Já parou para pensar se as cidades, os ambientes ou os locais que imaginamos quando lemos um livro são os mesmos pensados pelos outros leitores? Visto que livros, muitas vezes, trazem como centro da história o cenário que acontece tudo e os seus autores se dedicam ao longo dos capítulos aos detalhes de cada pedaço das cidades, casas e espaços do enredo, o que nós pensamos é que o que nossa imaginação criou a respeito do livro é pelo menos parecido ao que outras pessoas também imaginam. Mas essa conclusão muitas vezes acaba caindo depois que um livro vira um filme e acabamos nos surpreendendo, tanto positiva como negativamente, com tudo aquilo que imaginamos durante a leitura sendo desvendado diante dos nossos olhos transformando aquelas linhas em algo visual, produzido por outras pessoas.
Sempre gostei muito de ler, livros diversos, sobre história, arquitetura, biografias e ficção. E na minha mente uma história precisava de um lugar, espaços e se o autor não me dava conteúdo eu mesma transformava a história, mas caso o livro tivesse informações sobre o lugar e ainda se fosse um lugar real eu precisava pesquisar sobre e ver a cidade, a arquitetura para construir o cenário ideal para o livro. Essa relação da arquitetura construída pela imaginação dos leitores começou a me interessar e esse ano, quando, a convite de uma amiga, criamos um clube do livro feito para amigas, a princípio arquitetas, e posteriormente amigas de amigas, não necessariamente arquitetas com opiniões e visões de mundo de coisas mais diversas.
Para quem não conhece, clube do livro é um grupo de leitores que se reúne com certa periodicidade para discutir um livro estipulado e lido por todos os participantes, as discussões englobam todos os fatores do livro e exibem opiniões. Durante as reuniões que participei e discutimos livros diversos percebi o quanto as percepções da mesma leitura tem imagens, opiniões e impressões diferentes.
Espaços utópicos, são os chamados cenários criados pela literatura e desenvolvidos pela nossa mente. Criamos esses ambientes e até cidades através da necessidade de visualizar o que estamos lendo, espaços que não importam a exata metragem, cores e divisões, mas sim a explicação da cena descrita em cada capítulo. E com isso, nossa mente tem o poder de construir cidades inteiras através de informações descritas em palavras.
Na literatura, a descrição do local, tempo, e contexto são chamados de ambientação do livro. O enredo principal pode correr ao redor dos personagens, mas sem uma mínima descrição desses fatores o texto corre no vácuo e isso não contribui para que a mente se envolva na leitura. Por isso a arquitetura e é um dos fatores que auxilia a definir o tom da história. Como por exemplo um ambiente de um apartamento na cidade, barulhos trânsito e buzinas se opõe ao ambiente de uma casa grande no litoral, clima de verão e sons de ondas do mar batendo na areia, e tenho certeza que você ao ler essas duas ambientações imaginou espaços totalmente diferentes e teve sensações e memórias opostas. Descrever a arquitetura e o urbanismo ilustra a história sem a necessidade de imagens e os leitores se tornam os arquitetos dos seus livros, projetando lugares, casa e países para os personagens.
A arquitetura contida nas histórias, também chamada de espaço narrativo, é proposta pelo autor, mas desenvolvida e finalizada pelo leitor. Temos assim um projeto criado pela imaginação de pessoas diferentes, com conhecimentos de mundo diversos e isso acaba criando para mesma história lugares que não são iguais, apesar de descrição dos espaço ser a mesma, cada um desenvolve um cenário que considera ideal para a leitura e mais adequada as palavras lidas. Sendo assim, essa relação entre literatura e arquitetura se torna única.