Interessante como as coisas podem acontecer em nossas vidas de repente. Há pouco tempo, tive um mal-estar ao retornar da cidade vizinha (Suzano), onde minha filha estuda em um colégio cristão e a levo todas as manhãs. Por sorte, ou por uma questão de preparo de Deus, estava próximo a um hospital privado onde meu plano de saúde tinha cobertura. Parei o carro próximo e fui até a atendente do hospital, informando que era hipertenso (pressão alta) e estava com dor no peito.
Como profissional da saúde, quando tive o mal-estar, pensei que fosse um episódio de ansiedade ou coisa similar, uma vez que a dor no peito (angina pectoris) não era tão intensa. Mas, como irradiava para as costas (tórax posterior) e braços, fiquei preocupado.
Como disse, dirigi-me à atendente que me encaminhou à sala de classificação de risco (triagem) e prontamente fui atendido. Estava com minha frequência cardíaca aumentada, com pulso acelerado (taquicardia), um desconforto no peito e angustiado. Enquanto conversava com a enfermeira que me atendia, a frequência diminuiu, mas a pressão arterial estava muito alta (valores normais pelo Ministério da Saúde são por volta de 13,5x8,5 mmHg, e naquele momento estava com 180x120 mmHg).
Fui encaminhado à médica plantonista, que de imediato solicitou um ECG (eletrocardiograma) e enzimas (coleta de sangue para exames laboratoriais) e pediu que ficasse na sala de emergência com monitoramento cardíaco e da pressão arterial. Alguns medicamentos foram administrados. Uma senhora auxiliar de enfermagem muito gentil cuidou de mim, me confortando e dizendo que ficaria tudo bem. Eu não havia dito que era enfermeiro e psicólogo, então era tratado como uma pessoa leiga e queria ser tratado assim.
Os termos técnicos me eram descritos como para uma pessoa que não tinha noção do que estava acontecendo, embora eu entendesse exatamente o que poderia acontecer. Minha pressão era verificada a cada 20 minutos e me perguntavam sobre a dor no peito e como me sentia.
Naquele momento, já estava sem dor, melhor da angústia, e comecei a pensar na situação em que me encontrava. Foi quando lágrimas caíam espontaneamente dos meus olhos; eram incontroláveis, tinham autonomia e escorriam pelo rosto. A auxiliar de enfermagem olhou para mim, pegou na minha mão e me confortou, perguntou se queria chamar alguém. Naquele momento, falei para aguardar, pois minha esposa estava trabalhando e minha filha na escola. Falei que iria aguardar o resultado dos exames antes de informar minha esposa, pois, como toda esposa dedicada e preocupada, eu sabia que ela se desesperaria e largaria tudo para ir ao local. E assim fiz...
Ao chegar o resultado do meu primeiro exame e já com a pressão arterial normalizada, fui encaminhado ao consultório, onde a médica me informou que havia uma discreta alteração no exame, mas que não justificava, pois o eletrocardiograma estava normal. Ela recomendou que eu realizasse nova coleta de exame para comparativo. Feito isso, permaneci aguardando o resultado do novo exame, mas o horário de pegar minha filha na escola estava chegando e comecei a ficar desesperado, pois não tinha quem a pegasse. Em conversa, consegui sair para pegá-la e levar para casa, onde, nesse momento, minha esposa já estava.
Expliquei que tive um mal-estar, realizei exames no pronto-socorro e que deveria retornar para pegar o resultado, e assim o fiz. Ao retornar ao consultório, a médica me liberou, explicando a necessidade de acompanhamento com o cardiologista. Como era o fim de quarta-feira, programei-me para realizar a marcação para a semana seguinte.
Na sexta-feira, tive outro mal-estar em casa, mas como identifiquei que minha pressão estava alta, tomei a medicação de costume, repousei e, na sequência, melhorei. No sábado, o dia correu bem, mas à noite senti-me cansado e um pouco ansioso, pois no domingo teríamos um evento muito importante em nossa igreja (Igreja Cristã Ekballo), que na verdade seria seu primeiro culto. Como de costume, a pressão arterial havia aumentado, tomei a medicação e repousei, ficando assintomático (bem). No domingo, tudo correu bem. Porém, no fim da tarde, estávamos almoçando no shopping e senti novamente minha pressão aumentar, tomei um anti-hipertensivo e fiquei bem.
Na segunda-feira, na hora do almoço, não estava legal. Conversei com minha filha (6 anos) para dar uma cochiladinha comigo e fomos para o quarto, mas durante o descanso tive um mal súbito e ela avisou minha esposa: "Mamãe, o papai está com dor aqui (cabeça), aqui (costas) e aqui (peito)". Minha esposa ficou preocupada e insistiu em ir para o pronto-socorro. Falei que iria tomar um banho e iríamos. Assim fomos para o pronto-socorro. Chegando lá, retirei a senha de dor torácica e, no balcão de atendimento, informei que estava com a pressão alta e dor no peito.
Fui prontamente atendido e iniciado o protocolo de dor torácica, onde fui encaminhado à sala de emergência, monitorizado, realizado eletrocardiograma, recebi as medicações do protocolo, colhido sangue para as enzimas cardíacas e fiquei aguardando a presença do médico. Na sequência, ele veio me ver e me questionou o que eu estava apresentando. Referi que tinha Síndrome Coronariana, conforme a médica havia me explicado na quarta-feira, mas ele foi meio incrédulo, pois o eletrocardiograma estava normal, mas prosseguiu com o protocolo.
Ao pedir à enfermeira para ir ao banheiro, ela me orientou e pediu para, na sequência, ficar aguardando na sala de observação, e foi o que fiz. Minha esposa, nesse momento, entrou para ficar comigo. Como eu estava com fome, ela me trouxe um suco para tomar. Quando eu terminava o suco, a enfermeira veio e falou: "Seu Emílio, o senhor terá de voltar e ser monitorizado, seus exames vieram alterados e terá de ir para a UTI (unidade de terapia intensiva)". Minha esposa estava ao meu lado e, sem entender o que estava acontecendo, ficou pálida e percebi seu olhar de desespero.
De repente, o médico plantonista, aquele que não tinha dado muita bola no início do atendimento, aparece com uma cara incrédula e diz: "Seu exame está estourado, o laboratório acabou de me avisar, você infartou! Vou pedir uma vaga na UTI e cateterismo. Vamos agilizar". Calmamente, eu disse: "Ok, como procedemos?".
A enfermeira me orientou e me colocou num leito. Fui monitorizado e ali permaneci das 18h00 de segunda até as 2h40 de terça-feira. Após isso, fui encaminhado à UTI.
Embora o ambiente de UTI não seja o mais agradável, fui muito bem recebido e, coincidentemente, um ex-aluno trabalhava lá. Meu cateterismo foi agendado para o dia seguinte, às 8h00, em outro hospital da rede. Então, na quarta-feira, fui encaminhado para realizar o exame.
O ambiente foi muito agradável, inclusive, novamente havia duas ex-alunas que trabalhavam na hemodinâmica, onde eu iria realizar o exame. O procedimento deveria acontecer em 25 minutos, porém, durante o procedimento, identificou-se uma obstrução de 80% e 90% de uma coronária importante e, por consequência, houve a necessidade de realizar uma angioplastia com a implantação de dois stents e o procedimento durou próximo de duas horas.
Segundo o médico intervencionista, a anatomia dos vasos era ruim e, por isso, a demora no procedimento. Na sala de recuperação, ele veio conversar comigo e minha esposa e disse: "Foi por Deus, era para ser um infarto fulminante; tomar cuidado para não ter que fazer novamente, pois a anatomia dos seus vasos é muito difícil".
Nesse momento, uma sensação de alívio e agradecimento vieram junto com incontroláveis lágrimas. Pareço chorão? Nesse momento, não é questão de ser chorão, mas em pensar que meu destino poderia ter tomado outro rumo e, hoje, não estar escrevendo para essa revista, e não levando minha rotina familiar e profissional, faz toda a diferença.
Permaneci internado por mais três dias e recebi alta com orientações. Logo já estava na ativa, pois não podemos parar...
Hoje sigo o acompanhamento e sou grato por ter uma família e amigos que ficaram ao meu lado, se preocupando. Mas, sem o apoio e dedicação de minha esposa, as coisas poderiam ser muito diferentes.
A dica é: se sentirem sinais atípicos, procurem atendimento médico o mais breve possível. Isso pode fazer a diferença entre estar vivo ou não, e a vida é bela demais para ser desperdiçada.