Se você esteve no YouTube ultimamente, pode ter se deparado com alguém afirmando que a energia eólica e solar não funcionam, que o aumento do nível do mar ajudará os recifes de coral a florescerem ou que os cientistas climáticos são corruptos e alarmistas.

Todas essas são declarações falsas e enganosas retiradas de um punhado de milhares de vídeos do YouTube analisados pela organização sem fins lucrativos Center for Countering Digital Hate (CCDH), que identificou uma mudança gritante nas táticas dos negacionistas climáticos nos últimos anos. Onde antes os negacionistas do clima rejeitavam abertamente as mudanças climáticas como uma farsa ou fraude, ou afirmavam que os humanos não eram responsáveis por elas, muitos agora estão mudando para uma abordagem diferente, que tenta minar a ciência climática, lançar dúvidas sobre as soluções climáticas e até mesmo afirmar que o aquecimento global será benéfico na melhor das hipóteses, inofensivo na pior.

Os negacionistas climáticos são indivíduos ou grupos que rejeitam ou minimizam o consenso científico sobre as mudanças climáticas, particularmente aquelas mudanças atribuídas às atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, que liberam gases de efeito estufa na atmosfera. Eles atuam para desacreditar o trabalho científico por várias razões, que podem ser categorizadas da seguinte forma:

Interesses econômicos

  • Indústrias de Combustíveis Fósseis: Algumas das maiores fontes de financiamento e apoio ao negacionismo climático vêm de empresas e grupos de interesses ligados à indústria de petróleo, carvão e gás natural. Essas indústrias têm muito a perder financeiramente se o mundo se afastar dos combustíveis fósseis em direção a fontes de energia mais limpas e renováveis, devido à regulação das emissões de carbono.
  • Lobbies e Grupos de Interesse: Organizações e lobbies que representam essas indústrias frequentemente financiam pesquisas que questionam o consenso científico sobre as mudanças climáticas e promovem políticas públicas contrárias à regulação de emissões de gases de efeito estufa.

Ideologia política e econômica

  • Liberalismo Econômico/Conservadorismo: Alguns negacionistas climáticos estão motivados por crenças ideológicas que favorecem o mercado livre e a mínima intervenção governamental na economia. Eles veem as políticas de mitigação das mudanças climáticas, como impostos sobre carbono ou regulamentações ambientais, como ameaças à liberdade econômica e à soberania nacional.
  • Ceticismo Institucional: Uma desconfiança geral em relação às instituições científicas e governamentais também alimenta o negacionismo climático. Alguns percebem a ciência climática como politicamente motivada ou como uma forma de controle social e econômico.

Desinformação e falta de informação

  • Campanhas de Desinformação: Muitas vezes, informações enganosas ou incorretas sobre as mudanças climáticas são disseminadas por meio de campanhas de desinformação, patrocinadas por interesses contrários à ação climática. Essas campanhas visam confundir o público e desacreditar a ciência climática.
  • Falta de Compreensão Científica: A complexidade da ciência climática pode ser um desafio para o público em geral, levando a mal-entendidos ou à aceitação de narrativas simplificadas que negam a gravidade ou a causa humana das mudanças climáticas.

Por que eles agem para desacreditar o trabalho científico?

A principal motivação é proteger seus interesses econômicos, ideológicos ou políticos. Ao semear dúvidas sobre a validade da ciência climática, esses grupos e indivíduos esperam retardar ou impedir políticas que poderiam prejudicar seus interesses financeiros ou ideológicos, como regulamentações ambientais rigorosas ou a transição para uma economia de baixo carbono.

A batalha contra o negacionismo climático transcende a simples contestação de dados e teorias equivocadas. Ela se enraíza profundamente na necessidade de aprimorar a maneira como comunicamos a ciência, tornando-a mais acessível e compreensível para o público em geral. Esta tarefa desafiadora implica não só em desmentir mitos persistentes e informações distorcidas, mas também em adotar estratégias eficazes de educação e comunicação que destaquem a relevância e a urgência das mudanças climáticas.

Ao nos debruçarmos sobre a ciência climática, é essencial reconhecer que seu entendimento vai além do conhecimento técnico; trata-se de compreender suas implicações profundas para nossa vida cotidiana, economia, saúde e bem-estar. Educar o público, portanto, significa fornecer não apenas fatos, mas também contextos, explicando como o clima interage com diversos aspectos da sociedade e do meio ambiente, e quais as consequências tangíveis de nossa inação.

Além disso, enfrentar o negacionismo climático requer uma abordagem sensível e inclusiva às preocupações legítimas que algumas pessoas têm sobre as políticas de mitigação das mudanças climáticas. Há um temor compreensível em relação ao impacto econômico dessas políticas, particularmente nas indústrias mais dependentes de combustíveis fósseis e nas comunidades que delas dependem para subsistência. Portanto, é crucial que as estratégias de mitigação sejam acompanhadas de planos de transição justa, que considerem e alinhem diferentes valores e interesses econômicos.

Isso envolve, por exemplo, investir em tecnologias verdes e renováveis que não só reduzam a emissão de gases de efeito estufa, mas também criem novas oportunidades de emprego e crescimento econômico. Implica também em oferecer formação e recolocação profissional para aqueles cujos empregos são afetados pela transição energética, assegurando que ninguém seja deixado para trás.

Em suma, enfrentar o negacionismo climático é um desafio complexo que exige uma abordagem multifacetada. Refutar informações incorretas é apenas o início; é necessário também aprimorar a comunicação científica, educar de maneira eficaz e inclusiva, e desenvolver políticas de mitigação que sejam social e economicamente justas. Somente assim poderemos construir um consenso mais amplo sobre a necessidade urgente de agir diante da crise climática, garantindo um futuro sustentável para todos.