Há quem diga que sempre teve um propósito na profissão, que sempre soube o que queria fazer e para onde ir. Porém, existem pessoas que foram se encontrando e sendo encontradas no meio de todas as possibilidades que uma profissão pode oferecer. Essa segunda história aconteceu com a arquiteta-paisagista Rosa Grena Kliass. Mais popularmente conhecida como Rosa Kliass, nasceu no interior do estado de São Paulo, em uma cidade chamada São Roque, no ano de 1932. Estudou arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo, a FAU USP, formando-se em 1955. E foi no seu último ano da faculdade que Rosa descobriu o paisagismo e conheceu aquela área da profissão que era sua vocação. A entrada da disciplina de Paisagismo que tinha à frente o professor Roberto Coelho Cardoso, um americano, fez Rosa se apaixonar e entender que era aquilo que ela tinha como missão, mas que também era uma profissão muito recente no Brasil.

Na década de 1960, Rosa, que havia iniciado sua vida profissional com trabalhos focados a projetos de pequenas escalas, ampliou sua escala projetual com projetos urbanos para as áreas verdes da cidade de São Paulo e trabalhando em planos diretores de cidades no país, juntamente com o urbanista Jorge Wilheim. No final da década, Rosa foi para os Estados Unidos através de uma bolsa de estudos para conhecer as novidades da arquitetura paisagística, como projetos, escritórios, órgãos públicos, e além disso, fez contato com diversos paisagistas na vanguarda que a influenciaram em seus projetos. Essa viagem realmente fez com que Rosa Kliass tivesse grandes experiências que nortearam seus trabalhos e, de volta ao Brasil, trouxe inovações de diretrizes e planejamento de projeto paisagístico.

O primeiro escritório de arquitetura paisagística liderado por uma mulher foi aberto por Rosa em 1970. Seu pioneirismo revelou projetos incríveis de paisagismo na escala urbana, como parques, regeneração ambiental, avenidas e outras tipologias nos âmbitos público e privado. Rosa Kliass também ocupou cargos públicos ao longo de sua carreira, sempre se posicionando com firmeza junto a clientes e políticos e mantendo clara sua visão da intervenção paisagística como uma ação estruturante. Essa postura forte da arquiteta paisagista levou a ser chamada de “Rosa Kliass: la paisagista rebelde” em 2000, pela revista chilena El Mercurio. Isso porque a revista destacou o posicionamento de Rosa, que não aceitava um programa de projeto sem antes discutir com o cliente.

O papel de Rosa Kliass na história do paisagismo brasileiro foi fundamental. Quando se filiou à Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas (IFLA), recebeu do então secretário-geral a meta de criar uma Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas. E foi assim que Rosa, em 1976, liderou a criação da ABAP (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas) e também liderou o 1º encontro nacional de ensino de paisagismo em escolas de arquitetura no Brasil em 1993, quando conseguiu que a disciplina de Arquitetura Paisagista fosse requisito obrigatório em todas as escolas de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Entre seus principais projetos estão a revitalização do Vale do Anhangabaú (1981) em São Paulo, o projeto urbano e de paisagismo da Avenida Paulista (1973) e obras em grande escala para os Estados do Amapá (Parque do Forte) e do Pará (Mangal das Garças), no início dos anos 2000.

Rosa já foi homenageada e premiada tanto no âmbito brasileiro como internacionalmente, como, por exemplo, o reconhecimento pela Universidade de Harvard, EUA, como uma das três mulheres paisagistas modernistas mais importantes das Américas. E é evidente o papel importante da arquiteta nessa área de paisagismo para um projeto. Podemos dizer que sem Rosa Kliass não haveria uma evolução tão grande da disciplina de paisagismo no Brasil.