Viver neste plano está cada dia mais exaustivo! Estamos imersos num ambiente hostil, onde o coletivo carece de valor e força, e a individualidade se torna cada vez mais presente. Famílias deixam de ser famílias, de estar presentes, de entender nuances e valorizar conquistas de seus pares e filhos. Estamos à beira de um abismo, um colapso geral, tanto nas relações humanas quanto nas globais e naturais! O planeta sofre, devido à ganância, corrupção e poder.

E por falar em planeta, a polarização em suas diversas vertentes - políticas, pessoais, socioeconômicas - é hoje uma realidade. Não existe mais o meio-termo, o equilíbrio, devido ao individualismo. A minha opinião, meu ponto de vista, minhas atitudes, meu posicionamento, minha vida... enfim, o eu, o egocentrismo ganha protagonismo em nossas ações, deixando de percebermos, ouvirmos, sentirmos, para, imediatamente, colocarmos nossas posições, e não obstante, considerando-as certas, como verdades.

Nesse contexto, analisar o desenvolvimento do ser humano como um todo está cada dia mais desafiador. Temos crianças completamente reclusas, adolescentes imaturos e dependentes, e adultos fragilizados. A individualidade, a separação, parte daí, de todo esse histórico. A guerra ocorre por divergência de opiniões, e a faísca está lá na infância, em nossas crianças! Temos essa oportunidade em nossas mãos, de desenhar um caminho diferente, e como fazê-lo?

Primeiro, para perceber o outro com cuidado, respeito e gentileza, é preciso desenvolver um amor que nos humaniza! A maior manifestação de amor é o acolhimento, do qual carecemos hoje!

Para Eugênio Mussak, um olhar atento, um sorriso suave, uma palavra amiga representam o acolhimento, sem o qual perdemos a prerrogativa de nos considerarmos aquilo que nos orgulhamos de ser: humanos. Esse é um ponto fundamental para a formação do ser humano, em consequência às relações e ao estar neste planeta. Com esse olhar, tudo se transforma; claro que isso deveria ser comum e natural, mas não é, portanto, são essas minúcias preciosas que precisam ser colocadas em evidência.

A base de toda a concretude que é a vida inicia-se na infância, nesse lugar potente, que pulsa curiosidade, imaginação, fantasia, e nesse terreno que devemos nutrir todo o processo de humanização, de florescimento de habilidades, necessidades, afeto, segurança. Aqui, também é lugar de escuta; o silêncio fala muito e de diversas formas, a criança percebe o quanto estamos presentes a partir do ouvir, do ver, do sentir, e do se envolver. Garantindo essas minúcias, que não são tão pequenas assim, estes serão adultos dotados de segurança, de compaixão, compressão e amor.

Bruner diz que a infância é um lugar especial, onde seres humanos são convidados a desenvolver a mente, a sensibilidade, e a pertencer a uma comunidade muito maior, ela é uma comunidade de aprendizagem, onde a mente e a sensibilidade são compartilhadas. É um lugar para aprender em conjunto sobre o mundo real e sobre possíveis mundos da imaginação.

A desigualdade vem tomando grande espaço em nossa sociedade; sabemos o quanto isso influencia e limita o processo natural da vida. Os desafios são gigantes para determinados grupos de pessoas, alguns, com muitos privilégios e outros, sem o básico para viver.

Essas disparidades transformam a vida dos cidadãos, tirando muito de seus direitos e liberdade. As barreiras que as pessoas experienciam têm grande relevância e impossibilitam o crescimento, o conhecimento, os sonhos... O viver, dentro de uma sociedade classificatória, que embarreira o ciclo natural das coisas, acaba se tornando o sobreviver. Aniquilando todo processo criativo do ser, esse discurso dominante ao qual nos referimos está inscrito em valores altamente calculistas e instrumentais em práticas administrativas, a fim de produzir resultados normativos predefinidos. A ideia é que “salvará” o mundo das incertezas, dos confrontos e problemas políticos e éticos que estão arruinando nosso mundo.

Para Carla Rinaldi, oferecer um senso de pertencimento às pessoas é desconstruir o presente e reconstruir o futuro, proporcionando uma provocação à política e à ética por meio do ato de pensar diferente e, assim, construir um novo horizonte de possibilidades e novos rumos para mudanças futuras.