Se há algo que a arte contemporânea promete, é dar um enorme nó no cérebro de muitos apreciadores.
Não é conservadora, é incisiva. Não é prática, é complexa. Não é afetiva é aberta a opiniões. Promete provocar, mas eticamente é discutível. Não é simples, é eficaz. Não tem explicações, mas exigem-lhes respostas.
É realmente a arte do séc.: XXVI.
Contudo, nem tudo o que promete provocar, deve ser considerado arte. Opiniões fica para quem as tem, mas danificar cultura, está longe de ser uma nova vertente artística.
O mundo dificilmente alcançará o pináculo da perfeição e, eticamente é sempre discutível as ações causadas pela humanidade. Já que ética é senhora de muitas definições, composta por várias camadas e induzida erradamente em muitos temas. Definir “ética”, ficará talvez para outra altura.
A civilização moderna; neste caso, contemporânea, como prefiro apelidar; apenas é o que é hoje, pelo grande caminho que trilhou em função do já conquistado. Da sua história, costumes, rituais e formas de arte. Da sua língua e escrita, das suas obras e tradições. Talvez possamos resumir facilmente a uma palavra, cultura.
Cultura defensora de várias etnias e costumes. Foi a mesma que nos construiu e permitiu hoje, ser quem somos.
Defendemos o que defendemos, porque outrora conhecemos as vivências dos nossos antepassados, ainda que nem sempre experienciadas.
Está longe de ser correto a destruição das conquistas, ainda que eticamente bastante discutíveis, em prol de ideias consumidas hodiernamente.
Se apagarmos pedaços da história, um dia, será impossível contar de onde viemos e porque pensamos como pensamos.
Efetivamente, encontramos em inúmeros museus, mais do que possamos contar, peças que pessoalmente não nos dizem nada, escondidas atrás de um vidro límpido, com várias camaras ou seguranças presentes, avaliadas em mais do que numa só vida possamos angariar. Mas essas pequenas e grandes peças, um dia foram simbólicas e úteis, frequentemente usadas para tarefas simples, ou até, justificar riquezas de um monarca.
Hoje, são património. Independentemente do antigo possuidor ser alguém do bem, ou alguém do mal. Não se trata de vangloriar ostentação ou poderio antigo, trata-se de uma peça de arte, trata-se da cultura daquele país. Trata-se de entender porque hoje pensamos assim. Apesar de outrora sermos culpados em várias questões. Se apagarmos o passado, nunca poderemos entender o presente e jamais construir um futuro.
A arte contemporânea promete provocar, irritar até. Mas destruir não converte ninguém em artista. Destruir para construir novo é talvez das práticas mais ineficazes. Não se constrói, destruindo o que tem significado. Apenas nos apoderamos da revolta que gera e convertemos em “arte”.
“Dropping a Han Dynasty Urn” de Ai Weiwei é talvez um dos retratos mais exemplares ao que critico neste aglomerado de palavras. Onde facilmente e com livre-arbítrio destrói objetos de valor sentimental e patrimonial ao seu país, objetos esses, com mais idade do que jamais a ciência nos poderá proporcionar.
Efetivamente, transformou este artista conhecido. Realmente provocou o mundo da arte e não só. Mas está de longe de entender o poder da conservação e da crítica.
Não precisamos de entender porque as obras são protegidas e avaliadas em milhares e milhares de euros. Não precisamos de as destruir para nos afirmarmos no mundo da arte. Se somos artistas, seremos inovadores.
Atualmente, inovar remete para o desafio de convenções pré-estabelecidas. Entregar-se à ideia de não criar, mas transformar o que já existe. Contudo, já isso defendia Duchamp, sem rejeitar na totalidade a criação.
Transformar não é sinónimo de destruir. Mas transformar também não é sinónimo de criar. É moldar formas de ver e interpretar. Talvez isso, seja a crise de identidade da criatividade no presente século.
Se há algo que a maioria da humanidade, felizmente, ainda sabe fazer com primor é honrar o que os antigos fizeram. Nem sempre elogiam, nem sempre defendem, mas sabem que fez parte da construção da sua identidade. Já sofremos imensos downgrades, não tenhamos mais um.