É frequente se procurar psicoterapias para remoção de sintomas, para resolução de problemas que se considara causados pela família, pelos relacionamentos, pelo trabalho, pela sociedade, sempre pensando que se tem problemas e nunca que se é o problema ou que as problemáticas são constituintes de seu estar-no-mundo enquanto atitudes, enquanto comportamentos.
Sempre que se busca solução de alguma coisa, isto pode ser feito dedicando-se aos dados, ou seja, às estruturas problemáticas ou afastando-se das mesmas na tentativa de esclarecê-las.
Detendo-se, dedicando-se ao problema se consegue percebê-lo em sua totalidade constitutiva, consequentemente, a resolução é alcançada. Buscar outros contextos para solução de problemas dificulta e ainda cria ilusões, distorções, que levam a perceber soluções onde elas não existem.
Para solucionar é preciso problematizar. O questionamento à própria estrutura do problema gera sua solução, mas, frequentemente os questionamentos são feitos a outras estruturas, considerando-as solucionadoras. Na educação de filhos é frequente esta distorção; acredita-se que mudando as amizades, criando novos interesses, muda-se o comportamento inaceitável do filho, sem perceber que as motivações comportamentais do mesmo, resultam de frustrações, medos e não aceitações de si, gerando suas escolhas e propósitos. Na sociedade, um dos grandes erros da humanidade foi buscar soluções dos problemas individuais na esfera coletiva.
Não é o todo que determina as partes, é a relação da totalidade com suas imanências e aderências, que as configuram. Quando se pensou em resolver o problema da necessidade de alimento, criou-se a propriedade; o público e o privado transformou a parte - ‘alimento’ - em tesouro fundamental – totalidade - convergência a partir da qual todas as divisões foram estabelecidas: donos dos alimentos, alimentos sem dono e os sem alimentos, por exemplo.
Quando as percepções mudam, novas configurações surgem e este processo infinito possibilita determinação, solução e problematização. Nas crises cotidianas, nos dilemas existenciais, aceitar que se é o problema é o início de uma mudança. O indivíduo começa a se responsabilizar por suas problemáticas, se incomodando, percebendo o desagradável de sua aparentemente confortável alienação. Quanto mais se insistir que se está sendo atacado, alvejado por problemas, mais dificuldades surgem, desde que a antropomorfização do problema - pensar que ele existe independente de si - é uma divisão um deslocamento fragmentador. Da divisão inicial - eu e o problema - chega-se a uma multiplicidade dos mesmos. O indivíduo dividido, fragmentado, pontualizado transforma a vida em uma busca de objetivos: consertar o erro, mudar o que atrapalha etc.
Sempre que se busca resolver problemas fora da situação que os engendrou, se candidata a soluções impossíveis, a problemas nunca resolvidos. E assim, a maneira de perceber e reagir a estas situações é dizendo que a vida é assim mesmo, as coisas não se resolvem sempre. Esta conformação é a distorção que conduz a rastejamentos, humilhações, perda de disponibilidade, busca eterna de salvadores. As dependências e oportunismos são alimentadas nestes padrões distorcidos.