Para quem não sabe, sou um poeta. Durante muito tempo, não admitia essa minha face; escrevia até uns poemas, mas jogava tudo fora depois. Achava que isso não era para mim, sei lá, não gostava de poesia. Fui, muitas vezes, duro comigo mesmo e com os poetas que nos enchem de lirismo na forma de palavras. Mas, enfim, um dia me descobri poeta de verdade. A poesia estava em mim, e eu a encontrei meio que por acaso, mas isso, agora, não vem ao caso. Me arrependi de ter sido tão idiota.
Desde então, o poeta que escreve essa crônica fala sobre flores. Nada mais poético do que flores para a amada, apesar de ser um clichê, mas é um adorável clichê, diga-se de passagem. As flores têm o poder de mudar o humor de alguém, não só das mulheres, apesar de elas gostarem muito de receber um belo buquê, mas também dos homens. Deixemos de ser machistas! A beleza está ali, talvez toda a beleza e delicadeza do mundo estejam nas flores, rosas, margaridas, orquídeas e outras milhares que enfeitam esse mundo lindo.
Mas flores não são apenas aqueles vegetais tão belos que enfeitam jardins e as salas dos amantes apaixonados; elas estão contidas em atitudes gentis entre as pessoas. Nada mais belo, em na vida, além do amor, pois sem ele não seria possível haver a gentileza. Já dizia o grande sábio popular: "gentileza gera gentileza". E quanto mais gentileza, mais gentileza é enviada, num círculo virtuoso, de amor e felicidade.
A gentileza parte, em princípio, do amor. As flores são símbolos perfeitos do amor. Então, um ato de gentileza é como se você entregasse na mão de outra pessoa uma flor cheia de significados, sendo o mais sublime: amor. Pessoas gentis são como jardins floridos, belas, coloridas e perfumadas em suas almas. Elas levam em si todas as flores, em seus tons e cheiros.
Ao fazer um ato de gentileza, fica uma sensação de orgulho em nós. Não aquele orgulho soberbo, mas de felicidade, essa maior do que a sentida pela pessoa que recebeu o gesto de gentileza. Eu me sinto assim quando tenho a oportunidade de ser gentil com alguém, muito mais vivo e feliz. Como as flores, a gentileza nos faz feliz.
O mundo hoje precisa de gentileza. As pessoas estão se esquecendo que somos todos iguais, que não vale a pena nos machucar por conta de política, de futebol e divergências pessoais, quaisquer que sejam. Insistem em querer ganhar tudo no grito, intimidando e com falta de educação. Mesmo pessoas esclarecidas, cheias de diplomas e títulos, se acham melhores do que os outros simplesmente por esse motivo. Um título qualquer não faz de você melhor do que ninguém, entenda isso!
Eu falo de flores toda vez que dou a minha mão a uma pessoa e digo a ela: “pode confiar”, fazendo com que confie realmente em mim. Eu não solto sua mão em hipótese alguma, a não ser que eu sinta que estou segurando uma pessoa vazia e que isso está me puxando para baixo. Pois ao segurar a mão de alguém, a intenção deve ser puxar a pessoa para cima e não afundar junto com ela. Um precisa ajudar o outro, a pessoa precisa saber receber uma ajuda para ser realmente ajudada.
O mundo seria bem melhor se, no lugar de atirarmos os espinhos uns nos outros, déssemos, em mãos, as flores livres deles, que na natureza são apenas defesas das flores contra seus predadores e não armas para ferir atacando quem se aproxima. A flor é um carinho que a natureza faz aos homens; ela deixa menos áspero o mundo, colore, como em uma aquarela, a vista de cada ser humano.
Flores, quando beijadas pelas abelhas, tornam-se mel, que adoça a vida. O doce é sinal de felicidade, alegria em forma de sabor. As abelhas de alguma forma sabem disso, pois sistematicamente fazem seu trabalho diariamente, de flor em flor, em busca do néctar que vai se tornar mel, adoçante natural da vida dos humanos. Que, de forma desumana, promovem a matança das abelhas, jogando no ar venenos poderosos, tendo como resultado sua própria destruição futura.
Cada fruto que comemos vem de uma flor, que atraiu uma abelha com o seu doce suco, para usar o pequenino corpo do inseto como meio de transporte até outra flor. Assim fecunda-a para que, ao secarem suas pétalas, se torne alimento. Flores que, além da beleza, nos alimentam, gentileza da natureza para com os outros seres vivos. Cadeia alimentar, cadeia de gentilezas e amor entre espécies.
Tenho certeza de que nem as flores e muito menos as abelhas sabem o que fazem por nós. Uma se faz bela e doce para atrair a outra que precisa se alimentar. E as duas juntas, cada uma em busca de suprir suas necessidades, buscando a sobrevivência, garantem que os humanos permaneçam vivos e alimentados também, simplesmente fantástico. As flores têm essa grandeza de se fazerem alimento tanto na sua forma primitiva quanto depois de secas suas pétalas.
A vida sem alegria é vida vazia, a vida sem as pequenas gentilezas torna-se árida. Fazer da vida um jardim em flores não é muito difícil; é só não se deixar levar pela raiva, compreender o outro. Mas isso não quer dizer ser capacho; lembre-se que as flores têm seus espinhos para se defenderem dos algozes, tenha os seus, mas não para atacar, defenda-se!
Além do mais, “fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas”, como diz a música cantada na igreja na hora do ofertório. A oferta, não importando seu valor, posta ali na cestinha com amor é uma flor de generosidade compartilhada por quem deposita ali sua moeda. Um gesto que representa um agradecimento pelas conquistas, partilhando com quem pouco ou nada tem a colher. É a mão que se dá a quem precisa.
Flores são gentilezas de Deus para com as pessoas, é a forma de Ele dizer: “amem-se uns aos outros! Assim declaro meu amor por vocês, na forma de beleza e perfeição.”