O contexto atual está completamente imerso no mundo digital. Como uma das principais características do fenômeno da globalização, iniciado na década de 90, tem como principal característica destacar uma economia (desde o final da Segunda Grande Guerra, 1945, a dos Estados Unidos da América), como sendo a dominante.

Mesmo assim, no decorrer do presente século, sobretudo, com as constantes variações cambiais no dólar americano, tem se assistido a uma mudança de cenário, com ascensão de economias asiáticas, sobretudo a da China. Em termos culturais, a presença das artes mundo afora é mais apreciada no contexto atual, haja vista a repercussão de músicas, artes imagéticas (pintura, escultura), literatura, além de estruturas visando a preservação artística como legado (exposições, museus). No contexto brasileiro, apesar da miscelânea cultural existente que distingue o país (expressões locais- gírias, costumes- alimentação, vestimenta, hábitos culturais, entre outros), vê-se maior dificuldade na projeção abrangente.

Excetuando-se o carnaval que, ao longo dos meses de janeiro e fevereiro ganham espaço sobretudo em razão do apoio midiático de grandes emissoras (Globo, Band), as riquezas culturais de nosso país permanecem omissas aos conterrâneos de cada região. Nesse sentido, visando significativas mudanças nesse panorama, de que maneira as mídias digitais podem contribuir para o enriquecimento cultural do Brasil? Em que sentido a arte no século XXI pode ressignificar a imagem nacional (política, cultural e social)? São perguntas que são objeto do presente estudo.

Mídias digitais: ferramentas de inclusão

As mídias digitais, graças ao poder globalizante da internet, se transformaram em eficientes ferramentas de inclusão. Sua propriedade educativa, por exemplo, que possibilita a educação através da consulta de trabalhos especializados tendo o Google como acervo (Google acadêmico é o portal especializado nesse tipo de ajuda), contribui não apenas com excelência em conteúdo, mas com a facilidade, economizando tempo e dificuldades burocráticas (liberação de arquivos para uso em pesquisa).

É importante salientar, contudo, que ao mesmo tempo em que contribui com a facilidade no acesso à informação, não há filtros qualificadores de conteúdos, no sentido de evitar que determinadas informações presentes na web possam estar desatualizadas e, portanto, serem desmentidas com uma pesquisa levada mais a sério. Mesmo assim, os benefícios são mais visíveis do que os malefícios, desde que haja sabedoria na utilização.

No entanto, o contexto brasileiro ainda está longe de acenar uma inclusão social que permita o total acesso aos benefícios das mídias digitais. E, depois de atingido, a qualidade educacional de então também não qualifica o estudante brasileiro como um “consumidor apto” em fazer bom uso das informações encontradas.

Sendo assim, para além de uma melhoria social para garantir o acesso à internet, será preciso uma revisão metodológica de ensino à pesquisa, sobretudo, por exemplo, ao não incentivo do uso de páginas de livre acesso (Wikipédia, Brasil Escola, etc.) em pesquisas acadêmicas.

O que é arte no século XXI?

Muito atrelado ao cinema, considerado a sétima arte, segundo Ivam Cabral:

O nosso curto tempo ‘livre’ é explorado pelo mercado, como um dos segmentos mais lucrativos dos tempos modernos. Nossas atividades vão do turismo (hotéis, aviões, guias, Disneylândia e tudo o mais) à leitura (e o mercado editorial), passando pela música (e a poderosa indústria fonográfica), pelo cinema e pelo teatro. Holywood é uma das mais bem estruturadas manifestações da indústria cultural. (...) Essa indústria do entretenimento, ao mesmo tempo em que se curva ao Senhor Consumidor e banaliza seu produto, a fim de torná-lo acessível a um público maior, cria uma geração de seres humanos anestesiados, incapazes de uma experiência profunda e transformadora.

Nesse sentido, a própria liberdade de tempo tão restrita em nosso contexto, é tida pela indústria cultural como oportunidade para se fazer negócio. O próprio ocium do ser humano, ou seja, seu lazer, reservado às “banalidades” alheias à rotina, tornou-se passível de precificação (quando a família usufrui de espaços privados, shoppings, cinema, teatros, shows musicais).

A arte no presente século possui, portanto, um perfil visual, interativo, mas nem por isso, em alguns casos, educativo. Uma vez que é utilizada como meio de interação, nos momentos reservados ao repouso, desvincula-se dela, portanto, sua missão educadora.

Ressignificação da arte: unidade nacional

Segundo Juca Ferreira:

A sociedade brasileira tem uma dificuldade enorme de entender a importância da cultura e de entendê-la como direito, apesar de termos avançado muito nas duas últimas décadas, particularmente depois da redemocratização. A cultura como direito é uma questão que está posta na sociedade brasileira, mas que ainda está sem solução.

Assim como é característico do quadro de desenvolvimento da sociedade brasileira, uma conscientização cultural relacionada a um de seus pilares-base, sua importância, vem se consolidando aos poucos. Trata-se, portanto, de uma mudança lenta, porém, espera-se, gradual em nossa sociedade. Mesmo assim, a lógica do bom uso das mídias digitais, aliada a um desenvolvimento educacional que oriente nesse sentido (o que vem acontecendo conforme as lógicas do mercado de trabalho), germinará uma conscientização cultural há muito incipiente.

A ressignificação da imagem nacional, seja como máquina política, cultural ou social, ocorrerá no longo prazo. No entanto, é preciso que haja uma transformação em certos hábitos, entre os quais, a aversão pela leitura, pela obtenção da informação (contaminada pelas posições políticas escancaradas das mídias veiculadoras), pelo discernimento (saber contrapor a informação entre diferentes mídias e até com estudos específicos, quando for o caso), a fim de não se deixar seduzir por interesses afins.

A arte do século XXI não constitui, de forma alguma, uma ruptura com suas representações clássicas de outrora. Suas características assimiladas com a digitalização comum dos processos, constitui outra maneira de caracterizá-la. Por outro lado, diferentemente com o que acontece com os processos estruturais que, periodicamente, passam por transformações e ressignificações, a arte clássica precisa se manter uma vez que sua contribuição social é de invariável importância para a conscientização sociocultural tão necessária nos tempos atuais.

Conclusão

O significado da arte no século XXI mantém íntegra relação com suas representações anteriores. Nesse sentido, as mídias digitais tornam-se fomentadoras de sua importância na conscientização coletiva, seja no âmbito cultural, enquanto estímulo à ciência de sua relevância, seja no social, enquanto vínculo de unidade nacional, na construção de uma imagem despoluída dos discursos tendenciosos e de interesses duvidosos, vinculados pela grande mídia nos vários meios de comunicação.