O curador Adriano Pedrosa, já há muito conhecido do público brasileiro, acaba de emergir como uma figura de destaque no mundo da arte contemporânea. Reconhecido por sua destacada atuação no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) e agraciado com o prestigioso Prêmio Audrey Irmas de Excelência Curatorial, Pedrosa foi nomeado diretor artístico da 60ª Bienal Internacional de Arte de Veneza em 2024. Esta nomeação marca sua ascensão como um curador proeminente no circuito artístico internacional, além de colocá-lo como o primeiro latino-americano a assumir esse cargo. Sob sua liderança, a Bienal de Veneza promete ser uma celebração da diversidade e da inclusão, passando por temas que vão desde o estrangeirismo, a identidade queer e as questões indígenas.

A 60ª edição da Bienal de Veneza adota o provocativo título de "Foreigners Everywhere" (Estrangeiros por toda parte), incentivando os visitantes a refletirem sobre a interação de indivíduos de diversas nacionalidades e as complexas dinâmicas culturais que resultam desse encontro. Além disso, o evento celebra a diversidade e promove uma análise crítica, desafiando conceitos como pertencimento e alteridade.

Em meio a um contexto de crescente restrição à circulação internacional, a Bienal serve como uma voz poderosa, destacando a complexidade das experiências humanas e fomentando debates nas mídias que cobrem o evento. Sua influência transcende o de uma simples exposição de atualidades artísticas, insuflando os diálogos sociais e políticos em escala global. Até mesmo a escolha Veneza se coloca como cenário perfeito para abordar essas questões. Ao recordarmos sua história como um centro de comércio internacional ao longo de praticamente toda a Idade Média e o período moderno, a cidade era reconhecida como um ponto de encontro de diversas culturas. A presença constante de estrangeiros, sejam como turistas ou residentes, ainda é um ponto vital de sua dinâmica social e cultural.

Inspirada pelas obras do coletivo Claire Fontaine, a mostra apresenta obras de arte que exploram a fundo o tema desta edição. Ao mesmo tempo em que enfatiza o papel dos artistas como narradores de histórias globais, a exposição se beneficia de suas próprias condições de imigrantes, expatriados ou refugiados. Tudo isso em um momento em que os países da União Europeia estão intensificando suas políticas anti-migratórias.

Pedrosa e a Bienal trazem um segundo eixo dedicado à inclusão de artistas indígenas, cujas vozes são frequentemente marginalizadas. Obras de destaque, como o mural do coletivo Makhu do Brasil e a instalação do coletivo Maataho da Nova Zelândia, poderão ser vistas no Pavilhão Central e na Corderie do Arsenale. Para aqueles que residem em São Paulo, uma experiência similar foi proporcionada pela exposição Histórias Indígenas, que esteve em exposição no MASP até fevereiro deste ano.

Ao destacar obras de artistas da América Latina, África, Oriente Médio e Ásia do século XX, a exposição revisita o legado do modernismo global, desafiando a hegemonia das narrativas eurocêntricas. Ao tratar destas contribuições, a exposição promove uma apreciação crítica da arte, abrindo espaço para que narrativas e tradições frequentemente subestimadas sejam vistas em pé de igualdade com obras de artistas que emergiram em contextos imperialistas ou colonialistas.

image host Imagem 1: Os artistas Louis Grachos, Jeffrey Gibson, Kathleen Ash-Milby, and Abigail Winograd. Foto de Cara Romero

A presença da Arte Queer também está sendo marcante nesta Bienal. Para aqueles que não estão familiarizados com o termo, "queer", cujo significado inicial estava relacionado a "estranho", refere-se aos artistas que transitam entre diferentes sexualidades e gêneros. Assim como outras vozes trazidas para a mostra, as expressões da sexualidade que desafiam os padrões heteronormativos encontram espaço de aceitação e acolhimento. Adriano Pedrosa compartilha uma perspectiva profundamente íntima sobre sua conexão com os temas e contextos apresentados nesta edição do evento. Como alguém que viveu no exterior, o curador compartilha ter experienciado tratamentos ultrajantes. Além disso, como o primeiro curador a se declarar abertamente queer na história da Bienal de Arte, ele traz uma voz única para o evento.

"Foreigners Everywhere" não se limita a ser apenas uma exposição artística; é também um fórum de debate sobre as realidades complexas de um mundo cada vez mais interligado. Ao enfatizar a presença e o impacto dos estrangeiros em todas as esferas da vida contemporânea, a exposição busca ampliar nossa compreensão da diversidade e interconexão globais.

A 60ª edição da Bienal Internacional de Arte de Veneza, “Foreigners Everywhere”, estará em exposição na cidade de Veneza entre os dias 20 de abril e 24 de novembro de 2024. O preço do bilhete de entrada pode variar entre €15,50, para estudantes universitários, e €150,00, caso o visitante queira acesso total com visita guiada.