Van Gogh deixou-nos fisicamente há 135 anos, mas visita frequentemente a nossa memória nas alas do belo, do sublime, do impressionante colorido diurno e noturno...

Van Gogh via no céu noturno e nas estrelas uma fonte de inspiração e consolo. Ele estava particularmente interessado na expressão visual das emoções e ideias através da natureza, e o céu estrelado oferecia uma oportunidade para explorar temas de infinito, esperança e a conexão entre a terra e o cosmos.

A Noite Estrelada é uma das mais conhecidas pinturas do artista holandês pós-impressionista Vincent van Gogh. Esta obra-prima retrata a vista do lado de fora da janela do sanatório (Saint-Remy, na França) em que o artista optou por entrar.

É interessante notar que nada na paisagem retratada combina com a área em torno de Saint-Remy ou com a vista de sua janela. Como um homem que frequentemente pintava o que via, essa obra é uma ruptura marcante em seu trabalho.

Sim, há que conhecer os locais ícónicos por onde passou e pintou Van Gogh: S. Rémy-de Provence e Arles.

Chegados a Arles só conseguimos imaginar a casa amarela onde viveu o artista, pois desta nada resta, a não ser o local onde foi construída e onde conviveu com o pintor Gaugin. Também em Arles, o nosso coração fica partido ao ver que o Café do artista, onde passava largos serões, fechou... enfim, em Arles o nosso imaginário do pintor fica agarrado à paisagem que se tem dos belos campos de girassóis e do belo quadro: o vaso de girassóis que pintou em Arles. No entanto, não se pode deixar a cidade sem provar os deliciosos Calissons, uma espécie de bombons típicos!

A contrastar temos o local onde Van Gogh pintou A noite estrelada e outros quadros célebres: em Saint-Rémy-de-Provence, junto aos restos da cidade romana de Glanum. Do lado de fora do sanatório (onde atualmente pode ser visitado o quarto onde ele morava e comtemplar os pinceis com que pintava...) encontramos as oliveiras, que lhe serviram de inspiração para pintar obras como Alpilles com oliveiras em primeiro plano, Olivo. Ficamos encantados com os campos da famosa lavanda e com a escultura a celebrar o pintor nos lindos jardins de S. Rémy onde, decerto, a inspiração era fácil de encontrar... para além dos campos de girassois a perder de vista que fazem entrar, de novo, nas suas telas...

S. Rémy é igualmente reconhecida pela mística e pelo mistério pois lá nasceu Nostradamus em 1503 e por lá morou a família do Marquês de Sade... mas é decisivamente Van Gogh que reconhecemos, cada vez que ao longo de uma autêntica Via Sacra, nos são fornecidas pistas reais e adoráveis sobre os seus quadros!

Esta é uma viagem para quem é sensível à Arte, às suas várias facetas...para quem gosta de sentir as camadas do tempo nas ruas, nas obras arquitectónicas, nos Menus dos restaurantes...para quem gosta dos diversos perfumes da vida!

Van Gogh é um fascinante Guia para paisagens simbólicas dos nossos estados de alma; para nos conduzir ao profundo abismo de nós e ao mais espiritual cume; revolve o nosso pensamento e causa um turbilhão de inquietações e...

O pintor também se dedicou à criação de auto-retratos que lhe permitiram explorar, não só a sua personalidade, mas também o desenvolvimento desta dita linguagem tão conhecida nas suas obras. A sua pintura revela uma nova perspectiva em relação ao homem e à natureza, e que o torna peculiar, devido a uma visão única sobre o que o rodeava.

Todavia, o que marca a genialidade de Vicent Van Gogh é a sua forma diferenciada de pintar. Uma de suas marcas são suas pinceladas marcantes usando grossas camadas de tinta com círculos, curvas e espirais. Essa forma peculiar de pintar torna a pintura mais vibrante e repleta de movimento. Uma pincelada e uma cor que permitem uma maior profundidade emocional e psicológica nos seus quadros.

A frase em que Nietzsche afirma que o rosto humano é "o espelho da alma" parece estar "espelhada" nos auto-retratos do pintor.

Ele foi um dos artistas que mais se debruçou sobre a sua própria imagem, (entre 1886 e 1889 pintou mais de 30 auto-retratos), estudando-a, reproduzindo-a, mostrando através dela não só o seu declínio psicológico, mas também a sua técnica.

Há ainda a salientar que Van Gogh não tinha dinheiro para pagar a modelos para posar, por isso pintava-se, tendo como objectivo desenvolver a sua técnica e as suas competências como artista. Numa das muitas cartas que escreveu ao seu irmão Theo afirmou: "Eu comprei, de propósito, um espelho suficientemente bom que me permita trabalhar, na falta de um modelo, a partir da minha imagem. Porque se eu conseguir pintar o meu retrato,o que não deve ser feito sem alguma dificuldade, devo ser igualmente capaz de pintar os donos de outras boas almas, homens e mulheres".

Usou assim o seu próprio reflexo, encontrando uma forma prática e acessível de pintar retratos, legando-nos uma autobiografia visual artística que nos interpela a cada instante, como se fosse uma galeria de espelhos!