A primeira relação do indivíduo é com seu cuidador, sua figura materna, sua figura paterna (ao falar aqui disso, não me refiro necessariamente a pais biológicos e sim a seus cuidadores, seus primeiros cuidadores), a partir disto, a partir desta relação, se for de amparo, cuidado, amor, essa criança passa a ter confiança por essa figura. É importante que se mantenha essa confiança. O que percebemos é que muitos pais acabam colocando a posição do poder, da figura de ser pai ou mãe, enfim como algo, por exemplo: eu sou seu pai, eu sou sua mãe, você deve me respeitar, sem justificativa, sem respostas em torno de perguntas das próprias crianças, sabe?
Esse sujeito precisa desde bebê se sentir seguro, amparado, cuidado, amado, para que assim reproduza em suas futuras relações interpessoais.
A criança precisa ao falar com essa figura do cuidador se sentir acolhida, se sentir segura. A escola é uma extensão do lar, lá é também um ambiente em que a criança e o adolescente em questão precisam que haja essa segurança, esse cuidado e esse respeito.
Conversar sobre assuntos difíceis é complicado sim, mas muito necessário, falar sobre morte, sobre abusos, sobre tantas outras questões que envolvem a nossa sociedade, e precisa-se portanto que a criança se sinta acolhida, sendo muito importante que seus sentimentos sejam validados.
O que se entende por saúde mental?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz:
“Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”.
Não somos totalmente saudáveis se a nossa mente não estiver bem trabalhada, portanto, se negligenciarmos esse aspecto em nós isso pode gerar danos a curto, médio e longo prazo. E muitas vezes acontece isso, né? Percebo muitas pessoas chegando ao consultório em estado crítico de saúde emocional, no limite já da sua falta de equilíbrio. Precisamos pensar na prevenção, ação essa para cuidarmos mais da nossa mente.
É preciso superar o preconceito, algo que só é possível por meio da psicoeducação e informação e é o que estamos fazendo aqui, mais uma vez obrigada por esse convite. Para isso, é de fundamental importância entendermos mais a respeito dos tipos mais recorrentes de problemas de saúde mental e como eles se manifestam, além da melhor forma de tratamento.
Quais os principais sinais para detectar que seu filho está com a saúde mental bastante abalada pelo bullying no colégio?
As crianças apresentam certa dificuldade em cuidar das emoções e condutas, por estarem em fase de desenvolvimento. Por exemplo, algumas crianças utilizam o corpo como forma de expressar algumas emoções que não conseguem através de palavras, um desses sinais então seria a agressividade, raiva exacerbada, outros sinais como: queda no desempenho escolar, dificuldade de concentração, desânimo constante, crises aleatórias de choro e também comportamentos de ordem irracionais fora de contexto, entende? Isolamento social também pode ser visto como um desses sinais, tudo vai depender do que será comportamento incomum dessa criança aqui mencionada, como ela costuma ser? Como ela está sendo agora? Mudou algo de forma abrupta? Algum comportamento chamou a atenção? Importante manter a comunicação aberta com seus filhos, confiança é uma das chaves para o melhor caminho de entender o que se passa na vida da criança e com suas emoções. Ela precisa se sentir segura em seu ambiente e ao lado daqueles cuidadores para que assim possa relatar o que acontece com ela, sem achar que vai ser julgada ou que seus sentimentos serão invalidados ou diminuídos.
Crianças muito quietas devem levantar alguma suspeita ou exigir maior atenção da equipe de saúde?
Como mencionei anteriormente, é importante entender se esse é um comportamento típico, ou seja, comum dessa criança, que faz parte de sua personalidade, ou que passou a ser a partir de algum fator externo ou interno e para isso é importante prestar a atenção em nossas crianças, em seus comportamentos verbais e não verbais. Se algo aconteceu, por exemplo, uma morte de uma pessoa querida na família e/ou próxima e essa criança que antes era comunicativa passou a falar pouco, aí, olha aí, um sinal, um alerta vermelho, né? É importante estar atento para essas crianças que de alguma forma se isolam socialmente, poucos amigos, não conseguem expressar os seus sentimentos, por exemplo.
Como podemos diferenciar tristeza de depressão em um adolescente?
Todos nós a partir de algum acontecimento que nos gere angústia e/ou frustração podemos sentir tristeza e devemos sim passar por esse sentimento, a questão é quando essa tristeza aparece sem um motivo específico ou permanece de forma recorrente, então, nesse momento é importante o encaminhamento a um profissional para, por exemplo, um acompanhamento psicológico e a depender de casos mais graves já fazer o encaminhamento para um médico psiquiatra.
Qual a idade ideal para uma criança fazer uma terapia?
No momento em que os pais identificarem alguma necessidade de levar os filhos para a terapia, diante do que foi mencionado aqui anteriormente, eles já podem procurar agendar uma consulta com um psicólogo infantil. É importante nesse momento ter um cuidado maior com a escolha do profissional, importante ver quem é o psicólogo voltado para este perfil, este público.
É muito importante aqui também destacar que quanto mais nova a criança, maior a participação dos pais na terapia. A família precisa estar envolvida no atendimento psicoterapêutico para ajudar a criança a lidar e superar esses desafios e desenvolver suas potencialidades. Caso contrário, é muito difícil que haja um progresso na terapia.
Quais atividades a criança pode fazer para melhorar sua saúde mental?
Uma forma de cuidar da mente e das emoções da criança é permitir que ela expresse a forma dela de ser, o jeito dela de ser. Ela precisa de tempo para esta parte do desenvolvimento, tempo para ser criança, portanto, é muito importante evitar uma rotina exaustiva, sobrecarregada de afazeres, de atividades que tomem o dia todo das crianças.
Programas de empatia, habilidades sociemocionais, programas que envolvam o entendimento e importância da diferença/da diversidade, da comunicação, da externalização dos sentimentos e emoções, lazer ao ar livre, trocas entre os pares, ou seja, entre os amigos, compartilhar brinquedos, entender o porquê de estar recebendo um não e apenas ouvir a palavra.