O samba é um estilo musical de origem africana, e tem suas raízes nas tradições musicais e religiosas africanas trazidas ao Brasil pelas pessoas escravizadas. Muitas dessas tradições envolvem a música e a dança como forma de conexão espiritual e comunicação com os deuses e ancestrais.
No Brasil, o samba está intimamente ligado às religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, onde a música e a dança são elementos fundamentais dos rituais. Nessas religiões, a música é uma forma de louvor e invocação dos orixás (divindades), por isso dizemos que o samba é uma "reza". Como uma oração, o samba é uma maneira de se conectar com algo maior.
Para muitos, o ato de cantar e dançar samba é uma experiência espiritual e emocional profunda, além de ser uma expressão cultural que carrega a história, a luta e a identidade do povo afro-brasileiro. Ao dizer que "samba é uma reza", está-se reconhecendo o poder do samba de preservar e celebrar essas raízes culturais.
Assim como uma reza tem um papel ritualístico em muitas religiões, o samba, com seus ritmos e passos específicos, pode ser visto como um ritual que traz união, celebração e cura. A expressão "O samba é uma reza" encapsula a visão do samba não apenas como uma forma de entretenimento, mas como uma prática cultural rica em significados espirituais e históricos. Ela ressalta a importância do samba como uma forma de resistência, celebração e conexão espiritual, refletindo a profundidade e a beleza dessa manifestação cultural brasileira.
O samba se popularizou no Brasil a partir da década de 1930 e, antes disso, como veremos, o gênero era visto com muito preconceito pela sociedade. Depois que se tornou popular, outros subgêneros surgiram, como o samba-canção, o samba-enredo, a bossa nova, o pagode e o samba-de-breque, entre outros.
A importância do samba na cultura brasileira é tamanha que, além de fazer parte da cultura e identidade do brasileiro, é reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Na década de 1960, foi criado o Dia Nacional do Samba, celebrado no dia 2 de dezembro.
O samba surgiu no começo do século XX e é uma influência da cultura africana. Tem uma ligação com as rodas de dança que os negros escravizados realizavam em seus poucos momentos livres. Essas rodas de dança, geralmente, eram puxadas por um ritmo musical obtido por meio dos batuques. Uma das danças mais praticadas era o lundu, que acredita-se ter sido introduzida aqui por africanos trazidos de Angola.
Uma das variantes dessas rodas de dança era o samba de roda, um estilo musical que reunia africanos escravizados para praticar danças e capoeira. Esse estilo musical surgiu na Bahia, em meados do século XIX, e foi um dos precursores do samba tradicional (conhecido como samba urbano carioca).
As práticas do samba de roda foram levadas ao Rio de Janeiro no final do século XIX e começo do século XX. A abolição das pessoas escravizadas, anunciada em 1888, com a falsa liberdade, fez com que muitas pessoas escravizadas mudassem para a capital do Brasil na época: o Rio de Janeiro. Por isso, no começo do século XX, o Rio de Janeiro tinha uma grande população negra. Nessa cidade, muitos dos afro-brasileiros, libertos ou filhos deles, reuniram-se em bairros como Saúde, Gamboa, Cidade Nova e Estácio. Nesses locais, a figura das tias baianas se tornou extremamente importante para as comunidades de negros.
Nas primeiras décadas do século XX, as festividades realizadas pelos negros, como as rodas de capoeira e de samba, eram proibidas pelas autoridades, que encaravam com temor as manifestações culturais dos afro-brasileiros. Era uma manifestação aberta de racismo da sociedade brasileira no começo desse século. Por ter a marca da estética negra e ser uma manifestação cultural da classe trabalhadora, que expressava seu modo de vida e sua visão de mundo, o samba carioca da Primeira República foi duramente perseguido pela grande imprensa e pela polícia.
Em 1890, dois anos depois da promulgação da Lei Áurea, foi estabelecida por legislação a definição do crime de "vadiagem". Ou seja, se uma pessoa andasse na rua e não comprovasse estar trabalhando, podia ser levada à delegacia. O "crime" rendia até 30 dias de prisão. O samba acabou sendo enquadrado como um dos símbolos da criminalidade. "A simples posse de um instrumento de percussão podia ser interpretada como indício de vagabundagem."
Assim, as tias baianas que se mudaram para o Rio de Janeiro foram as responsáveis por criar espaços onde as pessoas negras poderiam se reunir para realizar as suas festividades e seus rituais religiosos sem que fossem incomodadas e reprimidas pela polícia. Esses eram os terreiros, locais que se estabeleceram como ponto de encontro comunitário, local de festividade e de culto aos orixás.
Muitos compositores de samba, como Cartola, Dona Ivone Lara e João Nogueira, criaram músicas que falam da vida, da fé e da resistência, muitas vezes com uma profundidade espiritual que reflete essa ideia de reza. As rodas de samba são espaços de celebração coletiva onde a música e a dança desempenham um papel central na criação de comunidade e na transmissão de valores culturais e espirituais.