Carrie Bradshaw e Sarah Jessica Parker, hoje em dia é impossível pensar em uma e não lembrar da outra no mesmo instante. A icônica personagem de Sarah Jessica Parker se fundiu tão fundo com a atriz que nas duas últimas temporadas do seriado (e nos dois filmes subsequentes) que os telespectadores já consideravam que a atriz já não estava atuando como Carrie Bradshaw e sim sendo apenas ela mesma.

Não surpreendente, a personagem que antes era amada e/ou odiada por ser uma personagem com falhas e que as telespectadoras podiam se relacionar, acabou se tornando uma personagem completamente diferente e fictícia, quase como se a atriz estivesse conduzindo a história de Carrie como se fosse sua vida dos sonhos.

Carrie Bradshaw é uma personagem complexa e cheia de defeitos, entretanto, ela é uma personagem que as telespectadoras de Sex and the City podiam olhar e se ver, de uma maneira ou outra, em Carrie.

Em suas primeiras três temporadas, Carrie é uma colunista que escreve sobre sexo, que tem uma aparência trash chic, viciada em sapatos, fumante inveterada, bagunçada e cheia de defeitos. Na época que o seriado estreou em 1998, a vida de Carrie era muito semelhante a vida de milhares de mulheres em todo o mundo, não apenas isso, mas a própria personalidade de Carrie era relacionável, assim como os seus erros.

O fato de a personagem ser odiada nas primeiras temporadas se deve pelo fato de Carrie ter comportamentos e atitudes que nós telespectadores temos na vida (e odiamos), por isso, mesmo Carrie sendo odiada ela era um ícone de mulher crível e falível e, ao mesmo tempo que era odiada por muitos, ela também era amada.

Contudo, quando Sarah Jessica Parker começou a ter mais controle criativo da personagem, Carrie começou a perder as características que faziam a personagem conversar com o público. Primeiro com sua aparência e guarda-roupa, que de trash chic com uma mistura de roupas de brechó com sapatos de marca se tornou uma personagem que só usa roupas de grife e com algumas roupas de escolha duvidosa. Seu cabelo cacheado e bagunçado começou a ficar cada vez mais arrumado e “domado”, ficando com uma imagem de “mulher de alta classe”.

Em seguida sua personalidade começou a mudar drasticamente, se antes Carrie falava sobre sexo sem medo ou tabu, com o passar das temporadas ela começou a ficar cada vez mais pudica e ao invés de falar sobre sexo começou a falar sobre “amor”. Não apenas isso, mas até o seu modo de falar mais “seco e grosseiro” deu lugar para um modo de falar mais “feminino e educado”.

Até mesmo suas atitudes mudaram de forma radical, como por exemplo, se no final da segunda temporada Carrie se dá conta de que Big escolheu casar com outra mulher “simples e de cabelo liso” e não com ela “complicada e de cabelos cacheados” na temporada seguinte temos Carrie praticamente querendo se transformar inteira para agradar Aidan.

Esta, aliás, é uma das maiores reclamações sobre a personagem. Se antes Carrie saia em encontros com vários solteiros em Nova York e tinha cenas mais quentes, isso tudo foi diminuído (e praticamente eliminado) a cada nova temporada. O “Sex” do seriado era relegado a Miranda e Samantha na maioria dos casos, Carrie raramente passou a ter alguma cena mais íntima a partir da quarta temporada.

Por último, até o seu emprego acabou se tornando um verdadeiro conto de fadas Holywoodiano. Se antes ela era uma colunista semi-famosa que escrevia em um jornal de tamanho médio em Nova York, no final da quarta temporada ela se tornou uma colunista na Vogue e na temporada seguinte uma autora escritora de um Best-Seller (e nos filmes indo ainda mais além e tornando Carrie uma escritora famosíssima).

Então veja, se no começo Carrie era uma personagem com que o público se identificava ao final do seriado Carrie havia praticamente se tornado uma fanfic de Sarah Jessica Parker. O revival “Just Like That...” conseguiu ir mais além e transformou Carrie em uma completa paródia dela mesma, com absurdos como andar no meio da neve com um vestido de gala e querer reescrever toda a história amorosa de Carrie.

Como se pode ver, Carrie deixou de ser uma personagem amada quando deixou de ser identificável com seus telespectadores. Uma mulher que só usa grifes, tem um emprego dos sonhos e namora um milionário não é relacionável, e pior, se antes os defeitos de Carrie eram perdoáveis, depois de sua transformação eles se tornam insuportáveis, afinal, como sentir solidariedade por uma personagem que praticamente tem a vida perfeita?

Mesmo com todas essas mudanças, Carrie continua sendo um ícone, se não um com que nós nos identificados, um ícone fashion e que marcou uma era. Infelizmente o revival só está prejudicando o legado de Carrie e é o mais perfeito exemplo de que os ícones devem apenas ser lembrados e não revividos.