O K-pop tomou o mundo desde que o cantor Psy viralizou com sua música Gangnam Style lá em 2012. De lá para cá o K-pop só cresceu cada vez mais com o boom que o grupo BTS e Blackpink trouxeram para o ocidente. Desde a sua criação em 11 de abril de 1992, o K-pop passou por inúmeras mudanças, desde o estilo dos grupos, aos conceitos utilizados e até o público-alvo.
Na primeira geração, o K-pop era um produto criado por uma Coreia do Sul recém-saída de um período de ditadura, que havia se encerrado em 1988, portanto, ao contrário dos grupos mais recentes, eles não eram totalmente voltados para o mercado internacional (o internacional aqui se refere ao ocidente), mas sim para o mercado nacional e regional. Grupos como H.O.T e S.E.S. fizeram grande sucesso na época e ajudaram a garantir o sucesso do produto K-pop.
A segunda geração do K-pop acredita-se geralmente que começou com o debut do grupo TVXQ em 2003. Nessa geração, o K-pop começou a ser mais conhecido internacionalmente, mas apenas quando Girls’ Generation, Super Junior, 2ne1 e Big Bang estrearam que o K-pop começou a mostrar a sua força internacionalmente e ganhar mais força na Coreia do Sul, especialmente por conta do Girls’ Generation que foi (e ainda é) um fenômeno tão grande que é considerado “o grupo nacional da Coreia” até os dias de hoje
A terceira geração começou em meados de 2012 com o debut do grupo EXO. Essa geração é provavelmente a mais famosa por ter sido o ponto que o K-pop tomou o mundo em proporções gigantescas. Não apenas com BTS e Blackpink, mas outros grupos como Twice, Red Velvet, SHINee, GOT7, GFRIEND, SEVENTEEN, MAMAMOO e o próprio EXO se tornaram mundialmente famosos, não apenas fazendo história de entrar no mercado americano da Billboard, mas também quebrando recordes, ganhando condecorações, tocando para políticos e se tornando uma força dentro e fora do mercado asiático.
A quarta geração de K-pop começou em meados de 2017/2018, trazendo um som e um estilo muito mais ocidentalizado do que a geração anterior, além de um estilo musical mais voltado para batidas eletrônicas. Grupos como Stray Kids, Itzy, (G)i-dle, aespa, IVE e Le Sserafim foram um fenômeno desde antes dos grupos debutarem. Se nas gerações anteriores os grupos debutaram sem grandes pretensões e depois explodiram no mercado, na quarta geração os grupos já debutaram com uma expectativa gigantesca sobre eles, com membros dos grupos já tendo fã bases montadas e fãs acompanhando os membros através das redes sociais, do Twitter (agora X) e do Youtube, contudo é aí que começa o maior problema dessa geração.
É normal um ou outro membro de um grupo acabar se destacando, seja pela personalidade, pela beleza, pelo estilo ou por afinidade. Entretanto, como hoje em dia já se é mais conhecido, cada membro de um grupo de K-pop tem posições definidas, como main vocalist, lead vocalist, main rapper, lead rapper, main dancer, lead dancer, visual, face of the group e por assim vai. Na segunda geração essas posições eram levadas, na maioria das vezes, de forma mais rígida, como por exemplo, a/o main vocalist sempre teria as partes mais difíceis da música, assim como seria o membro que mais cantaria, independentemente se ele é ou não o favorito dos fãs.
Na terceira geração isso se manteve de certa forma, contudo, aqui começou um fenômeno que só pioraria com o passar dos anos que é o “favoritismo” da empresa em cima do membro mais popular. Um dos casos mais conhecidos foi o do grupo Miss A, onde Suzy, uma das integrantes, era considerada a queridinha da Coreia e a empresa vendo isso, e também visando o lucro, investiu massivamente nela no último comeback que o grupo fez, onde Suzy cantava mais de 50% da música sozinha enquanto as outras três integrantes cantavam o resto. Isso gerou um mal-estar tremendo no grupo, o que acabou o levando a desbandar.
Outros grupos também sofreram acusações dos fãs de favoritar um membro do grupo em detrimento dos outros, como é o caso por exemplo da Jennie no Blackpink e Nayeon no Twice, onde as críticas acabavam sendo mais pesadas pelo fato de nenhuma das duas ser a main vocalist dos dois grupos e de que, apesar de dividirem a mesma posição de lead vocalist com outras integrantes, o tratamento que as duas recebiam era extremamente diferente e supostamente favorecido.
Muitas das afirmações dos fãs se davam devido as duas serem os membros mais populares na Coreia de seus respectivos grupos. As empresas vendo isso, investiam mais nelas para atrair a atenção para o grupo e para aumentar o lucro, contudo, a tragédia do Miss A não se repetiu com os dois grupos por conta de as integrantes terem uma relação mais unida e do fato dos dois grupos terem uma fã base gigantesca, dentro e fora da Coreia.
O que nos leva a quarta geração e onde o “fenômeno Suzy” tomou proporções bem mais alarmantes. Como dito anteriormente, os grupos da quarta geração já debutaram com uma alta expectativa e com membros já tendo sua própria fã base, o que levou as empresas, logo no debut, a supostamente favorizar os membros que eram mais populares. Grupos como Itzy, onde ainda se existiam posições para cada membro, acabaram sofrendo duras críticas dos fãs por não respeitar as posições dos membros dentro do grupo, o que hoje em dia, ao que parece, tem sido mais respeitado, de acordo com os fãs.
Vendo que os fãs iriam brigar pelas posições dentro do grupo não estarem sendo respeitadas, as empresas começaram a debutar os grupos sem definir posições para nenhum dos integrantes. IVE, Loona, Newjeans e TXT são alguns exemplos de grupos sem posições fixas. As empresas dizem que isso é por conta de os integrantes terem uma maior flexibilidade dentro do grupo, mas muitos fãs argumentam que isso é apenas uma desculpa das empresas para poder, supostamente, favoritar o membro mais famoso sem receber reclamação dos fãs.
Dois grupos que são muito famosos por essas críticas dos fãs de favorecimento são Loona e IVE. No grupo Loona, que é composto por 12 membros, a questão de favorecimento era questionada pelos fãs por conta de membros do grupo mal terem partes para cantar em uma música e por mal aparecerem nos MVs dos grupos (chegando ao ponto de ter membros que apareciam por 2 segundos em um MV de mais de 3 minutos). Já o IVE possuí duas integrantes que faziam parte de outro grupo que tinha ficado muito famoso mundialmente e havia sido formado por conta de um reality show com sistema de votação do público.
O grupo foi (e ainda é) duramente criticado pelo fato da empresa investir muito mais na imagem das duas integrantes mais famosas, ao invés de tratar todas as integrantes do mesmo jeito. Além disso, o grupo também é criticado por apenas duas integrantes conseguirem cantar ao vivo, contudo, essa crítica de não cantar ao vivo não se resume apenas ao IVE, mas a muitos grupos da quarta geração, onde a maior parte dos membros não tem treino vocal nem técnica e por isso não conseguem se apresentar ao vivo sem a ajuda do playback.
Muitos fãs mais novos argumentam que não se importam com playback e falta de técnica vocal, pois o que importa é a performance, a coreografia e a aparência do grupo, entretanto, fãs mais antigos argumentam que os idols precisam sim conseguir cantar ao vivo, afinal esse é o trabalho deles. As empresas também aproveitam o argumento dos fãs que não se importam, pois, além deles não precisarem gastar com preparadores vocais, eles podem argumentar o uso do playback para poupar a voz de seus idols.
Porém o fato é que, apesar de tudo, os fãs que criticam a falta de técnica e preparo vocal estão com a razão ao reclamar, pois por mais que se argumente o contrário, um dos trabalhos dos idols é exatamente esse, cantar. Além disso, com a nova tendência de debutar grupos sem posição fixa entre os membros, não se pode mais usar um argumento de que o membro X não precisa saber cantar, porque a posição dele é Y.
Somado a essa crítica de falta de preparação vocal, a crítica por terem membros nos grupos que estão lá só pela beleza física se acentuou mais ainda devido ao escândalo de fraude nas votações de reality shows musicais, onde meninas que competiam haviam sido preteridas por outras por conta da sua aparência.
E não é apenas o público que crítica essas tendências de falta de vocal, aparência e popularidade serem o que são mais levados em conta, diversos cantores coreanos criticaram essa nova tendência das empresas, dizendo que se você não tiver aparência e for popular não importa o talento que você tenha, você não vai conseguir ter sucesso.
Contudo, não podemos criticar apenas a Coreia do Sul em relação a essas tendências, visto que essa quarta geração está apenas espelhando um problema que já é decorrente no Ocidente há muitas décadas e que só está atingindo a Coreia do Sul de forma mais forte agora devido a globalização do K-pop.
O que podemos é ter esperança de que esse cenário não piore e que, com a crítica massiva dos fãs a isso, esse tipo de tendência diminua cada vez mais, a quinta geração já está começando e a única coisa que podemos esperar é que essas tendências acabem, senão a situação musical, não só do K-pop, mas da música, vai ficar extremamente preocupante.