Existem diferentes formas de entendermos o narcisismo, mas uma das mais influentes foi a proposta pelo Neurologista e Psicanalista, Sigmund Freud, com o conceito de narcisismo, que se refere ao transtorno obsessivo pela própria imagem, considerado uma patologia que afeta a capacidade de se relacionar com os outros.
O narcisismo é um conceito da psicanálise que se refere ao amor excessivo de uma pessoa por si mesma ou por sua própria imagem. O termo se inspira no mito de Narciso, é uma história da mitologia grega que narra como o rapaz Narciso se apaixonou pelo próprio reflexo na fonte de água. O mito ensina que o excesso de vaidade e falta de empatia pode ser prejudicial ao individuo narcísico. O narcisismo é um aspecto importante do desenvolvimento pessoal, mas pode se tornar patológico quando é exagerado ou distorcido.
Para Freud, o narcisismo é um processo que marca a passagem do autoerotismo, ou seja, do prazer que é concentrado no próprio corpo, para a eleição de outra pessoa como objeto de amor. Essa passagem envolve a separação entre a libido do eu, que é a energia psíquica voltada para si mesmo, e a libido do objeto, que é a energia psíquica voltada para os outros. Uma fase importante na vida do bebê, que vai se refletir na vida adulta na maneira que nos relacionamos com o outro. Para o psicanalista Alexander Lowen, que foi um médico e psicoterapeuta norte-americano, criador da terapia bioenergética que desenvolveu a psicoterapia mente-corpo baseada nas ideias de Wilhelm Reich, narcisismo é um conceito que se refere à negação do verdadeiro self, ou seja, da essência autêntica de cada pessoa. Lowen, acreditava que os narcisistas sofriam de uma desconexão entre o corpo e a mente, que os impedia de sentir e expressar suas emoções genuínas. Em vez disso, eles se apegavam a uma imagem idealizada de si mesmos, que buscavam projetar e defender a todo custo, ignorando as necessidades e os sentimentos dos outros.
Freud e Lowen identificaram dois tipos de narcisismo: o primário e o secundário. O narcisismo primário é o estado natural da criança, que se sente o centro do mundo e não tem consciência de si mesma como um ser separado dos outros, a criança investe toda a sua libido no seu próprio eu, que é idealizado e onipotente. Nesse estágio, a criança depende do amor e da aprovação dos pais para desenvolver sua autoestima e sua identidade. O narcisismo secundário é o estado posterior em que a criança começa a se relacionar com os outros e a transferir parte da sua libido para os objetos externos, é o estado que surge quando a criança não recebe o amor e a atenção suficientes dos pais, ou quando sofre algum tipo de abuso ou rejeição. Nesse estágio, a criança ainda mantém uma parte da sua libido no seu próprio eu, mas também desenvolve o ideal do eu, que é uma instância que representa os valores e as expectativas da sociedade, a criança se fecha em si mesma e se isola dos outros, desenvolvendo uma falsa imagem de si mesma, baseada na negação de suas carências e de suas vulnerabilidades.
O narcisismo é considerado normal e saudável quando permite ao indivíduo ter uma autoestima equilibrada e um reconhecimento dos seus limites e das suas potencialidades. No entanto, o narcisismo pode se tornar patológico quando o indivíduo não consegue estabelecer uma relação satisfatória com os outros e se fecha em uma autoimagem de superioridade e de perfeição. Nesse caso, o indivíduo pode apresentar traços de personalidade narcísica, como a grandiosidade, a necessidade de admiração, a falta de empatia, a exploração dos outros, a inveja, a arrogância e a agressividade.
A psicanálise oferece uma forma de compreender e de tratar o narcisismo patológico, que envolve a análise das causas e das consequências desse fenômeno na vida do indivíduo. A terapia psicanalítica visa ajudar o indivíduo a reconhecer e a superar as suas feridas narcísicas, que são as experiências traumáticas que afetaram a sua autoestima e a sua confiança. Além disso, a terapia psicanalítica busca promover o contato do indivíduo com outras possibilidades de ver o mundo e de aceitar as outras pessoas, respeitando as suas diferenças e as suas singularidades.
Lowen afirmava que o narcisismo secundário era uma forma de defesa contra a dor e o medo de ser abandonado ou ferido pelos outros. Porém, essa defesa também impedia o narcisista de experimentar o amor e a alegria de viver, pois ele se tornava incapaz de se relacionar de forma autêntica e empática com os outros. Lowen propunha que a terapia bioenergética, que é uma abordagem que integra o trabalho corporal e o trabalho psicológico, poderia ajudar o narcisista a recuperar o contato com seu verdadeiro self, através da liberação das tensões musculares e da expressão das emoções reprimidas.
Muitas vezes não entendemos o comportamento narcísico, precisamos estudar e nos informar para identificar em nossos relacionamentos, sejam eles sociais ou familiares. O mais importante é identificar e perceber que a convivência com pessoas narcisistas pode nos prejudicar em nosso desenvolvimento psíquico nos tornando cada vez mais submissos, e na maioria das vezes não conseguimos desvencilhar desse tipo de relacionamento.
É preciso procurar ajuda de um profissional para nos reconhecer como pessoa e nos libertar de relacionamentos como este, que na maior parte será sempre abusivo.
Quando acontece de conviver com um narcisista é preciso um tratamento terapêutico para fortalecer a autoestima perdida na convivência, e fortalecer a estrutura e formação do self, caso contrário poderá se tornar vítima novamente de relacionamentos idênticos através de comportamentos repetitivos.