A história é feita por agentes sociais (singulares ou colectivos). Estes são os sujeitos da história: os que por um lado são alvo dos constrangimentos sociais que pesam sobre si e, por outro, activos intervenientes sobre esses constrangimentos.

No ocidente, o estudo sobre a história da humanidade (seja por meio das sociedades ou fenómenos) foi durante muito tempo focado apenas em algumas figuras, consideradas excepcionais e destacáveis entre a multidão das massas: os heróis clássicos, sejam eles animais, deuses ou humanos.

Entretanto, com o advento da História Contemporânea, e em resultado de diversos contributos anteriores, traz-se os novos domínios/conceitos e actores para a História como os “outros sujeitos históricos” - que não somente os “heróis” e personagens políticos como era então de “praxe”. A ideia do herói marginal reflecte assim estes novos sujeitos históricos que passavam a margem nas narrativas oficiais, dai designadas de “marginais” na História (trabalhadores diversos, as mulheres, minorias sociais, etc.) em dado contexto.

Não obstante este avanço, e como herança histórica da “velha história”, actualmente persiste em diversos contextos (e mesmo fora do âmbito da ciência histórica) uma consciência de que somente algumas figuras fazem história, somente alguns são importantes. Devido a esta mentalidade altamente impregnada em nossa consciência temos, como indivíduos, grande tendência em sobrevalorização da cultura e património cultural alheio e fraca noção real do valor e importância do que é próprio, seja individual, familiar ou comunitário. Lemos biografias dos que consideramos “grandes homens”, visitamos museus biográficos, assistimos a filmes biográficos de personagens que consideramos históricas. Entretanto em meio a isso não paramos para considerar o quão somos igualmente sujeitos históricos e como temos igualmente histórias de interesse.

Contrariamente a estas concepções, facto é que todos somos vencedores, todos somos heróis, todos somos protagonistas de nossa própria existência. Somos influenciados e influenciamos o nosso meio redor. Somos a peça-chave para a compreensão de um dado fenómeno. A história individual de cada um é digna de ser contada e os bens do nosso património cultural individual é igualmente digno de ser apreciado.

Em África, particularmente na África Ocidental, um elemento interessante nos chama atenção e nos dá um exemplo e lição importante a esse respeito. Refiro-me à figura do “Griot”. Trata-se de um ancião de uma tribo, conhecido por sua sabedoria e transmissão de conhecimento; é o agente responsável pela manutenção da tradição dos povos; a fonte de saberes e ensinamentos e que possibilita a integração de homens e mulheres, adultos e crianças no espaço e no tempo e nas tradições.

Na verdade o “griot” é um elemento cultural de uma tradição. Há nestes países a cultura de preservação da história de cada família. Assim, o griot é a figura responsável por isso. Cada família tem assim o seu griot, ou melhor dizendo, a sua família griot, pois quando o griot de uma família more, um outro (/outra) se levanta nessa família daquele e dá continuidade. A estes griots cabe transmitir a história da família a cada geração. Estes importantes actores históricos contribuem sobremaneira para a democratização da história e ensinam-nos assim que cada família, cada individuo é um sujeito histórico de relevância e com devido lugar no vasto universo.

No fundo todos temos os atributos ou traços de um herói e com pouco mais de atenção a nossa acção quotidiana podemos notar em nós qualidades nobres, coragem e feitos heróicos, jornadas extraordinárias e capazes de inspirar a outros tal como as histórias dos “importantes sujeitos históricos” que conhecemos e que no fundo são tão “comuns” e “humanos” quanto todos nós. Todos somos sujeitos históricos, e como se tem dito “tudo depende de quem e como olha” ou melhor ainda: tudo depende de quem quer contar a história.