Você já parou para pensar sobre como construiu suas amizades? Como um desconhecido virou seu amigo?
São incontáveis os contextos sociais que nos levam a formar uma amizade. Os amigos que fazemos na escola, na igreja, na rua, do amigo em comum. Amigo é uma escolha e também uma sorte. Quando encontramos pessoas com a mesma sintonia, podemos construir laços afetivos que transcendem a conexão sanguínea.
Bem, ao longo das minhas viagens e andanças mundo afora, também fiz muitos amigos por onde andei. Fazer intercâmbio me permitiu me conectar com pessoas de lugares que ainda não tive a oportunidade de conhecer. As amizades que aconteceram de forma repentina e profunda têm um espaço significativo na minha trajetória.
A intensidade do momento e das pessoas que encontramos pelo caminho geram boas histórias e momentos singulares. Quando esbarramos em alguém que temos afinidade, seja de assuntos, gostos musicais, curiosidades ou visões de mundo, apreciamos estar com essa companhia.
Das minhas viagens sozinha, tive grata satisfação de conhecer pessoas atenciosas ao ouvir minhas aventuras e pude viajar ouvindo histórias de outros lugares. É muito comum que isso aconteça conhecendo brasileiros pelo mundo. Temos uma facilidade de “puxar assunto” com pessoas ao nosso redor. A conversa que se inicia com o “de onde você é” e depois já trocamos número de telefone ou rede sociais para seguir adiante com uma possível amizade.
Lembro de uma viagem para prestar um concurso público em João Pessoa, na Paraíba, em meados de 2018. Um vôo marcado em torno de 7:30 da manhã foi cancelado para a noite. Na confusão de troca de horário, instalou-se aquela interação entre passageiros em busca de informações e direitos. Comecei a conversar com uma jovem concurseira, cheia de sonhos e planos. Os nossos desejos, coragens, frustrações e medos se assimilavam a cada assunto compartilhado.
O momento político atual do nosso país nos dava oportunidade de conhecer mais sobre a opinião uma da outra. Ambas de universidades e formações diferentes, mas com objetivos parecidos na época. O momento nos deu oportunidade de estreitar laços. A rede social permitiu que continuássemos nos atualizando e torcendo uma pela outra. Nunca mais a vi. Tenho um carinho enorme pelo tempo em que dedicamos a esse frenético encontro dos concursos públicos. Minha vida mudou e acredito que a dela também. Novos amigos vieram.
Vivi por muito tempo em uma cidade do interior do Maranhão. Imaginava um dia sair de lá e conhecer pessoas de outros estados e países. A internet me permitiu isso lá por volta dos anos de 2010. Sempre gostei muito de conversar e na época éramos pautados mais pela escrita nos chats mais do que pelo compartilhamento de fotos ou vídeos. Fiz amigos virtuais, através dessa troca de informações tive uma ideia de como era a vida em um lugar frio ou de pessoas que escutavam outros estilos de música.
Viajei. Fiz amigos de outros estados, países e continentes. Com eles aprendi como é feito o arroz das Filipinas ou preparar uma carne de Botswana. Que se come cachorro-quente com purê de batata e pastel com vinagrete em São Paulo. Que nem todo mineiro fala “trem baum”. No Peru come-se muita “Cachanga” (pão caseiro) no café ou na janta. Que arepas prontas são fáceis de achar em quaisquer supermercados na Colômbia, não precisa preparar a massa como eu faço com o cuscuz. Na Espanha se come tudo com muito azeite e são os melhores do mundo. Que os indianos usam iogurte e muitas marsalas para temperar um frango. Os alemães gostam de fazer pão e geralmente não são fofinhos como o brasileiro.
A diversidade de experiências com outras culturas me fez apreciar ainda mais o meu desejo de viajar e me conectar com novos amigos. Entendo que o conceito de amizade verdadeira vai muito além de ter pessoas temporárias na vida. Os reais amigos sempre vão estar contigo. No entanto, isso não é regra. A vida muda, a gente também. Vamos moldando o nosso instante. Dos amigos que fiz na escola, faculdade, trabalho permaneceram aqueles que estão dispostos a conversar. São para eles irmãos, filhos de outro pai e mãe, a quem dedico as melhores e belas canções de amizade. Embora me permita apegar-me a um amigo de fim de tarde ou de 2 dias de viagem. Porque gosto também das amizades pelo caminho.
A vida me mostrou que ter um bom amigo é como ter uma família que a gente escolhe para si. É receber um amor sem posse e desejo que nasce da mais singela disposição de compartilhar momentos gostosos na vida. Já dizia o rap Emicida: “Quem tem um amigo tem tudo”. Acrescento em dizer que quando temos amigos, temos ainda mais motivos para sorrir.