O que é arte para você? Com certeza não é o mesmo que para mim. O fato é que definir o que é arte é totalmente subjetivo e até mesmo complexo, pois essa definição pode variar muito a depender de contextos diversos, como culturais, históricos e individuais. O que é considerado arte em uma cultura ou época pode não ser em outra. Mas, como bem ponderou Leon Tolstói, "A arte é um dos meios que une os homens" e pode ser vista como qualquer forma de manifestação criativa e estética, onde se transmitem ideias, emoções, percepções ou visões de mundo.
Englobando as artes plásticas como pintura e escultura, entre outros tipos de expressões artísticas como música, literatura, dança e teatro, a arte muitas vezes pode ser também definida pela relação criada entre a obra e o espectador. Ou seja, o que ela provoca! E pode ser uma reação emocional, intelectual ou estética. A interpretação do que é arte pode variar de pessoa para pessoa e a intenção por trás da criação também define arte. Se o criador tem a intenção de comunicar algo mais profundo ou de explorar novos conceitos e estéticas, isso pode ser considerado arte.
Arte também é definida pelo seu contexto cultural e histórico. O contexto pode influenciar a maneira como a arte é recebida e avaliada. Embora tradicionalmente a arte seja separada da funcionalidade prática, muitas formas de arte possuem uma utilidade além da pura estética, como o design, a arquitetura e até a culinária. A arte frequentemente se correlaciona com originalidade e inovação. Criações que introduzem novas formas de ver ou interpretar o mundo muitas vezes são celebradas como arte.
No fim, a definição de arte é fluida e aberta à interpretação. É um campo onde a subjetividade é central, e onde as definições podem e provavelmente mudarão com o tempo e o contexto cultural. Marcel Duchamp diria que "A arte é a única forma de atividade por meio da qual o homem se manifesta como verdadeiro indivíduo".
Na direção de toda a reflexão sobre o que é arte, é possível dizer que tudo pode eventualmente se transformar em uma obra. E é nesse contexto que falaremos de Scott Blake. Ele é um artista contemporâneo que se tornou conhecido no mundo artístico por sua obra inovadora que utiliza códigos de barras como expressão de arte. Códigos de barras convencionais, aqueles que normalmente são utilizados para rastreamento de produtos e facilitação do comércio, como consulta de preços no mercado, por exemplo, são transformados através de seu trabalho em peças de arte visualmente impactantes.
Seu trabalho, que visualmente desafia a percepção comum de códigos de barras como meros identificadores, também nos propõe explorar temas mais profundos relacionados à sociedade de consumo, identidade e tecnologia. Por exemplo, o uso de códigos de barras por Blake pode ser facilmente interpretado como uma crítica e uma exploração das questões de consumo em massa e da cultura de mercantilização. Os códigos de barras podem simbolizar a maneira como pessoas e objetos são sistematicamente categorizados e comercializados.
Atualmente com 42 anos, Scott nasceu na Flórida e é Bacharel em Belas Artes pela Savannah College of Art and Design. Embora seja mais reconhecido por sua arte baseada em códigos de barras, Blake traz em sua obra trabalhos que podem ser descritos como provocativos, espirituosos, divertidos, eróticos e bem-humorados. É possível ver alguns de seus processos criativos em seu canal do YouTube.
A técnica desenvolvida para a criação de imagens a partir de códigos de barras surgiu da sua admiração por ilusões de ótica e pelo processo gráfico Pontos Ben-Day ou Retículas, similar ao Pontilhismo. Em seus projetos, Blake usa códigos de barras encontrados em produtos de todo o mundo para fazer retratos de pessoas célebres. Além disso, ainda cria uma interação entre o público e suas obras. No rosto de Elvis, por exemplo, quando se escaneia um dos códigos que formam a imagem, ela toca uma música ou mostra um clipe no YouTube.
É possível encontrar no trabalho de Blake uma possível inspiração em Roy Fox Lichtenstein. Roy foi um pintor americano conhecido por seu trabalho na Pop Art, que focou em transformar os clichês das histórias em quadrinhos em forma de arte, posicionando-se dentro de um movimento que buscava criticar a cultura de massa. A ligação seria o “padrão de pontos”, fortemente utilizado na Pop Art. Ainda se tratando de inspiração, nessa palestra para TEDx, Scott conta, de forma bem-humorada, a história de como ele foi inspirado por um artista de codinome Chuck Close e como criou um filtro artístico com base nesse artista, mas acabou tendo problemas com “acusações de plágio”, o que o levou a refletir sobre questões tais como "quem é o dono dos conceitos, quem é o dono das técnicas e, em última análise, quem é o dono da arte".
Apesar de ser esse o trabalho que o tornou mais conhecido, em tradução livre da sua biografia no LinkedIn, Scott se autodenomina um “artista frívolo”, que ultrapassa fronteiras conceituais e visuais para fazer um trabalho que é tão instigante quanto divertido e irônico. E de sucesso, podemos dizer, afinal, o artista já exibiu suas obras em cidades como Londres, Paris, São Francisco, Viena e várias outras. Scott já criou retratos de Madonna, Bill Gates, Bruce Lee, Martha Stewart, Oprah Winfrey, Warren Buffet, Arnold Schwarzenegger, Andy Warhol e Marilyn Monroe, além de outras personalidades icônicas. O trabalho do artista envolve um meticuloso processo de selecionar e organizar os códigos de barras para criar imagens detalhadas. Ele manipula digitalmente os códigos para obter a forma e escala desejadas em suas composições finais.
Seus projetos de arte de códigos de barras foram apresentados em importantes publicações como The New York Times, Wall Street Journal, Huffington Post, FHM e a revista Adbusters. Além disso, ele foi entrevistado por ABC World News Tonight, Boing Boing e Tech TV. Seu trabalho recebeu reconhecimento dos desenvolvedores do Photoshop no Adobe Design Achievement Awards, realizado no Museu Guggenheim em Nova York. Blake foi contratado para criar peças de arte personalizadas para a atriz Jane Fonda e para o parque temático Universal Studios. Suas obras já foram expostas em diversas galerias e seu trabalho citado por sites, jornais e revistas como The New York Times, FHM (For Him Magazine) e Adbusters. Tudo isso pode ser acompanhado em seu site, que não é tão atualizado, mas tem um histórico bem interessante de todo o seu trabalho.
Scott Blake ganhou essa notoriedade por criar retratos de figuras famosas (celebridades, músicos, ativistas) usando exclusivamente códigos de barras, mas além das peças físicas, Blake desenvolveu projetos digitais e interativos, inclusive aplicativos onde as pessoas podem criar seus próprios retratos de códigos de barras. Cada linha e espaço em seus retratos são compostos de códigos que, quando vistos de longe, formam uma imagem reconhecível. É notável que a decisão de utilizar códigos de barras em suas obras mostra o lado criativo, inovador e moderno do artista que, apesar da formação clássica, observou as tendências em seu meio de atuação e foi inovador em sua proposta artística, deixando sua marca no mundo das artes. Seu trabalho também contribui para a discussão sobre a fusão de arte e tecnologia, mostrando que a arte digital pode ter profundidade emocional e intelectual tanto quanto a arte tradicional, e suas obras podem ser celebradas e valorizadas por sua originalidade e pela capacidade de transformar algo tão mundano e utilitário em peças de arte significativas e reflexivas. Atemporal, eu diria.