupo tem como principal demanda o fim de novos licenciamentos e projetos de exploração de petróleo e gás naquele país. O grupo argumenta que, para se evitar uma catástrofe climática, é preciso limitar o aumento da temperatura global em 1,5 graus Celsius, um objetivo que, segundo eles, só será possível se os países ricos interromperem imediatamente a produção de combustíveis fósseis.

Desde o seu surgimento, o Just Stop Oil se tornou um dos grupos mais visíveis e polêmicos no cenário ativista, em grande parte por conta da natureza disruptiva de suas ações. Entre as suas iniciativas mais conhecidas estão aquelas que envolvem intervenções em obras de arte famosas, atraindo os holofotes da mídia global e provocando reações variadas.

As táticas do Just Stop Oil se destacam pela capacidade de gerar um impacto visual e emocional forte. Uma das formas mais recorrentes de protesto envolve lançar líquidos sobre obras de arte emblemáticas, como o caso que ocorreu em 2022, quando ativistas jogaram sopa de tomate sobre os Girassóis de Van Gogh, na National Gallery de Londres.

Essa ação e outras semelhantes, como o uso de purê de batata sobre obras de Monet, têm como alvo símbolos culturais que, segundo os ativistas, servem para chamar a atenção para a crise climática. Em todos os casos, as obras estavam protegidas por vidro, evitando danos diretos às pinturas.

Além desse tipo de intervenção, os ativistas também se colam a molduras de quadros ou às próprias galerias, dificultando a remoção e prolongando o impacto do protesto. Outras táticas incluem o bloqueio de vias públicas, a interrupção de eventos esportivos e a sabotagem de infraestruturas de combustíveis fósseis, como refinarias.

Essas táticas, ao mesmo tempo que garantem cobertura midiática, levantam questões sobre a eficácia do método. Enquanto parte do público reconhece a urgência da mensagem, muitos criticam os meios pelos quais essa mensagem é transmitida.

Os defensores do Just Stop Oil acreditam que as suas ações são uma resposta necessária à inação dos governos perante a crise climática. Para os apoiadores, a desobediência civil disruptiva tem um papel vital na luta contra o aquecimento global. Eles argumentam que, em momentos de crise extrema, métodos convencionais de protesto não são suficientes para provocar mudanças significativas.

O grupo, assim como seus apoiadores, encontra nessas ações uma maneira de romper o que consideram uma indiferença social generalizada em relação à urgência climática, tanto por parte do público quanto dos políticos e das instituições.

Um dos pontos frequentemente levantados pelos que apoiam o grupo é a necessidade de produzir impacto psicológico. As intervenções em obras de arte geram indignação e emoções intensas, tanto entre aqueles que defendem as manifestações quanto entre os críticos. Essa indignação, de acordo com os apoiadores, é o primeiro passo para criar um movimento social mais amplo, que exija uma resposta dos governos e das instituições.

Há quem defenda que essas ações ajudam a expor a hipocrisia dos governos, que, ao mesmo tempo em que fazem promessas de combate às mudanças climáticas, continuam a aprovar novos projetos de extração de combustíveis fósseis. Para os defensores do Just Stop Oil, o desconforto gerado pelos protestos é um reflexo direto da urgência do problema.

Além disso, o grupo expõe de forma incisiva a relação controversa entre grandes instituições de arte, sobretudo museus de renome, e empresas que lucram com a degradação ambiental. Essa prática, conhecida como Art Wash, ocorre quando corporações poluidoras buscam vincular sua imagem à cultura e à arte, numa tentativa de suavizar sua reputação diante do público.

Por outro lado, o Just Stop Oil também enfrenta duras críticas. Muitos argumentam que suas ações em museus e galerias alienam o público ao invés de atraí-lo para a causa. Pesquisas sugerem que, embora haja um apoio generalizado à necessidade de enfrentar a mudança climática, a maioria das pessoas se opõe às táticas do grupo. Os críticos afirmam que as intervenções em obras de arte não têm uma relação direta com a crise ambiental e que essas ações, acabam prejudicando o movimento climático.

Outra crítica comum diz respeito à eficácia das táticas. Há quem argumente que atos simbólicos em museus dificilmente provocarão mudanças políticas concretas, sendo mais eficazes ações diretas contra a infraestrutura de combustíveis fósseis, como bloquear oleodutos ou sabotar equipamentos. Esses críticos consideram que as ações do grupo focam em ganhar atenção da mídia ao invés de promover soluções tangíveis para a crise.

Além disso, existe uma preocupação com o risco de dano cultural. Embora o grupo assegure que suas ações são cuidadosamente planejadas para evitar danos às obras, o simples fato de usarem obras de arte como parte de suas manifestações cria um precedente perigoso. Há também a questão do foco: críticos apontam que o grupo não oferece um plano claro para a transição energética e parece desconsiderar questões de justiça social relacionadas à substituição dos combustíveis fósseis.

A opinião pública sobre o Just Stop Oil é notoriamente dividida. Enquanto há um reconhecimento generalizado da importância da causa, o método usado pelo grupo provoca reações mistas. Algumas pesquisas indicam que o público, especialmente no Reino Unido, tende a desaprovar as ações mais extremas, embora muitos concordem com a mensagem de urgência climática.

Os resultados dessa divisão são ambíguos. Em alguns casos, as ações do Just Stop Oil resultaram em um aumento marginal de engajamento no ativismo ambiental. No entanto, muitos observadores sugerem que as táticas do grupo podem criar um efeito contrário, afastando o público que, em outras circunstâncias, poderia apoiar a causa. A combinação de táticas extremas e a cobertura midiática, muitas vezes enviesada, contribui para a incerteza sobre o verdadeiro impacto do grupo na opinião pública.

A influência do Just Stop Oil não se limita às fronteiras do Reino Unido. O grupo faz parte da rede A22, uma aliança de organizações ativistas que compartilham táticas disruptivas em prol do meio ambiente. A rede A22 inclui grupos como o Letzte Generation, na Alemanha, e o Ultima Generazione, na Itália, ambos conhecidos por realizarem ações semelhantes às do Just Stop Oil, incluindo intervenções em obras de arte.

A expansão dessas táticas para outros países demonstra o poder de influência do movimento. Além da Europa, incidentes semelhantes ocorreram na Austrália e no Canadá, mostrando que o modelo de protesto adotado pelo Just Stop Oil está se disseminando globalmente. A rede A22, apoiada pelo Climate Emergency Fund, continua a financiar ações de desobediência civil ao redor do mundo, consolidando o uso de táticas disruptivas como parte central do ativismo climático moderno.

Grupos como o Futuro Vegetal, na Espanha, e o Scientist Rebellion, internacionalmente, também adotaram métodos semelhantes, o que demonstra o quanto as ações do Just Stop Oil têm ressoado no meio ativista. Vale notar que estas ações parecem reverberar com mais intensidade nos países desenvolvidos. Na América Latina, por exemplo, questões de ordem econômica possuem um apelo maior entre os ativistas.

O Just Stop Oil representa um movimento que desafia as normas tradicionais de ativismo ao utilizar métodos provocativos e visualmente impactantes. Suas táticas geram discussões acaloradas sobre os limites do protesto civil e a eficácia dessas ações na luta contra a mudança climática. Para alguns, o grupo personifica a urgência da crise ambiental; para outros, suas ações representam uma forma de alienar o público ao invés de unir esforços em prol de soluções sustentáveis.

Independentemente das opiniões sobre seus métodos, o Just Stop Oil conseguiu algo que muitos movimentos não alcançam: manter a crise climática nas manchetes globais. À medida que o debate sobre a melhor forma de lidar com o aquecimento global continua, o legado do grupo, bem como sua influência sobre outros movimentos, ainda será analisado por muitos anos.