Fim de ano, balanço da firma, balanço da vida, perdas e ganhos, festas, tudo como sempre, sem tirar nem pôr nada. Mais um final de ano entre tantos de nossas vidas. Família, amigos, colegas de trabalho, planos, sonhos, amores, desamores, alegrias, tristezas e festas, muitas festas! Quantas coisas, pessoas e sentimentos cabem em um ano, tantas que nem contamos. E quantas coisas fazemos em um mês apenas.
Dezembro é um mês que parece ser elástico, tem que caber nele a festa da firma, as peladas dos amigos casados contra os solteiros, o churrasco com a turma do colégio, a pizza com os amigos, o shopping para comprar os presentes, depois disso tudo ainda tem que pensar na roupa das festas. Sobra um tempinho para trabalhar, para quem não tira férias, e dormir um pouco, ninguém é de ferro.
As ruas ficam lotadas, os shoppings, daí os jornais da televisão começam passar aquelas reportagens, que poderiam ser as mesmas já gravadas no ano anterior, sobre lojas cheias, presentes de última hora, Papai Noel da rua, do shopping, sobre a Casa do Papai Noel. Na editoria de economia, dos artigos natalinos com os preços pela hora da morte por culpa das guerras, a insanidade humana, e da alta do dólar.
Mais um ano que chega ao seu fim, e tudo continua igual, fora meus cabelos que não existem mais e minha barba que de cinza ficou branca. Ano esse que, assim como os outros, faltou dinheiro no bolso do cidadão, o dragão da inflação devorou salários, as temperaturas bateram recordes de alta, o Willian Bonner continua apresentando o Jornal Nacional, junto com a Renata Vasconcellos, tudo normal.
E o Papai Noel, lá na Lapônia, descansa para sua única noite de trabalho enquanto seus duendes fabricam os presentes que serão entregues por ele no dia vinte e quatro. Não sei se lá onde ele mora está tão quente quanto está aqui, se tiver ele pode mudar seu figurino e usar roupas mais leves, eu recomendaria para ele trazer uma peça extra mais leve para quando atravessar a linha do Equador ele se sentir mais confortável.
Não sei como o Papai Noel passa pela chaminé das casas, ele é bem gordinho e ainda carrega aquele saco cheio de presente, dizem que joga um pozinho mágico que o faz encolher, pode ser. Mas no Brasil, onde normalmente as casas não têm chaminés, como ele entra? Talvez por debaixo da porta ou pela fechadura, aqui em casa ele deve tentar pela fechadura, como a chave fica lá ele nunca consegue entrar, isso explica o deserto de presentes que encontro na minha árvore na manhã seguinte.
Papai Noel existe, sim, ele está em todas as pessoas onde um bom coração solidário bate feliz, pois acho que quem dedica uma parte do seu tempo para ajudar pessoas menos favorecidas são felizes pelo que fazem. Fazer o bem é um bom remédio que deixa a alma mais leve, e a alma leve traz para a pessoa onde ela habita mais felicidade, é um ciclo do bem, que no final faz muito mais bem a quem faz o bem.
As crianças que acreditam no Papai Noel, cujos pais entendem a importância dos elementos lúdicos para suas vidas, aprendem a sonhar assim mudam o mundo. O mundo que temos hoje é fruto de muitos sonhos do passado que se tornaram realidade pelas ações dos realizadores. As crianças de hoje terão o mundo em suas mãos daqui a alguns anos e se forem impedidas de sonhar hoje, talvez sejam duras e céticas no futuro, e o que será do mundo, então?
O Natal vai muito além das festas, do Papai Noel, dos presentes, o significado dessa data é muito maior do que a questão comercial, que movimenta a economia, o que é enfatizado o tempo todo, a ordem é comprar, “os comerciantes esperam faturar esse ano mais do que no ano anterior”, são as notícias, então que faturem! Mas ninguém se esqueça a real importância e quem é o real personagem do Natal.
Tristemente esse ano será mais um ano que termina em meio a guerras estúpidas, onde morrem crianças, sonhos que deixarão de ser realizados, onde as crianças que não morrem perdem o que há de mais bonito nelas, a inocência, sem ainda chegarem à fase adulta. As bombas não ferem só seus corpos, deixam feridas abertas na alma, na memória, que nunca serão curadas e jamais serão esquecidas, tudo porque os homens (racionais?) não se entendem.
A indústria das armas precisa ganhar dinheiro, os poderosos precisam expandir o seu poder. Com a desculpa de se defender nações destroem outras nações, matam indiscriminadamente, em meio à sua insanidade, mulheres e crianças.
Para quem faz a guerra do outro lado da fronteira existem apenas inimigos, pessoas que nada fizeram, que nunca pegaram em armas, que trabalham e estudam como qualquer outra pessoa, simplesmente são inimigos, e assumem essa condição por estarem do lado de lá da fronteira.
Em outros lugares, animais racionais destroem a natureza, derrubam árvores e depois vão falar em preservar meio ambiente, deter o aquecimento global, negado por um tanto de líderes. A madeira tem seu preço no mercado, o petróleo também, são negociados nas bolsas por muito dinheiro, e a vida, que não tem preço e sim valor, é cada vez mais desvalorizada, será que permanece? Diante dos prognósticos sombrios, o dinheiro tem poder de matar a vida...
Então é Natal! Fiquemos felizes, é festa, vamos comer, dançar, dar e ganhar presentes, beber a noite toda, amanhã será um novo dia, daqui a pouco um novo ano cheio de esperança, em que teremos esperança, se o que temos é a morte e a destruição? Na bondade do ser humano? Talvez, mas os bons manterão sua esperança? Eles perdem terreno para quem se veste de cordeiro para esconder o lobo faminto que há neles.
Se os líderes não fizerem a sua parte, se nós, como cidadãos do mundo, não fizermos a nossa, que é escolher bem quem vai nos liderar, a esperança, que está por um fio, não vai sobreviver. Temos que refletir e não esconder as verdades debaixo dos tapetes que cobrem os pisos de madeira que um dia foram árvores na Amazônia, esses serão retirados um dia, e será muito tarde para limpar a sujeira acumulada.
Mesmo assim eu te desejo um Feliz Natal, que você, ao invés de se preocupar mais com os seus presentes, se preocupe com a pessoa que está presente na sua vida, ao seu lado ou mesmo longe, e com os impactos que o seu modo de viver vem causando no mundo, que é a nossa casa, pense, antes que seja tarde demais, nas suas escolhas de vida e no que você defende.