Agora, numa segunda era moderna de estudo, uma pesquisa dos conceitos de Diplomacia Económica se apresenta pela actuação do primeiro embaixador diplomata económico do Brasil, que está registado na biografia de Teresa Carneiro, sobre este personagem. Otávio Carneiro, economista e embaixador, deu diversas contribuições ao plano económico e desenvolvimentista brasileiro, nomeadamente no ámbito do comércio e da economia internacional, com a atuação em organismos internacionais como o GATT, actual OMC e desde já na sua criação em Bretton Woods, após a II Grande Guerra. Aí vão idos, os anos 1945-1950.

Muitas das visões deste embaixador, como a criação de um banco internacional da exportação, foi constatação óbvia, porém atemporal, devido ao analfabetismo geral nesta matéria à sua época. E que muito persiste ainda hoje, em certos aspetos políticos internacionais, como forma de resistência à globalização e ao comércio interdependente mundial. Exceto aos mais letrados, profissionais e estudiosos da área, não se reconhecia teoricamente ainda, a abrangência de tal processo de globalização económica pela diplomacia que, mesmo se inconscientemente o fôra, ajudou a moldar. Ao fim das grandes guerras tinha-se como principal motivo multilateral, estimular e pavimentar o intercâmbio comercial internacional, através de uma paz duradoura e contínua.

Chamemos também cá, o embaixador portugués em Inglaterra no séc XVIII, o Marqués de Pombal que, na sua administração imperial do Brasil, conduziu a expulsão dos jesuítas para, quiçá permitir uma possível mescla dos diferentes povos e etnias que lá viviam, para então poder dar corpo e desenvolver mão-de-obra e mercados consumidores mais populosos. Índios e escravos, portanto, foram autorizados a reproduzirem-se com europeus.

O mercantilismo da época favorecia inclusive, estímulos muito exclusivos, para monopólios de comércio internacional e com a metrópole, quando parentes do Marqués — segundo autores como Russel 1 — eram indicados para postos nas províncias do Maranhão e Grão-Pará. E, para comandar o transporte marítimo internacional do Atlántico. A diminuta população portuguesa e, a atuação religiosa dos jesuítas na educação e na catequização dos indígenas, impedia uma rápida miscigenação entre as culturas e os povos, não criando assim volume populacional. E nem mão-de-obra suficiente.

Outra nova palavra aparece para a Diplomacia Económica sendo esta a Diplomacia Financeira, que reduz os impostos aos investimentos diretos internacionais. Assim, também já aparecem as guerras cambiais que, sendo guerras financeiras, bancárias e aduaneiras, interferem diretamente com desincentivos comerciais internacionais, através de incentivos fiscais, ao movimento internacional do capital, que a globalização neoliberal da era digital veio a permitir e estimular. Investidores estrangeiros, estão sendo incentivados de diversas formas a transnacionalizarem-se, à exemplo do que os próprios diplomatas desenvolveram, nessa carreira histórica, desbravando novos mercados.

A consolidação da União Européia e a globalização, como seus históricos antecessores idealizaram, teve o acordo franco-alemão do carvão e do aço — CECA 2, como marco da criação deste bloco económico. Anos de planeamento, desenvolvimento e efetivação desta nova realidade, não haveriam progredido tanto, se não fossem positivos.

Diplomaticamente, trata-se talvez, do maior feito económico internacional após os adventos dos Descobrimentos, que este mesmo processo aventureiro desencadeou. Uma unificação económica, política e financeira, de povos vizinhos, culturalmente diferentes, mas interdependentes, que no passado frequentemente encontravam situações e momentos de divergência e conflitos, diversos.

Leremos nos livros históricos de recitados autores ingleses e portugueses, que os benefícios e tributos oferecidos nas trocas de mercadorias em alfândegas de destino, descarregadas no porto ou em seus depósitos feitorias, estes atos económicos eram quase que o assunto principal daqueles diplomatas. Operadores estes que, representavam el Rei e seguiam com a incumbência da conquista de novos mercados, fontes de fornecimento de especiarias exóticas e também, a conversão de novos cristãos. Questão esta da sólida associação entre o Reino Portugués com a Santa Sé e o Vaticano, naqueles séculos XV à XIX. Assim, a diplomacia permanece uma ferramenta de informação e diálogo político-estratégica que, hoje transformada em pauta económica, tem evoluído conjuntamente com a globalização, a qual ajudou a criar e estimular.

Charles Boxer por exemplo, é o grande autor e estudioso da Idade Média portuguesa e dos seus descobrimentos. Cito-o e, sempre o citam outros pesquisadores sobre os desenvolvimentos comerciais diplomáticos bem como, religiosos do império portugués que vão desde o Brasil, até Nagasaki no Japão. Jesuítas, mercadores, aventureiros, órfãos, eram as tripulações que desbravavam novas terras, geografias e mercados, como foi o seu principal tripulante: o Almirante Vasco da Gama, na descoberta do caminho das índias orientais, através do Cabo da Boa Esperança, na África do Sul. Alguns autores, como o próprio Almirante, escreveram sobre o Império Portugués e procuraram resgatar a honra e orgulho do povo portugués ao escrever os seus feitos ao redor do globo, que deu origem ao processo hoje chamado globalizacão. Podemos afirmar que o primeiro Diplomata Económico, foi Vasco da Gama, representando oficialmente os interesses políticos, tributários e comerciais da coroa portuguesa e indissociavelmente da Santa Sé, abrindo mercados ao longo da costa africana e na India, através do escambo, das trocas comerciais, importação e exportação e o desenvolvimento de representação comercial e as tais feitorias.

Notas

1 O que é a Diplomacia Económica?, Diogo Ribeiro, Lisbon International Press.
2 Diplomacia Moderna e Relações Comerciais Internacionais, idem.