Muitas vezes falamos ou ouvimos que estamos sendo desafiados ou nos desafiamos, vamos ao encontro ou somos impactados por situações, assuntos e pessoas que nos fazem buscar forças e encontrar saídas das quais nem tínhamos consciência que viveríamos. E assim, vamos desvendar aqui o que isso significa.
Há assuntos que nos perseguem, exigindo de nós uma postura ou comportamento que claramente nunca ouvimos falar, ou ninguém nos contou, mas que precisamos estudar, conhecer, analisar e saber resolver. Da mesma forma, ao iniciarmos um novo trabalho que nos envolva e nos faça sentir pertencentes, ainda assim a cadeira na qual sentamos é sempre maior ou menor que o próprio ocupante, pois mesmo que tenhamos habilidade ou domínio do assunto, ou um caminho de desenvolvimento a percorrer, podemos não conhecer a cultura, algum ponto técnico ou de comportamento, ou mesmo os clientes, e assim sempre há desafios.
Ao mudarmos para um novo lugar, encontramos estradas pelas quais nunca caminhamos, pessoas com as quais passamos a conviver diariamente sem sequer termos noção de sua história, e assim vamos nos adaptando, encontrando lugares, ocupando espaços, construindo novos contatos, participando de novos grupos e valores, e isso exige trabalho.
Da mesma forma, na vida pessoal, ao encontrarmos alguém com quem caminhar lado a lado, não há receita, nada que já tenha acontecido com outra pessoa será igual ao que viveremos, e, portanto, são experiências únicas tanto para o bem quanto para o não tão bom. De antemão, sabemos que ter alguém compartilhando tudo o tempo todo é insuportavelmente bom e árduo, na maioria das vezes inconstante, irregular, cheio de altos e baixos e com adversidades devido às próprias diferenças. E isso por si só já é intenso. Quando pensamos que tudo está resolvido ou dominado, é justamente aí que somos chamados a novos aprendizados, e nesse sentido precisamos correr contra o tempo, evitando atitudes repetitivas, retóricas cansadas e modelos pré-moldados. Quão desafiadoras podem ser todas essas situações.
De onde vem esse conhecimento que nos leva para um lado e não para o outro, acertadamente ou não? Seria nossa própria vontade persistente de seguir em frente, de explorar, de abrir caminho para aquilo que ainda não está claro, e então nos colocarmos a trabalhar em prol de resoluções?
Será mesmo que temos que passar por isso o tempo todo, como num pulsar enlouquecido que faz nosso estômago ser tomado por um pêndulo vertical que sobe e desce, nossa pupila aumentar e a cabeça girar, num tipo de alerta permanente? E como estamos ou estaremos preparados para lidar com tudo isso, que habilidades, maturidade ou estrutura de personalidade vamos adotando em tempos de enfrentamento? Este é um momento de silenciar e buscar respostas internas, pois de fora e aleatoriamente, quase nada tem vindo. Confesso que tenho a leve impressão de que nos tempos atuais os ensinamentos são superficiais ou há uma dificuldade imensa em acessar o valioso.
Caso não haja um repertório interno para enfrentar os desafios, vale a pena pedir ajuda específica. Sobre isso, tenho sempre repetido: peça ajuda profissional, técnica ou algum tipo de orientação, pois você não é sábio, forte ou corajoso o tempo todo. E para isso, é necessário ter vontade de aprofundar suas próprias incertezas.
Será válido mudar de ideia e ficar bem quietinho embaixo da coberta? Talvez procrastinar. Penso que é importante parar e refletir se esse nível de desafio que estamos inventando ao longo da vida nos leva a algum lugar ou estágio que exige alguma ação, comunicação ou movimento. Caso contrário, deixe que o tempo se encarregue, pois nem sempre depende de nós.
Que desafio é esse que não nos deixa aquietar a cabeça e o coração? Quão destemidos somos em tempo integral para absorver tudo isso? Sempre ouvimos "vá com medo mesmo!". E eu respondo: o medo muitas vezes nos torna seguros e protegidos. Nem sempre podemos avançar e ver o que acontece pelo caminho, correndo o risco de chegar ao precipício. É válido nos afastarmos por alguns minutos da situação e observar o todo sem perder os detalhes de vista.
Como dizia o sábio Dr. Paulo Gaudêncio, psiquiatra com décadas de experiência desvendando as complexidades do comportamento humano, já não mais entre nós: saber discernir o que é "labirinto" e o que é "terremoto". O que é meu e sobre o qual tenho controle para resolver, e o que é externo e sobre o qual não tenho controle. Essa diferença é crucial para que não criemos monstros e fantasias inadequadas que nos apavoram e culpam. Da mesma forma, é essencial agir em tempo real, sem suprimir ou subestimar, dando a devida atenção ao que podemos influenciar.
Seguimos em um trabalho constante, aprimorando nossas próprias escolhas, buscando ter total domínio e autonomia sobre aquilo que não só intuímos, mas também definimos.