Todos os dias, observamos pessoas sem rosto em diversas situações, seja nas corridas pelo metrô, nos táxis ao redor do mundo, nos teatros, nos shows, nas calçadas, nas praias e nos campos. Elas passam despercebidas, sem rostos, e não sabemos quem são, de onde vêm ou para onde vão. São corpos flamejantes que transcendem as verdades do tempo. Enquanto caminham, são acompanhadas pela tradicional arquitetura, os gigantescos prédios que se misturam entre o antigo e o novo. Em meio ao caos, pessoas sem rosto param para um café, misturando-se num balé de vozes, gestos, culturas, influências e sonhos.
Pessoas sem rosto também caminham sem compromissos, muitas vezes sentindo-se obrigadas. Algumas não têm para onde ir e frequentemente não percebem a direção que estão tomando, agindo pura e simplesmente pela necessidade de mover-se. O cotidiano vai além do simples ato de perambular; pode ser desencadeado pelo desejo de procurar algo ou alguém, como um familiar, um amigo ou uma pessoa especial. A verdade é que ninguém consegue decifrar o que se passa dentro do coração de uma pessoa sem rosto.
Elas vivem como querem! Ao retornar para casa, compartilham seus troféus, fotos, lembranças e experiências adquiridas. Em seguida, distribuem essas lembranças, na esperança de que o amanhã possa trazer uma nova oportunidade. Para as pessoas sem rosto, o final do dia, uma experiência incrível, transforma-se em um tolo filme reprisado, um preço que se paga pela vida que se leva. E se não fosse assim? O mundo não nos permite vislumbrar os rostos, seu relógio é impecavelmente adiantado à nossa vontade, o que, diante do teatro da vida, se completa. É tão angustiante não perceber que, por detrás de nós, pessoas sonham, esperam, caminham. Elas não têm rostos, mas têm vidas!
Uma rotina típica no Brasil é a presença de pessoas pelo chão, doentes, drogadas, exercendo a mendicância como profissão, vivendo toda sorte de atrocidades morais, subjugadas pela falência do amor, que caminha cada vez mais escasso nesse país. Eles estão lá, pessoas sem rostos! Outra realidade, porém positiva, são os artistas de rua, cada um com sua habilidade, cortando a carne com o suor do rosto para mostrar à sociedade suas técnicas de sobrevivência. São músicos, comediantes, estátuas vivas, jogadores de futebol, entre outros tantos. Seja enfrentando sol ou chuva, eles estão lá, pessoas sem rostos! Quem são todas essas pessoas? Elas poderiam fazer parte de nossas vidas? Poderiam jantar, brincar, nos amar? Esse mar de gente é, com certeza, parte de nossa jornada na terra! Não podemos nos furtar da realidade de que somos parte integrante desse processo. Pelo lado oposto do retrovisor, também somos pessoas sem rostos, e isso nos molda da mesma forma que a criação divina.
As cidades pelo mundo se assemelham a um imenso e indecifrável caleidoscópio, que, sem lógica e dependendo da luz e da direção em que se olha, forma diferentes imagens sobre o espaço, com distintas visões de memórias futuras. Temos, na rotina de caminhar vendo pessoas sem rosto, a experiência do relacionamento entre pessoas, sentimentos e lugares. Desta forma, aprendemos sobre o cotidiano de todos, de um espaço jamais imaginado. Não levamos em conta as mudanças demográficas no mundo. Cada dia, mais pessoas, incluindo famílias, estarão nas ruas das cidades, todas sem rosto! Enquanto isso, a população envelhece a passos largos, o que significa que precisarão de mais atenção.
O mundo precisa melhorar para que pessoas sem rostos tenham mais visibilidade, mais atenção, possibilitando sentimentos de conexão social e inclusão, tornando-as mais elegíveis para amar e ser amadas, para a melhora da vida e do bem-estar de todos.
Em meio a esse espetáculo visual, as pessoas sem rosto são como personagens ocultos, caminhando pelas vielas multicoloridas da cidade. Sob a imponente arquitetura e as nuances artísticas que adornam o Porto, a presença silenciosa desses indivíduos anônimos destaca a dualidade entre a visibilidade arquitetônica e a invisibilidade humana. O contraste entre o esplendor das fachadas e a falta de rostos visíveis ressalta a complexidade e a diversidade que coexistem nas ruas da cidade. Em última análise, a interação entre a arquitetura marcante e as vidas sem rosto cria uma narrativa única, convidando-nos a contemplar a interseção entre a beleza visual e a presença humana nas paisagens urbanas do Porto.