Em 1992, Naoko Takeuchi revolucionou a indústria dos mangás ao lançar sua obra de maior impacto e praticamente criar o gênero Mahou Shoujo. O mangá seria chamado de Bishōjo Senshi Sērā Mūn, ou como ficaria conhecido no mundo inteiro, A Guerreira Lunar, Sailor Moon.

O gênero Mahou Shoujo (Mahou = Magia e Shoujo = Menina) já existia antes do lançamento de Sailor Moon; contudo, quando Naoko lançou sua obra, nem ela imaginava o tremendo impacto que ela causaria, não apenas no mundo dos mangás, mas também no mundo inteiro.

Antes da publicação de Sailor Moon, o gênero Shoujo não era tão popular mundialmente. Com apenas pouquíssimas exceções, o gênero era muito consumido apenas pelo seu público-alvo. Quando Naoko surgiu com Sailor Moon na revista Nakayoshi, o que parecia apenas mais uma publicação acabou se tornando um dos maiores fenômenos já vistos no Japão e no mundo inteiro.

O mangá foi publicado em 52 capítulos, divididos originalmente em 18 edições, depois rearranjados em 12 edições na edição de luxo e, por fim, em 10 edições na edição de colecionador.

A história de Sailor Moon é sobre Tsukino Usagi (o nome da protagonista é literalmente um jogo de palavras e significa "coelho da lua". O nome se dá por conta de uma crença japonesa que diz que existem coelhos na lua e eles fazem mochi, que é um tipo de massa de arroz glutinoso).

Usagi é uma adolescente de 14 anos, burrinha e chorona. Um dia, ao se atrasar para a escola, Usagi dá de cara com uma gatinha preta com uma lua crescente na testa. Quando volta para casa, a gatinha entra no quarto de Usagi e se apresenta, dizendo que se chama Luna e que Usagi é a lendária guerreira Sailor Moon, para o desespero de Usagi.

A história então vai se desenrolando e companheiras aparecem para ajudar Usagi; elas são Mizuno Ami (Sailor Mercury), Hino Rei (Sailor Mars), Kino Makoto (Sailor Jupiter) e Aino Minako (Sailor Venus), e o seu gatinho branco Artemis. O mangá é dividido basicamente em 5 fases (essa divisão se deu mais por conta do anime do que pelo mangá, pois no mangá a história não se divide em fases). Na primeira, somos apresentados a Usagi, suas companheiras e Tuxedo Mask (Shiba Mamoru), que será o par amoroso de Usagi durante todo o mangá.

Na segunda fase é introduzida Chibi-usa (chibi = pequeno), que traz consigo um grande segredo, e Sailor Pluto (Meiou Setsuna), que vai ter uma importância maior junto de Sailor Uranus (Tennou Haruka), Sailor Neptune (Kaiou Michiru) e Sailor Saturn (Tomoe Hotaru). Na quarta fase, a história passa a dar a Chibi-usa um destaque maior, e na quinta fase, somos introduzidos às Sailors Star Light, Sailor Star Fighter (Kou Seiya), Sailor Star Maker (Kou Taiki) e Sailor Star Healer (Kou Yaten), e à maior vilã do mangá, Sailor Galaxia.

Assim como o nome de Usagi, todas as personagens são nomeadas por meio de um jogo de palavras associadas aos seus planetas, assim como todas as personagens são associadas à astronomia. Na dublagem brasileira, alguns nomes acabaram sendo modificados, com Usagi se tornando Serena, Mamoru se tornou Darien, Makoto se tornou Lita, Chibi-usa se tornou Rini e Minako se tornou Mina.

Essa adaptação, apesar de ter ajudado na difusão do anime no Brasil, acabou por tirar o contexto do nome original das personagens. Não apenas isso, mas a própria tradução de golpes, armas, nomes, títulos e outras coisas acabou por tirar muito da originalidade e do sentido colocado pela autora na obra.

Sailor Moon acabou redefinindo totalmente o gênero Shoujo e acabando por criar, de fato, o gênero Mahou Shoujo. Antes de Sailor Moon, o gênero se resumia a histórias de amor, por protagonistas mais delicadas e frágeis e traços por vezes mais “fofos”. Com Sailor Moon, Naoko virou toda essa premissa de cabeça para baixo, criando uma protagonista guerreira e suas soldadas (em japonês, elas são chamadas de Sailor Scouts) que, apesar das diferentes personalidades, são todas mulheres fortes e independentes.

O traço do mangá também é mais estético e sensual, mas mantendo a base dos desenhos shoujos da época. Além disso, com a introdução das Sailors Neptune e Uranus, Naoko tocou em um tema que, até aquele momento, era inimaginável em uma obra voltada para um maior público: o relacionamento lésbico e o gênero Queer.

Sailor Uranus é dita como uma personagem que transita entre os dois gêneros (tanto que o próprio traço da autora muda dependendo de como ela vai desenhar a personagem) e, por muitas vezes, é tratada como um homem no mangá. Além dela, as três Sailors Star Lights também são personagens que transitam de gênero na obra (quando transformadas são mulheres, mas no dia a dia estão disfarçadas como homens). Se no mangá elas estão apenas disfarçadas, no anime eles deram um passo além: as personagens mudam de sexo na hora de se transformarem.

Ao revolucionar o gênero, tocar em temas como feminismo, definição de gênero, relacionamentos homossexuais e muitos outros temas como sonhos, carreira, suicídio, etc., Naoko não apenas abriu as portas para outras mulheres, para os LGBTQIA+ e para meninas pequenas que consumiram sua obra, a autora de Sailor Moon revolucionou uma indústria inteira e deu o palco de destaque para as mulheres e a classe LGBT+, não como protagonistas frágeis e delicadas ou como personagens de piada e sátira, mas como personagens desenvolvidos e com camadas.

A evolução de Usagi, de uma adolescente chorona e preguiçosa em uma guerreira forte e uma mulher adulta, é fantástica e acabou por ressoar não apenas com as meninas e adolescentes público-alvo da Nakayoshi, mas também nas mulheres adultas, mães, avós e até mesmo a parte masculina da sociedade.

Não é exagero dizer que Sailor Moon, apesar de seus defeitos narrativos, pode ser considerado uma das maiores obras-primas e influentes na literatura mundial. Naoko Takeuchi acabou por se tornar uma autora lendária, não só no Japão, mas também no mundo. Por isso, apesar de já ter mais de 30 anos, Sailor Moon continua a ser uma grande influência para todos nós.