A sabedoria é um privilégio tal qual o conhecimento compartilhado. Muitas vezes, quando estamos falando, somos interrompidos abruptamente ou quando afirmamos uma vivência — você diz e afirma porque o fez — e, mesmo assim, a afetação de terceiros sobrepõe-se. Não que a pessoa seja egoísta, mas duvida que o feito seja nosso, seu, meu, porque é incapaz, em sua mensurável capacidade de reconhecer conceitos, normas, tradições ou de discernir afinidade de reconhecimento, cumprimento da complexidade da educação que, ensinada em casa, se torna simples no dia a dia.

E antes mesmo que você diga algo, recebe um "não", que não é negativo, mas um freio no que eu afirmo. Já fiz isso e me corrigi. Porque é melhor ouvir e sempre aprendemos com o barulho do inconsequente, também com o silêncio.

Nossa comunicação, a mídia, está assim: não! E o valor de julgo é preponderante à afetação. Então, quando nos aquietamos em filáucia1 (amor desmedido de si próprio), aprendemos a balbuciar algo aos outros; e a frase que vem desse egocentrismo é "eu me amo..." (Cada qual com seu pirão primeiro, apontam os egoístas.) Quem está na interlocução se sente ofendido.

A imprensa em geral está num cabo de guerra, pelo menos aqui no Brasil. A verdade do jornalismo exequível é um burro fugindo da própria sombra, porque removeu a essência do jornalismo: responsabilidade, buscar, investigar, apurar, redigir e transmitir notícias baseadas em fatos, verdades — ética.

Temos, nas beiradas dos municípios distantes — somos 5.568 municípios divididos em 26 estados e mais dois distritos: o Federal (capital do País, Brasília/DF) e o Estadual de Pernambuco, Ilha de Fernando de Noronha, perfazendo um total de 5.670 unidades territoriais —, o jornal impresso se torna forte documento da comunicação, assim como gráficas que usam ainda maquinários tipográficos, categorizando não só interior do Brasil em seu tamanho exuberante de continente, vivendo ainda nos séculos XIX e XX, misturando-se a aventureiros que usam o celular e a CPU comutável com a internet, empanturrando-se no viés político do toma lá dá cá: a base desse triângulo é corroída e o ápice, corrupto.

Impressos

Empunho a espada da permanência dos impressos: jornais, livros e revistas, porque a base está repleta de miçangas, ferramentas que distraem a verdadeira evolução, travestidas em aplicativos que constroem o vazio nas mentes — dancinhas, likes etc. — a partir dessa invenção dos diabos minimizada num mundo na palma de sua mão. Não sou contra o celular; ao contrário, vejo como a tal vara de pescar; constroem-se conhecimentos, a biblioteca mundial à sua mercê para o seu modo de aprender...

Creiam ou não, os números do analfabetismo no Brasil sempre foram maquiados; ora, as Américas têm apenas 500 anos e não aprenderam ou inventaram a mentira, o engodo. Aqui no Rio de Janeiro já me deparei com várias situações de total analfabetismo. E para quem mede sua régua de acordo com a sua não crê; já quem enxerga o horizonte com uma teia de salvamento num barco que singra a educação, a evolução profissional daqueles que pretendem aprender, sofrem com a situação. Não dá para abraçar o mundo, mas se agimos em nosso entorno ajudaremos bastante, e sem agonia, ansiedades.

O impresso na América do Sul e na África puxa a pessoa desde o início do letramento até a geração de ideias nos folhetins, tabloides, house organs, fanzines, jornais, livros por jovens e adultos e as ilustrações são bem-vindas: “uma imagem vale mais do que mil palavras” — creio, mas nem tanto. Quando trabalhei em Luanda, Angola, o Capitão Luciano Bom Ano, responsável pela logística e Segurança e o seu colega André, responsável pelas andanças de uma Educadora brasileira que criou projeto de alfabetização, me pediram para fazer o jornal da igreja que eles congregavam (Capitão morreu em acidente de carro em 2010). Fizemos juntos, mostrando a eles cada ponto no software, e deixei um projeto gráfico pronto, em que eles podiam modificar os textos, fotos, ilustrações e deviam obedecer a quantidade de caracteres para títulos, legendas e textos. Usando a ferramenta adequada a foto já caía no diagrama digitalizada e cortada. Fizeram por algum tempo, mas queriam que eu permanecesse naquele país, porque segundo o Capitão havia levado riqueza àquele país...

Eu, olha a filáucia, me profissionalizo sempre, acompanho a evolução da comunicação e, portanto, consigo participar de revistas digitais, como a que exponho da edição única ThinkEnergy. Este trabalho é o contraponto do que fortaleço na mídia impressa nos cantos longínquos e com necessidades. Foi editado para o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) na cidade do Rio de Janeiro, em setembro de 2019, pela colega Beatriz Cardoso e com design (diagramação) primorosa do profissional Gustavo Moraes, produto do Bureau Trama e Lettera Comunicação (RJ), quando eu era part-time das empresas. Minha participação efusiva foi na revisão, apenas.

Primo que é um ponto que chega aos leitores de forma leve com credibilidade e de aceno à manutenção dos impressos, fechando as pontas dessa mola da ignorância à do conhecimento. Soube que há aplicativos desenvolvidos para alfabetização em qualquer língua por meio da inteligência artificial (IA). Conto que sejam gratuitos e de acesso livre, espontâneo.

Notas

1 Segundo Aristóteles (384-322 a.C.), virtude que consiste em amar a si mesmo na medida certa, sem excesso nem carência, integrando no afeto a busca ideal do Bem e do Belo.