Me lembro de na infância ser fortemente influenciada pelos contos de fadas e filmes de princesas da Disney. Não necessariamente pelas princesas mas pela característica envolvente que as animações transmitiam. Aquela atmosfera de sonhos, encantamento e beleza que em grande parte das vezes me levava a viajar nas asas da minha imaginação infantil.

Desde então eu tenho apreço por tudo aquilo que parece etéreo, delicado, adorável… E recentemente me veio à memória o trabalho de uma fotógrafa russa que tive o prazer de conhecer há uns bons dez anos e que me remetia exatamente essa sensação de ser transportada para um sonho: a talentosa Katerina Plotnikova. "Os sonhos sempre foram a principal motivação para absolutamente todas as gerações de pessoas, e para mim também. Os sonhos são nossas pistas. Sem eles, a vida seria uma rotina."

Para quem não tem ideia de quem estou falando, Katerina Plotnikova é uma fotógrafa russa reconhecida por suas fotografias surreais e etéreas que frequentemente retratam a relação harmoniosa entre humanos e a natureza. Seu trabalho é simples, mas muito deslumbrante, com uma boa utilização de luz, cor e ambiente, além da sensível captura de expressões completamente naturais de suas modelos em cada uma de suas fotografias. Conhecida por capturar momentos que parecem saídos de uma fantasia, ela explora o contraste entre a fragilidade humana e a grandiosidade dos animais selvagens.

Os cenários idealizados por Plotnikova são ricos em detalhes que povoam nosso imaginário, tais quais nossos sonhos infantis e o ambiente de conto de fadas do universo criado por ela poderia ser o ponto de destaque de seus trabalhos, mas citar apenas isso seria cair na obviedade.

Apesar de modelos, tais quais as princesas dos contos que tanto conhecemos, em sua grande maioria serem de pele clara, cabelos loiros ou ruivos e olhos azuis; intencionalmente ou não, essas tonalidades acabam sendo de alto contraste ou praticamente camuflam as modelos dentro do ambiente fotografado. Sua estética é suave, com tons pastéis e uma iluminação que dá às imagens uma sensação de serenidade e sonho. De toda forma, o que mais me chamou a atenção não foram as modelos humanas, mas sim os reais protagonistas de seus ensaios. Afinal, como olhar o magnífico trabalho dessa fotógrafa sem fixar a atenção nos animais “modelos” de suas composições?

Todos os animais das fotos são reais e ela trabalha com adestradores profissionais para garantir a segurança de seus modelos e dos animais. São ursos, cobras, tigres, raposas, guaxinins, elefantes, entre outros animais de pequeno ou grande porte e em geral, todos treinados; vivos e ali, posando como se sempre tivessem feito aquilo. É interessante notar como as composições se tornam extremamente surreais exatamente pela presença tão magnífica desses seres. Sobre como gostaria que seu trabalho tivesse impacto ou trouxesse inspiração para as pessoas, ela diz:

Eu adoraria que qualquer pessoa que veja meu trabalho entenda que, embora o mundo tenha se afastado cada vez mais da natureza, ainda precisamos encontrar um equilíbrio. Devemos sempre lembrar que a natureza é primordial e que os animais são nossos amigos, não nossa comida. Eu não sou vegetariana estrita, como peixe, mas não como carne há vários anos. Acredito que cada pessoa deve tomar essas decisões por si mesma, mas gostaria de mostrar que uma raposa não é um casaco de pele, e sim uma amiga.

Toda essa conexão que ela claramente tem com a natureza demonstra porque suas fotos transmitem tamanha afinidade entre as modelos e os animais. Pois mesmo que em grande parte sejam animais criados em cativeiro, ainda assim, essa ligação, o carinho implícito, a calmaria e a leveza transmitida por essas imagens levam a gente para uma outra dimensão. E aqui poderíamos sim fazer uma ligação com os contos de fadas, já que neles a amizade entre animais e humanos é quase sempre presente. Onde os animais são falantes e criam vínculos de extrema amizade com as pessoas. Pra mim, ver as fotografias de Katerina é de certa forma um resgate dessa inocência da infância, quando eu acreditava ser capaz de qualquer coisa, até mesmo de abraçar um urso amigo.

De toda forma, é importante considerar que para além da mágica que seu trabalho transmite, Katerina é mais induzida a focar na realidade do dia a dia do que exatamente pela magia dos contos. “A forma me inspira mais do que os contos de fadas. Eu encontro inspiração nos lugares mais inesperados”.

Pesquisando mais sobre o trabalho de Katerina encontrei uma antiga entrevista sua em que diz que a arte fez parte da sua vida desde a mais tenra idade. “Eu estive envolvida com pintura durante toda a minha vida. Quando tinha cerca de seis ou sete anos, comecei a ter aulas de pintura. Mais tarde, entrei em uma universidade com especialização em design publicitário, onde fui introduzida ao mundo da fotografia. Era parte do currículo. Foi aí que tudo começou. Toda a minha paixão pela pintura, todos os anos de formação em arte acadêmica — tudo isso me ajudou a descobrir um novo estado de arte — a fotografia, que ainda é muito presente na minha vida até hoje.”

Apesar da forte surrealidade presente em grande parte de suas fotografias, também podemos ver algumas em que ela optou pela naturalidade, como os retratos onde as modelos apenas encenam delicadamente com os animais. “Apenas que, neste trabalho, deve sempre haver espaço para criatividade e brincadeira. Uma das partes mais importantes de uma foto é o clima que ela transmite, e isso não pode ser previsto. Nada pode ser previsto de antemão, caso contrário o resultado não será sincero.

Se uma foto não tiver uma emoção verdadeira, ninguém acreditará nela, nem mesmo o próprio artista.” (...) “Eu sou inspirada pela natureza. Algumas paisagens são tão inspiradoras que você simplesmente quer voar.”