Já parou pra pensar na quantidade de títulos disponíveis nas plataformas de streaming? Segundo o relatório "Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil", produzido pela Ancine, até junho de 2022, só a Netflix e o Prime Vídeo possuíam juntas mais de 10 mil títulos (entre filmes e séries) em suas plataformas.
Com tanta opção, para algumas pessoas pode ser bem difícil entrar numa plataforma sem saber exatamente o que se quer assistir. A busca pela série ou filme ideal pode demorar e, às vezes, até se tornar cansativa. Algumas vezes, já me peguei tentando encontrar algo novo que valesse a pena, e no fim, acabei parando para assistir a algum episódio de "Friends" pela milésima vez.
Os canais FAST (Free Ad-Supported Television) estão ganhando força justamente para atrair a atenção dos indecisos de plantão. Seu conceito baseia-se em transmitir conteúdos gratuitamente com uma programação linear intercalada por anúncios. Basicamente, é o que já é feito há décadas com a TV, porém substituindo as antenas pela entrega via streaming.
O exemplo mais famoso é o PlutoTV, da Paramount, que conta com dezenas de canais dedicados a filmes de gêneros como ação, comédia, terror e romance, além de transmitir integralmente episódios de séries como "iCarly", "Jeannie é um Gênio" e "CSI Miami", e reality shows como "RuPaul's Drag Race" e "De Férias com o Ex".
Esse formato tem se tornado uma tendência em um cenário onde as plataformas buscam formas de contornar suas perdas econômicas, e todo tipo de estratégia tem sido válida. A Warner passou a vender novamente os títulos de seu catálogo para outras empresas, a Disney integrará o conteúdo do Star+ no Disney+, a Netflix aumentou o valor das assinaturas, bloqueou o uso do app fora do domicílio e criou um novo plano com anúncios no meio dos filmes e séries.
As experiências de implementação de uma programação linear nos streamings mais populares não começaram agora. Em 2020, a Netflix testou um recurso chamado Netflix Direct, disponível apenas para assinantes da França e acessível somente pelo computador. Como o próprio release da opção destaca, a ideia é que o usuário assista às produções originais da plataforma de forma descompromissada, como uma espécie de degustação do conteúdo que pode ser explorado dentro do serviço.
No início de 2023, Ted Sarandos, ex-CEO da Netflix, revelou que a empresa está estudando a inclusão de canais FAST em seu modelo de negócio na plataforma. Ou seja, não deve demorar muito para que alguns títulos possam ser assistidos de graça, intercalados com publicidade local.
Segundo a Nielsen, serviços FAST (como Roku Channel, PlutoTV e Tubi) já estão conquistando uma fatia do público. Em junho de 2023, os três serviços citados capturaram 3,3% do total de visualizações de TV nos EUA.
Aqui no Brasil, o Globoplay, além de transmitir ao vivo os canais abertos e pagos do Grupo Globo, está lançando gradualmente canais FAST dedicados a conteúdos de seu catálogo, como "Malhação", "Detetives do Prédio Azul", "Globo Esporte" e "Receitas", além de novelas clássicas no "Viva 70" e "Viva 80".
Essa tendência não busca apenas valorizar o catálogo disponível na plataforma, mas também trabalhar de forma cada vez mais profunda a segmentação dentro desses serviços como forma de atender aos mais diferentes nichos.
Aplica-se o mesmo conceito utilizado na TV paga, porém, por um custo de operação muito menor e um processo burocrático bem inferior. Dessa forma, é possível criar inúmeros canais dedicados a um único título ou a um tema com rapidez.
A independência de transmissão dos canais em uma plataforma ou a transmissão simultânea também é uma característica positiva e assertiva desse formato. Por exemplo, o canal do Masterchef Brasil pode ser visto tanto no Pluto TV quanto na plataforma Samsung TV Plus. A Warner Bros Discovery e a MGM também seguem um padrão parecido com o licenciamento de seus conteúdos para o Amazon Freevee, Rubi Channel e Tubi.
Definitivamente, a TV não morreu. A forma de consumo pode até ter mudado, mas o seu modelo ainda é relevante e necessário para difundir conteúdo.