Adoro viajar para conhecer novos lugares, é a melhor formar de se desligar da correria do dia a dia, da urgência do mundo digital, e poder viver novas experiências encantadoras, são momentos revigorantes que ficam marcados em nossas memórias. Sempre que viajo, meus roteiros são baseados em experiências gastronômicas que gostaria de ter, a gastronomia me desperta encanto e curiosidade, além disso, creio que seja uma das melhores maneiras de conhecer a cultura e tradições de um local.
Observa-se no artigo “A Comida Como um Direito a Cultura e Identidade”, de Larissa Ivo Ramos: “É impossível fugir da necessidade diária de se alimentar. Tanto que este é um dos direitos defendidos diariamente pela Organização das Nações Unidas, através de um braço específico da entidade, a FAO (2005), dada a importância do tema. Come-se para sobreviver e, assim, o que se ingere também serve para contar parte da história do mundo, a saga dos povos, proporcionando uma necessidade de reflexão muito maior do que o mero ato biológico de saciar a fome, tornando a comida um traço da cultura.”.
Histórica e geograficamente, cada região tem suas extravagâncias culturais, tradições as quais são passadas de geração em geração, o que é muito importante para a identidade local. Podemos ter o mesmo prato feito de diferente formas dentro do mesmo território, cada um com sua particularidade. Um exemplo disso é a moqueca de peixe brasileira: no Espírito Santo ela é feita com tomates, cebolas, peixe e temperos regionais, como o coentro e o urucum; na moqueca baiana temos a presença do azeite de dendê; já no Mato Grosso ela é feita com peixe de rio (como o pintado), e troca-se o coentro pela salsinha, o azeite de dendê por pimenta-dedo-de-moça, conferindo mais aroma e menos picância; entre outros.
Deste modo, podemos observar que os exemplos estão carregados de significados e procuram mostrar a cultura local. O azeite de dende na moqueca baiana traz a picância, a alegria e a energia do povo soteropolitano; quanto à moqueca capixaba que leva o urucum, responsável por fortalecer e resgatar os laços com os povos indígenas brasileiros. Isso demonstra um pouco das características e origens dos povos de cada região.
O jornalista Bruno Albertim, em seu livro "Nordeste: identidade comestível", aborda não só os alimentos consumidos pelos nordestinos, mas como comem e como se dá o preparo desses pratos. Ele mostra como certos pratos e hábitos ajudaram a moldar a cultura desses estados e como a comida carrega valores — econômicos, étnicos, culturais, entre outros. Além de alimentar o corpo, a comida também promove o senso de pertencimento: como o acarajé na Bahia; o bolo de rolo em Pernambuco; entre outros.
Outra particularidade é o churrasco brasileiro, muito famoso mundialmente, mas que em cada região há uma maneira de preparar diferente. O churrasco gaúcho feito é com peças maiores, fogo de chão e espeto, tem forte influência indígena conquistada durante as empreitadas mato adentro com os bandeirantes; o churrasco paulista, a ferramenta mais comum é grelha moeda e os cortes de carnes são menores para um preparo mais rápido. Pode-se observar, que o churrasco tem a ver como o estilo de vida de cada região, a vida na cidade grande é mais corrida, não há tempo a perder. Entretanto, no Rio Grande do Sul o churrasco não é apenas uma refeição, é um evento, um momento especial que busca reforçar as tradições, a convivência e o companheirismo. Em ambas as situações pode-se conhecer um pouco das pessoas de cada região.
Contudo, é importante salientar, que nenhum é melhor que o outro, são as experiências e histórias que transformaram e moldaram a gastronomia de cada região. O Brasil é um país muito grande com uma cozinha diversificada, assim como sua população, em cada sotaque há um tempero diferente, uma forma de preparo diferente, e histórias diferentes, que devem ser saboreadas por inteiro!