Em certos momentos da vida, somos conduzidos pelo destino, e mesmo quando estamos distraídos, nossos sonhos de infância se transformam nas estrelas-guia de nossa jornada. A história que compartilho agora é uma mescla de sonhos e devoção, uma narrativa que esculpiu a pessoa que sou hoje: um marido, um líder, um cidadão, mas acima de tudo, um pai – a faceta da minha vida que mais me completa e traz alegria.

Um capítulo essencial da minha biografia é ser o pai de três meninos incríveis: Bernardo, com 5 anos de idade e um poço de carinho e afetividade; Bento, com seus 2 anos cheios de energia e carisma; e o recém-nascido Benício, que chegou para nos equilibrar e completar como família. Esta história eu compartilho com minha extraordinária esposa, Andrea, uma mulher iluminada, benevolente e divertida.

Nossa jornada como pais teve início muito antes de segurarmos nossos filhos nos braços. Era um desejo profundo que nos unia desde o início do nosso relacionamento. Buscávamos não apenas a paternidade, mas a verdadeira essência de ser pais: participar ativamente do processo, estar presentes e nos tornarmos os protagonistas na formação e educação dos nossos filhos, vislumbrando-os no futuro praticando os valores que cultivamos com tanto afinco.

Confesso que sempre olhamos com certo ceticismo para aqueles tipos de pais que compartilham nas redes sociais apenas uma superficialidade das suas vidas, sem um verdadeiro envolvimento fraternal com os seus descendentes. Isso sempre nos pareceu uma abordagem vazia e sem propósito. Acreditamos profundamente que a missão de ser pai e mãe deve fugir das aparências e ser algo verdadeiramente transcendental.

Refletindo sobre a minha trajetória, percebo que o desejo de ser pai começou na minha infância. Sou o caçula de uma família de três irmãos: Vanessa, com uma diferença de 8 anos de idade, e Jessica, 5 anos mais velha. Desde tenra idade, nutria o desejo de ter irmãos mais próximos com quem compartilhar momentos especiais e interesses de faixa etária semelhante. Lembro-me vividamente de abordar meus pais com entusiasmo, declarando: "Estou pronto para ter um irmãozinho!"

Na infância, demonstrava meu desejo por um irmão mais novo de forma estratégica e inconsciente. Buscava oportunidades para interagir com bebês e crianças pequenas, destacando meu entusiasmo e preparo. Esse ímpeto de me relacionar com os pequenos se transformou numa habilidade, e mais adiante se revelou como uma espécie de "superpoder" que me cativou e deixou uma impressão duradoura.

E então, dois personagens importantes surgiram na minha história por volta dos meus 11 anos de idade: meus vizinhos, Gabriel e Helena. Eles tinham cerca de 5 e 2 anos, respectivamente. Apesar de nossos interesses divergentes, eu encontrava tempo para brincar com eles, como se fosse um ensaio para algo maior que estava por vir.

Essa improvável amizade cresceu à medida que passávamos cada vez mais tempo juntos. Brincávamos incansavelmente, até que um dia, a mãe deles, Ana, bateu à nossa porta em busca de ajuda, pois enfrentava uma emergência que a impedia de cuidar das crianças. Sem hesitar, ofereci-me para cuidar delas enquanto ela resolvia a situação.

Tanto minha mãe quanto Ana aceitaram prontamente a proposta, e essa experiência marcou minha vida de forma memorável. Lá estava eu, a caminho da casa ao lado, repleto de ideias sobre como tornar aquela tarde agradável e repleta de diversão.

Embora não consiga recordar todos os detalhes daquele dia, sei com certeza que foi uma experiência maravilhosa. Quando as crianças foram devolvidas às suas famílias, o momento da despedida tocou profundamente meu coração. Gabriel e Helena começaram a chorar, implorando para que eu ficasse e dormisse com eles, afirmando que aquele dia tinha sido o mais divertido de suas vidas.

Essa cena deixou uma impressão duradoura em mim e plantou uma semente em minha mente: "Imagine ser pai, ter filhos que o amam tanto a ponto de chorarem quando você se vai? Deve ser algo verdadeiramente mágico!"

Entretanto, à medida que o tempo avançava, completei a escola, ingressei na faculdade e entrei no mundo profissional. As responsabilidades se acumularam e o sonho de ser pai, uma vez tão vívido, parecia ter se tornado um suspiro distante.

Entretanto, quando conheci minha esposa, que estava estudando medicina e tinha planos de se especializar em pediatria, algo dentro de mim voltou a se agitar. Essa faísca reacendeu o desejo de ser pai que há muito tempo estava adormecido.

Não foi por acaso que nossos desejos se entrelaçaram de maneira tão perfeita. Nós nos casamos e, cerca de um ano depois, nos tornamos pais pela primeira vez, com o nascimento de Bernardo. O amor que sentíamos um pelo outro e a visão compartilhada de construir uma família eram forças motrizes que impulsionaram nosso desejo de sermos os melhores pais possíveis.

Eu tinha plena confiança de que todo aquele meu desejo antigo de ser pai, somado à experiência que acumulei ao cuidar dos meus vizinhos, já me forneciam a certificação de que seria um pai excepcional. O amor que nutria por minha esposa e a visão de construir uma família com ela eram como a força motriz que impulsionava meu desejo de ser o melhor pai possível.

Na minha cabeça, todos os elementos necessários para se tornar um bom pai já eram de meu domínio, bastava somente mera formalidade biológica do meu filho nascer, e o resto estava pronto!

Afinal, quando um filho nasce, nasce também a figura do pai, certo? Errado!

Não caia na armadilha de acreditar que a paternidade é algo que simplesmente acontece, como um dom divino concedido no momento da concepção. Essa é uma ideia enganosa que frequentemente encontramos por aí. Permita-me compartilhar uma história que ilustra esse ponto.

Quando nosso primogênito, Bernardo, veio ao mundo, admito que estava envolto por uma crença limitante: a ideia de que não sabia como cuidar de um recém-nascido. Sempre evitei segurar bebês tão pequenos, dominado pelo medo, pela falta de experiência e pela sensação de desajeitamento. No entanto, quando Bernardo nasceu, tudo mudou. Ele era meu filho, e a simples ideia de permitir que o medo me impedisse de vivenciar aquele momento único era inaceitável.

Nesse exato instante, deixando de lado toda a arrogância que me levou a pensar que estava pronto para ser um pai exemplar, fiz uma descoberta poderosa. Com humildade, reconheci que havia uma vasta trajetória de aprendizado à minha frente. Essa foi uma lição vital, não apenas para a jornada da paternidade, mas para todos os aspectos da vida, tanto pessoais quanto profissionais.

Acreditem, a construção de feitos grandiosos e a construção de um legado significativo dependem, acima de tudo, da mentalidade de crescimento que adotamos. Essa mentalidade deve nos impulsionar a buscar constante evolução. É essa mentalidade que abre portas para o sucesso em todas as esferas da vida, seja qual for o tamanho do desafio.

Mas, antes de seguir adiante, permitam-me compartilhar com vocês algo crucial. Quando confrontei o desafio desconhecido que era ser pai de um recém-nascido, percebi que a chave estava em enfrentar as diversas faltas e incompetências que temos. Comecei segurando Bernardo com cautela enquanto estava sentado, com almofadas ao redor, minha esposa ao meu lado, atenta aos movimentos. A confiança crescia a cada ação, e eu continuava a evoluir.

Numa manhã que prometia ser apenas mais uma, meu sogro surpreendeu-nos ao bater à nossa porta. Com um olhar perspicaz e um sorriso no rosto, ele lançou um desafio inesperado: "Você está pronto? Na nossa família, quem dá o primeiro banho nos bebês sou eu. Vem aprender!"

Aquele convite simples, aparentemente cotidiano, se revelaria uma experiência extraordinária, capaz de reconfigurar não apenas a maneira como eu encarava a paternidade, mas também me possibilitou ressignificar muitas crenças profundamente enraizadas na minha formação:

A primeira barreira a ser derrubada foi a do machismo estrutural, que residia, de forma sutil, velada, em um canto obscuro da minha mente. Assim como muitos homens ainda acreditam, eu havia presumido que determinadas tarefas eram inerentemente femininas. No entanto, rapidamente percebi que essa premissa era infundada, equivocada e desatualizada. A verdade é que a paternidade pressupõe uma harmonia entre pai e mãe, em prol do bem-estar maior dos filhos. Não há espaço para "tarefas do pai" ou "tarefas da mãe". Em vez disso, o que deve prevalecer é a parceria do casal, visando um equilíbrio na distribuição das responsabilidades necessárias para criar um bebê. Esse modelo positivo aprendido com meu sogro me libertou das amarras do machismo, demonstrando que a jornada da paternidade é, acima de tudo, uma jornada de igualdade.

A segunda lição veio com a compreensão de que a verdadeira paternidade demanda uma mentalidade de aprendizado contínuo. À medida que me entregava à tarefa de dar banho no Bernardo, ficou claro que se apegar à confiança apenas nas habilidades que já possuía não seria o suficiente. Aprendi que, para ser um pai exemplar que eu buscava ser, era essencial estar aberto a ouvir feedbacks sobre como poderia melhorar, a buscar constantemente novos conhecimentos e a me adaptar às mudanças. Entendi que uma mentalidade rígida e inflexível apenas atrasaria meu crescimento pessoal e me afastaria do que realmente importa na vida: a profunda conexão com meus filhos e família.

Por fim, aquele dia me ensinou sobre a importância de aceitar ajuda, pois como diz um provérbio africano: “É preciso uma aldeia para se educar uma criança”. Uma valiosa lição foi reconhecer que, em todas as etapas da jornada da paternidade, há uma sólida rede de apoio à nossa disposição. A humildade em admitir minhas próprias limitações e a coragem de pedir ajuda se revelaram fundamentais para o meu crescimento como pai. Quando aceitei o desafio lançado por meu sogro, estava disposto a reconhecer que não tinha todo o conhecimento necessário para dar um banho de bebê da maneira adequada, e essa atitude abriu as portas para a sabedoria e orientação que ele gentilmente ofereceu. Aquela experiência valiosa mostrou-me que, como pai, nunca estou sozinho; posso sempre contar com o apoio caloroso de minha família e de outros pais dispostos a compartilhar sua sabedoria e experiência. A paternidade é uma jornada que se enriquece quando nos unimos à comunidade de pais que compartilham um objetivo comum: criar nossos filhos com amor e dedicação.

Assim, uma simples oportunidade de dar banho em meu filho tornou-se um ponto de virada em minha jornada como pai e como indivíduo. Desafiou minhas crenças arraigadas, derrubou barreiras, incentivou-me a abraçar a abraçar a humildade e destacou a importância de reconhecer e buscar apoio quando necessário. A paternidade é uma jornada de constante transformação e crescimento, em que cada desafio nos leva a sermos melhores seres humanos.

Essa fase da minha vida foi extraordinariamente marcante, e embora possam pensar que é uma história pessoal, ela transcende o âmbito pessoal e toca todos os âmbitos da vida.

Agora, com nosso terceiro filho, Benício percebo o quanto tudo o que aprendi foi essencial para o meu crescimento. E hoje em dia, quando paro para fazer meu ritual noturno e dou um banho relaxante nos meninos, aproveito a oportunidade para fazer uma reflexão e praticar a gratidão por ter vivenciado tudo isso com pessoas exemplares. Ao usarmos mais da humildade e se entregar ao aprendizado, abrimos portas que antes pareciam intransponíveis. É verdadeiramente transcendental!

Portanto, afirmo com convicção: você não nasceu sabendo tudo. Você não nasceu Pai. Assim como ninguém nasceu médico, advogado, professor, engenheiro. Você aprende. A paternidade é uma jornada de aprendizado constante, em que cada um de nós molda sua própria versão de pai. A escolha está em suas mãos, e eu encorajo todos vocês, novos pais, a abraçarem essa jornada com coragem, amor e determinação, pois as recompensas são inestimáveis. Vocês estão prontos para isso. Avancem, cresçam e inspirem-se mutuamente nesta incrível jornada que é a paternidade.

Crie a sua melhor versão de pai possível. A escolha de ser o melhor pai do mundo está em suas mãos, porém as ferramentas e o preparo, não.