Quando você pensa em vida, o que lhe vem à mente?

Inúmeras funções biológicas ocorrendo o tempo todo ou o simples experienciar de uma tarde de sol com pessoas que você ama? Ou, quem sabe, passe pela sua cabeça a explosão de milhares de átomos pelo Universo, formando constelações, planetas e sistemas solares?

Para o Ayurveda, um dos sistemas de medicina mais antigos da humanidade, vida é a junção de quatro elementos: corpo, órgãos dos sentidos, mente e Alma.

Somente quando esses elementos se combinam de forma apropriada é que a vida surge. E, quando essa combinação já não atende mais ao seu propósito, a vida deixa de existir.

É nesse ínterim entre nascimento e morte que o Ayurveda atua.

Ayurveda: a ciência da longevidade

Ayurveda é um sistema de medicina tradicional que se originou no subcontinente indiano há cerca de 5 mil anos. Originalmente, esse conhecimento era transmitido em um sistema chamado guru-shishya parampara, ou seja, de mestre para discípulo.

Somente em meados do século I AEC esse conhecimento começou a ser sistematizado de forma escrita, dando origem ao que conhecemos hoje como textos clássicos do Ayurveda ou Samhitas.

Mas o que esses textos nos dizem?

De forma geral, os Samhitas trazem diretrizes muito precisas sobre condutas que devemos desenvolver para termos uma vida longa.

Também abordam uma variedade de doenças e seus respectivos tratamentos, sempre com o intuito de que possamos viver o máximo possível com a melhor qualidade possível.

Tudo isso, para que tenhamos a oportunidade de realizar os purusharthas, ou objetivos da vida humana: dharma, artha, kama e moksha.

Dharma é a retidão de propósito, a realização de ações benéficas para o mundo. Artha é a prosperidade em todas as suas nuances. Kama é o desfrute da vida, o prazer. E moksha é a libertação de todos os apegos da matéria.

Nesse sentido, mais do que um sistema de medicina capaz de tratar os mais diversos tipos de doenças, o Ayurveda também é um caminho de autodescoberta, no qual podemos encontrar ensinamentos muito profundos sobre a nossa própria existência.

A auto-observação é o começo de tudo

Seja você terapeuta Ayurveda ou não, vai descobrir nos textos clássicos que uma vida saudável e longeva começa com a auto-observação.

Dentro das rotinas diárias indicadas, após levantar-se no brahma muhurta — cerca de uma hora antes do nascer do Sol —, a primeira coisa que você deve fazer é observar o seu corpo.

Ao observar suas funções biológicas, seu nível de descanso e atividade mental, você tem condições de determinar quais serão suas condutas no dia, desde a prática de atividades físicas até o tipo de alimento que você vai consumir.

Essa simples atitude diária também permite que você identifique quaisquer desequilíbrios de saúde, desde uma indigestão até sintomas mais preocupantes.

O alimento é o seu remédio

Assim como outros sistemas de medicina ancestrais, o Ayurveda considera que o alimento é o nosso maior remédio.

Se temos uma alimentação saudável, equilibrada e condizente com a nossa constituição natural, as chances de adoecermos serão muito menores. Mas, mais do que isso, também podemos tratar boa parte das nossas doenças com mudanças alimentares.

Isso nos dá maior autonomia com relação à nossa saúde, porém, também mais responsabilidade. Afinal, ter mais saúde passa a ser uma questão de escolha pessoal.

O sono é seu maior aliado

Para o Ayurveda, além de uma alimentação saudável, também precisamos ter o descanso adequado. É dessa forma que o nosso organismo se recompõe do desgaste diário e se renova constantemente. Mas não estamos falando de qualquer sono.

O entendimento do Ayurveda é de que só realmente dormimos quando todos os nossos sentidos — visão, tato, olfato, audição e paladar — estão completamente inativos. Ou seja, nada de celular, luz acesa ou TV ligada. Por essa razão, os textos clássicos também trazem orientações claras sobre rotinas noturnas que devemos adotar para ter uma vida mais saudável.

Entre elas, estão realizar a última refeição antes do pôr do sol e recolher-se para atividades mais amenas durante a noite, como a leitura de um bom livro físico ou a meditação.

A Natureza é a sua guia

O Ayurveda também nos orienta a observar os ciclos da Natureza para que possamos compreender os nossos movimentos internos e externos. Ou seja, voltarmos a nos conectar com o que verdadeiramente somos: parte intrínseca dela.

Nesse sentido, devemos observar os movimentos da Lua e do Sol, as mudanças das estações e o clima da região onde moramos. Com base nessa observação, precisamos adotar rotinas próprias a cada uma dessas mudanças, visando sempre manter o equilíbrio do nosso organismo.

Desse modo, podemos nos adaptar mais facilmente às nuances do nosso meio ambiente e evitar que os problemas de saúde surjam. Logo, podemos experienciar esse hiato entre nascimento e morte com toda a disposição e potência que podemos ter.