As pessoas costumam brincar dizendo que sentir “borboletas no estômago” é coisa de gente jovem. Eu discordo. Sentir o “frio na barriga”, emoção, ansiedade em fazer algo novo é coisa de quem tá vivo, vivendo. A gente costuma “travar” quando vai fazer algo pela primeira vez. Às vezes o medo faz isso. Somos levados com a enxurrada do tempo.
Te pergunto, você sabe seu tempo? Quanto tempo você tem? Impossível pensar na vida, em viver, sem pensar que há um fim. A vida acaba e esta é a única certeza que temos. Todo mundo viveu ou vai viver o luto. Tudo mudou quando me perguntei “E se eu morresse hoje, partiria feliz?”
A resposta foi não!
Te convido a se fazer esta pergunta. Talvez leve um tempo de processamento. Cada um tem seu tempo, mas em comum, temos a certeza da incerteza sobre quando será.
Alguns teriam feito outra faculdade, trabalhariam com outras coisas ou gostariam de ter o próprio negócio. Outros, gostariam de saltar de paraquedas ou teriam cuidado das suas palavras, o excesso de sinceridade. Pessoas gostariam de se conhecer melhor, praticar mais o autocuidado ao ponto de se preservar de relacionamentos abusivos.
Há quem morra infeliz por não ter aprendido a dirigir ou por ter aprendido, mas o medo foi maior que a coragem da execução.
Há quem morra infeliz por não conseguir falar em público. Fico imaginando o quanto estas pessoas incríveis têm a dizer e o medo não permite.
Um monte de gente morreria infeliz por não ter vivido de forma mais egoísta, fazendo o que de fato gostam, vivido de forma mais livre, sem medo do que os outros pensam, sem medo de discordar da opinião das pessoas que elas amam.
Um bocado de infelicidade causada pelo medo do que vão pensar. Muitos teriam viajado a lugares específicos e há quem tenha ido, mas queria ter ido sozinho. Há também, quem morreria infeliz se não tivesse esbarrado nessa vida com pessoas específicas e há quem morra infeliz por ter esbarrado com pessoas específicas.
Parece simples, mas o medo é intransferível e extremamente pessoal. O medo do julgamento está na maioria dos relatos. A gente tem medo de dirigir porque vão dizer “barbeiro”, medo de falar em público porque vão dizer “é besteira, tá falando asneira”. Medo de ir sozinho e pensarem, em especial as mulheres “tá procurando problema indo sozinha. Mulher não faz nada sozinha”.
Muitos morreriam tristes por não terem resolvido conflitos com outras pessoas, em especial, com a família. Muitas mulheres com medo de não terem filhos ou não encontrarem parceiros com o mesmo sonho. Muitos morreriam tristes por não terem comemorado momentos específicos, como aniversário de 1 ano do filho, renovação dos votos de casamento, uma lua de mel dos sonhos e até mesmo medo de não casarem.
Esse texto poderia ser triste mas lendo com afeto, entendemos que o não ter feito é um detalhe perto das possibilidades, afinal, enquanto se respira, há vida. Seria tão sem razão de ser e estar se não fossem os sonhos, planos e objetivos. Talvez a realização plena, aquela que preenche todos os pontos da nossa vida não exista, e a gente precisa aprender a lidar com isso, na verdade, alguns já fazemos isso, mas talvez, não nos damos conta. O sentimento de incapacidade sempre nos visita, somos imperfeitos, pelo simples fato de sermos seres humanos.
Somos humanos e portanto imperfeitos, mas não incapazes. São coisas distintas. Sabe o que é lindo? Todos os relatos estão vivos, de pessoas vivas, ou seja, há tempo. Que possamos nos comparar cada vez menos e nos importar cada vez menos em atender o “padrão” do que esperam de nós ou que nos é imposto. A vida é hoje, agora e tudo nela é possível. Permita tirar do casulo sua borboleta e verá que ela é linda exatamente do início ao fim do seu processo. Estou com você. Só vai!