Aceitar o corpo, ou como ficou mais conhecido, o “body positivity” cresceu muito nos últimos anos graças as redes sociais, a uma geração Z que procura estar mais saudável mentalmente e como uma forma de combater a “ditadura da magreza”, entretanto, apesar de o movimento ter começado promissor, infelizmente as coisas acabaram caindo na área de banalização.
Em seu último especial, o seriado South Park fez uma crítica exatamente a isso, somado com o escândalo das injeções para diabete que celebridades estavam usando para emagrecer. Um dos pontos do especial é o fato de pessoas com dinheiro terem acesso a essa injeção e poderem emagrecer, enquanto pessoas pobres eram receitadas músicas que enalteciam a aceitação corporal.
Essa sátira que o seriado fez acertou em cheio em um ponto delicado dessa questão toda, que é o fato de, em termos simples, pessoas ricas não precisarem de “body positivity”, pois elas têm dinheiro para poder emagrecer, enquanto que pessoas pobres consomem mídias sobre aceitação corporal, pois não possuem recursos para poderem se manter magras.
Em outro texto meu, falei sobre o falso emponderamento nas mídias sociais e como isso afeta as pessoas que os consomem. O movimento do “body positivity” nada mais é do que uma dessas vertentes de falso emponderamento que ocorre nas redes sociais.
Veja bem, a ideia do movimento é extremamente positiva, mas a execução acaba, na maioria das vezes, sendo feita de forma errada e/ou ruim. Muitas pessoas se aproveitam do movimento para ganharem dinheiro, engajamento e até autopromoção, sem estarem realmente preocupadas em espalhar uma mensagem positiva sobre a aceitação corporal.
Há também casos em que a “romantização da obesidade” ocorre, com diversos médicos, profissionais de saúde e nutricionistas alertando para os riscos que essas pessoas estão correndo ao não cuidarem da saúde e a, algumas vezes, até incentivarem a obesidade como algo normal, quando na realidade a obesidade é uma doença e precisa de tratamento.
Se por um lado temos o “body positivity”, por outro temos a “ditadura da academia”, onde um corpo só é considerado “bonito”, “apresentável” e/ou “desejável” se a pessoa tiver o corpo torneado e musculoso. Raramente vemos influencers femininas, celebridades, atrizes, cantoras e etc que não se encaixem nos padrões de corpo torneado e escultural.
Não apenas isso, mas até mesmo celebridades que eram adeptas ao “body positivity” acabaram emagrecendo e perdendo peso, mas veja, não apenas emagreceram como também entraram na “ditadura da academia” para ficar com os corpos torneados. E é aí que entra a questão mais delicada de tudo isso, como elas podem se dizer pró “body positivity” se elas próprias decidiram emagrecer?
O ponto não é criticar elas por terem emagrecido, a crítica se deve ao fato de elas terem condições financeiras e tempo disponível para poderem fazerem isso. Uma celebridade milionária, que não precisa ficar presa mais de 4h em transporte público, que não trabalha em um emprego puxado e que paga o mínimo, tem empregados para cuidar da mansão e não precisam limpar a casa tem total disposição, dinheiro e tempo para poderem se dedicar a academia, a ir em uma clínica de estética fazer procedimentos caríssimos e a comprar cosméticos que custam mais do que um salário-mínimo.
Contudo, uma mulher de classe média/baixa não possui esses privilégios. Ela precisa trabalhar, cuidar dos filhos, do marido, as vezes dos pais, limpar a casa, cozinhar, ir ao mercado, ela não tem tempo sobrando para poder se dedicar a academia todo dia, que dirá uma vez por semana. Além disso, não apenas a academia, também lhe faltam recursos para poder comprar cosméticos de qualidade e fazer os mesmos tratamentos em clínicas de estética.
Então veja, é como a sátira feita pelo South Park, se você tem condições financeiras você é receitado com injeções de emagrecimento, se não tem condições, sua receita é consumir mídias que falem sobre “body positivity”, a questão que fica é, será que o “body positivity” não teria mais força e credibilidade se todas as pessoas pudessem ter condições de escolher serem magras ou não? Porque é muito difícil fazer uma pessoa acima do peso “se aceitar” quando ela própria sabe que o que a impede de ter “o corpo dos sonhos” é justamente sua falta de recursos.