Quem já visitou Inhotim, na cidade de Brumadinho, no estado de Minas Gerais, com certeza visitou um pavilhão icônico que tem seu edifício apresentado como um gigante bloco de concreto maciço que parece levitar e quase pousa em um grande espelho d’água. Visto de frente, esse pavilhão tem essa sensação descrita anteriormente; se o visitante o acessa pela outra entrada, a sensação é totalmente diferente: uma laje na cobertura do bloco de concreto é vista e acessada por uma passarela. Essa obra arquitetônica foi concebida pelo escritório Tacoa Arquitetos para abrigar as obras de arte da artista plástica Adriana Varejão. Internamente, o edifício conta com dois níveis acessados em forma de espiral para uma completa experiência com a obra da artista.

Adriana Varejão nasceu no Rio de Janeiro, em 1964, e primeiramente optou por seguir carreira em arte, inscrevendo-se em cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Quando já estudava arte, Adriana visitou a cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, e conheceu mais sobre o estilo barroco, este que se tornou uma grande referência em suas obras, sendo representado na lógica em suas composições e no preenchimento de telas. Na década de 90, Varejão se utilizou mais do desenho em sua composição artística, usando como tema a iconografia colonial, a antropofagia e a azulejaria portuguesa. Porém, apesar do uso de temas da colônia, as cenas retratadas pela artista invertem a representação clássica, colocando indígenas ensinando antropofagia. Além disso, Adriana cria fissuras nessas imagens, remetendo à carne dos corpos representados. Sobre seu processo de reconhecimento como artista, Varejão disse em uma entrevista:

Não pensava se conseguiria ou não viver da própria arte. Eu estava vivendo, fazendo as coisas, descobrindo a minha linguagem. Não estava preocupada se ia ou não expor, quanto ia ganhar, qual ia ser meu galerista. Falo para os estudantes isso quando vou dar palestras. Vejo as pessoas muito preocupadas com o resultado. Não é por aí. É preciso apenas encontrar sua voz. E achar a tal linguagem, de acordo com ela, nunca é fácil. É muito sofrimento. Cada vez que você olha uma tela em branco acredita piamente que não vai ter mais ideias, que vai ficar bloqueada. O processo de criação é dolorido.

Em 1988, Adriana Varejão realizou sua primeira exposição individual na Galeria Thomas Cohn, em São Paulo, e, após isso, expôs em diversos locais no país, como a Bienal de São Paulo, e fora do Brasil, como o MoMa de Nova York, até a grande inauguração da Galeria Adriana Varejão, em Inhotim, em 2008. Em 2017, a artista se envolveu em uma polêmica devido à interpretação de uma de suas obras da exposição Queermuseu, organizada pela Fundação Santander Cultural, na cidade de Porto Alegre. A obra em questão é a de título Cena Interior II, que foi criticada e acusada de apologia à zoofilia, e a pressão popular fez com que a exposição encerrasse antes da data prevista. Mesmo que a obra tenha sido entendida pelos críticos, a pressão da sociedade acabou gerando o fim. Sobre esse episódio, na época, Adriana Varejão fez a seguinte declaração:

Esta é uma obra adulta feita para adultos. A pintura é uma compilação de práticas sexuais existentes, algumas históricas (como as shungas, clássicas imagens eróticas da arte popular japonesa) e outras baseadas em narrativas literárias ou coletadas em viagens pelo Brasil. O trabalho não visa julgar essas práticas. Como artista, apenas busco jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas. É um aspecto do meu trabalho, a reflexão adulta.

Adriana Varejão é uma artista premiada, tendo recebido alguns prêmios como o Grande Prêmio da Crítica, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), e o Prêmio Mario Pedrosa (artista de linguagem contemporânea), da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).

Quem conhece ou já teve contato com a obra de Adriana Varejão pode ter percebido a influência dos azulejos coloniais, brancos e azuis, e esses são elementos frequentes em suas obras e o que mais me marcou ao visitar sua galeria em Inhotim, assim como a referência à carne e aos cortes.

Adriana Varejão é uma das artistas contemporâneas brasileiras com grande destaque mundial, e sua obra tem o poder de escandalizar e conquistar o espectador, ganhando cada vez mais destaque no cenário artístico.