Em 2024 completo 30 anos. Desde os 14 tenho Rede Social.
Orkut, Facebook, Twitter, Instagram, Youtube, Pinterest, TikTok. Passei por todas elas.
Não fui parte dos usuários mais ativos das redes e até os 18 anos minha participação era sutil. A internet não era tão veloz, os dispositivos móveis mais escassos e a presença das redes ainda começava a se popularizar.
Em maior ou menor grau, mais da metade da minha vida passei com acesso a esse mundo de mídias digitais, compartilhamento online e interações virtuais.
Nos últimos anos, com uma pandemia que impulsionou o afastamento físico, algoritmos cada vez mais evoluídos e um crescimento de conteúdo sem limites, o meu consumo de redes sociais –e acredito que da maior parte da população– tomou proporções significativas.
Junto do consumo expandiu-se o impacto das redes não só na dinâmica pessoal de cada um, mas na dinâmica social por completo. Modelos de negócio passaram a adotar estratégias digitais, influenciadores ocuparam um lugar não só de celebridades mas de concentração de capital e novos comportamentos em massa surgiram desse contexto.
Também nos últimos anos, começamos a ver uma preocupação acerca do consumo indiscriminado das redes. Pesquisas, estudos, livros, artigos e outras manifestações que trouxeram reflexões sobre o resultado a curto, médio e longo prazo do uso das redes.
Um termo que ganhou destaque com o surgimento dessas pesquisas foi “dopamina”. O neurotransmissor é um dos responsáveis pelo bem-estar por estar ligado ao sistema de recompensa do cérebro. De forma leiga, a dopamina está diretamente relacionada a um sistema de recompensa do cérebro ao realizar algumas atividades cotidianas.
Quando realizamos essas atividades em excesso pode ocorrer um desnivelamento do neurotransmissor, contribuindo para a dependência no sistema de recompensa cerebral relacionado à atividade em questão, no caso as redes sociais (pode ser álcool, drogras…).
Depois de fazer a leitura de algumas dessas reflexões e notar impactos reais na minha vida, comecei a prestar mais atenção no meu uso das redes sociais.
Aos poucos fui notando que uma sensação de ansiedade se fazia presente na rotina diária de atualizações:
WhatsApp, Instagram, TikTok, Instagram novamente, WhatsApp novamente e assim seguia o ciclo vicioso.
Uma dança de clique e scroll que facilmente me roubavam 2h de uma vez.
Além da sensação de ansiedade, a obrigação estava intrínseca à vontade de me atualizar. Checar todos os feeds era sinônimo de estar por dentro e driblar o FOMO “Fear of missing out”.
Foram muitas as noites estendidas até 3h, 5h da manhã em feeds de Tik Tok e Instagram que me renderam má qualidade do sono, cansaço, ansiedade e desperdício de tempo.
De forma alguma, acredito que as Redes Sociais só agrupam conteúdos ruins. Aprendi assuntos, me interessei por temas, conheci pessoas, fiz conexões e principalmente ganhei muito conhecimento sobre o que hoje faz parte do meu trabalho com comunicação.
Mas há 4 meses decidi fazer um teste. Não exclui nenhuma conta, mas apaguei os apps Instagram e TikTok – Twitter e Facebook eu já não tinha há um tempo. LinkedIn e Pinterest precisei manter por motivos profissionais.
No início, fiquei 3 dias sem os aplicativos, voltei a baixá-los, gastei alguns minutos me “atualizando” e notei que nada tinha mudado. Respondi às pessoas que haviam me contactado pela rede, avisei que estava fazendo um detox e voltei a apagar os apps.
Uma semana depois fiz a mesma coisa, voltei a baixá-los, me atualizei e novamente nada havia mudado.
Uma curiosidade, nos primeiros dias, ao mexer no celular meu dedo buscava automaticamente o antigo posicionamento dos apps, isso me assustou.
Fiz o exercício de prestar mais atenção nos meus comportamentos durante esses dias.
O feed se fez uma presença quase fantasmagórica, eu sentia falta de um feed, da falsa sensação de que eu fazia parte de algo e que ao rolar a tela eu estava “por dentro” do mundo. Em paralelo, minha vontade por fazer coisas diferentes cresceu e eu passei a aproveitar mais o meu tempo.
Não vou dizer que ganhei uma quantidade absurda de horas, mas essa diferença sutil foi significativa.
Ao longo do dia, as antigas pequenas pausas para conferir o celular, passaram a ser mini pausas de 5 minutos para esticar as pernas, tomar um chá, quebrar um pouco o uso contínuo das telas, o que deixou o meu trabalho mais fluido e produtivo.
À noite, as leituras ficaram mais fáceis e o sono mais tranquilo.
Também observei que realmente senti falta de alguns hábitos. Hoje é muito comum buscar informações básicas nas redes sociais. Pesquisar tópicos completos no TikTok e ver referências de restaurantes, projetos e pessoas no Instagram fazia parte da minha rotina. Apesar da falta, ainda não descobri se eu vou voltar.
Não acho positivo e saudável mudanças drásticas. É preciso levar em conta que as redes fazem parte da dinâmica social de hoje e eu acredito no equilíbrio, mas honestamente minha saúde mental agradece esse detox.