Quando o assunto é o narcotráfico, o mais comum é associarmos a um ambiente masculino e heteronormativo. Acontece que, justamente em um período de ascensão do narcotráfico, surgiu uma figura capaz de desafiar todos os moldes e regras. Griselda Blanco foi uma traficante de drogas que construiu um verdadeiro império da cocaína e se igualou a grandes figuras como Pablo Escobar. Inclusive, a série se inicia com a seguinte citação atribuída a Pablo Escobar: “O único homem de quem já tive medo, é uma mulher chamada Griselda Blanco.” Não há comprovação de que essa frase tenha sido realmente dita por ele, mas ao longo da série e conforme o público passa a conhecer o comportamento de Griselda, não é difícil imaginar que a frase possa ser real.
A narrativa da série explora a ida de Griselda e, até então, seus três filhos para Miami, numa fuga do seu marido na época, Alberto Bravo. Levando consigo 1kg de cocaína, a “Viúva Negra” passa a procurar uma maneira de vender seu produto na cidade, que já era dominada e dividida por outros grupos de narcotraficantes. A imagem que o público constrói de Griselda é de uma mulher muito inteligente e bem articulada em seu meio. O fato de ser do sexo feminino faz com que a dificuldade de achar parceiros seja muito maior. Seu produto era de grande pureza, o que tornava-o da melhor qualidade, mas isso não significava nada sem um sócio para seu negócio.
Nos anos 70, houve uma grande explosão de boates e discotecas, frequentadas por gente da alta sociedade e com muito dinheiro. Com isso, Griselda percebe um público que não era alcançado por nenhum traficante e decide investir nisso. Além disso, sua facção contava com jovens prostitutas que carregavam em suas roupas íntimas a droga, sem serem pegas nos aeroportos.
Com seu negócio expandindo, os irmãos Ochoa, família de grande influência em Medellín, passam a se incomodar. Cria-se uma tensão entre a família e a Poderosa Chefona, como ela era chamada, até que acabam virando parceiros. Mesmo lucrando uma fortuna de 80 milhões de dólares por mês, a série mostra que Griselda tinha uma ambição sem tamanho. Somando inúmeros assassinatos em sua ficha, ela tem sua vida e de seus filhos ameaçada constantemente.
Casada com Darío Sepúlveda, ela tem seu quarto filho e único vivo até hoje, Michael Corleone, batizado com esse nome em homenagem ao personagem do filme “O Poderoso Chefão”. A relação de Griselda com o filme de Francis Ford Coppola vai além do nome de seu filho. Para a criminosa, era importante esse respeito e título de “la madrina”, igualando-a a Vito Corleone. Ela gostava de ser vista como a matriarca da família, a de sangue e a do tráfico. Por vezes, essas duas famílias eram uma coisa só, mas nem sempre a coexistência era pacífica. Seus filhos interferiam muito nas ordens dos capangas e acabavam sendo mal vistos pelos funcionários. Seus três primeiros filhos tiveram participação ativa nos negócios, fazendo com que todos fossem presos e mortos devido à disputa com os outros cartéis de drogas. O quarto filho foi o único a não ser afetado nessa guerra, já que sua participação nos negócios foi curta e ele apenas fazia o papel de um distribuidor ambulante.
O recorte feito pela série consegue mostrar muito bem o período de maior sucesso e o declínio de Griselda. É interessante observar a ambição da colombiana, como nas cenas em que ela desenha com a ponta do cigarro, em sua imaginação, as suas mansões, mostrando o quanto aquele mundo de dinheiro e status social era importante para ela. Mesmo imersa em um negócio violento e machista, Griselda mantém sua feminilidade e postura firme até o fim.