Faleceu no dia 17 de agosto um dos maiores comunicadores da televisão brasileira, Silvio Santos. Basicamente, ele edificou o que chamamos de televisão brasileira. Fez a popularização de programas de auditório e participou da consolidação da carreira de muitos artistas, como Eliana, Celso Portiolli, Elisa Veek, Helen Ganzarolli, Faustão, entre outros.
Por que eu cito a morte de Silvio Santos neste artigo? Justamente porque ele é um divisor de águas entre uma televisão mais antiga, com muito mais prestígio, e a televisão atual, que enfrenta a força das novas mídias, que têm retirado telespectadores. Faz-se necessário mudar a grade de programação e realizar uma transição gradual entre o moderno e a televisão antiga. Só assim consolidaremos uma televisão brasileira forte, que faz parte da nossa cultura.
Outro grave problema é a dificuldade de substituição dos antigos talentos, já falecidos ou muito idosos. A troca dessas figuras tem sido feita por pessoas de qualidade medíocre. Poucos da geração millennial conseguem se destacar como bons atores, apresentadores e artistas. Eu cito Malu Rodrigues como um desses bons exemplos.
Essa dificuldade dos executivos em modernizar a televisão brasileira e conectá-la às novas tecnologias pode ser observada nas dificuldades enfrentadas pela maior emissora do Brasil, a Rede Globo de Televisão. Autores como Gilberto Braga, já falecidos, não estão mais presentes, o que tem deixado a emissora sem ideias para montar minisséries, séries e novelas. Isso resultou em produções repetitivas, roteiros exaustivos, casting pouco brilhante e a necessidade de reprisar novelas de sucesso do passado, por falta de uma fórmula mais assertiva.
Faz-se necessário mudar a lei de concessões para liberar a pulverização de capital na Bolsa de Valores, visando aumentar o volume de recursos disponíveis para investir na televisão. Isso ajudaria a conter a fuga de anunciantes para as novas mídias digitais.
Há uma necessidade urgente de formar novos bons talentos, criar uma simbiose mais eficiente com as novas mídias e modificar as formas de financiamento da televisão. O enfrentamento da crise precisa ser feito de ambos os lados. Infelizmente, todas as emissoras ainda têm dificuldades em manter a atenção das pessoas na tela da TV, com tantas opções tecnológicas disponíveis atualmente.
Outro ponto é a previsibilidade dos roteiros de novelas e séries. Hoje, os roteiros são banais, com histórias pouco criativas. Portanto, há também uma crise de inovação, que as emissoras ainda não souberam enfrentar adequadamente.
Isso se torna perceptível quando comparamos os roteiros e produções do canal Viva, propriedade das Organizações Globo, com as novelas e séries atuais da emissora. Esse abismo de qualidade na televisão também é evidente após o ex-executivo do SBT, Luciano Callegari, afirmar que a gestão do SBT apresenta fragilidades gravíssimas, muito ego, e que é conduzida com pouca paixão pela televisão. Ele mencionou que passava horas debatendo a escolha de novos quadros artísticos com o falecido Silvio Santos.
Isso demonstra um distanciamento entre o pensamento das gerações mais antigas e as novas no que diz respeito à televisão brasileira. A manutenção da qualidade depende dessas gerações se ouvirem mutuamente para encontrar as melhores soluções. Caso contrário, isso levará ao enfraquecimento desse meio de comunicação, que ainda possui algum tipo de credibilidade residual.
Portanto, é possível que a televisão se reinvente para competir de forma mais efetiva com as mídias sociais e as novas tecnologias? Sim, é possível. No entanto, é necessário trabalhar em paralelo a TV antiga e a moderna, para que a televisão se reconfigure e consiga competir com as mídias sociais, streamings, entre outros. Contudo, muito dependerá da mentalidade dos executivos de televisão em entender que o consumidor atual pouco deseja permanecer na frente da tela.
Ou seja, temos de dar tempo ao tempo para que, algum dia, a televisão consiga contornar sua trajetória declinante em termos de casting, programação, etc.