Em 2002, a Argentina atravessava uma assustadora crise. Cerca de 25% de sua população estava desempregada e o desespero batia à porta dos cidadãos. Esse foi o caso de milhares de pessoas, incluindo 50 funcionários da América TV, que foram dispensados em fevereiro do ano anterior por cortes de custos.

Os ex-funcionários decidiram montar uma produtora, inicialmente, com a proposta de adaptar formatos de reality shows e game shows criados nos Estados Unidos e Europa, entretanto o custo para esse modelo de negócio era inviável. Daí surgiu a ideia de produzir um programa totalmente inédito e que combinasse muito bem com a realidade que estavam vivendo: “Recursos Humanos”.

Como já dizia seu próprio nome, a atração tinha o objetivo de encontrar um candidato ideal para uma vaga de emprego. A cada edição, duas pessoas concorriam a um determinado cargo de uma empresa, participando de um game de perguntas e respostas de aptidão e dinâmicas de treinamento. E claro, havia os clássicos VTs mostrando um pouco do dia a dia dos participantes, a casa e a família, como forma de gerar empatia e conexão com os telespectadores. Afinal de contas, o público decidia quem merecia a vaga votando por telefone.

O programa estreou em 15 de abril de 2002 e era exibido de segunda a sexta, no Canal 13. Os mais diferentes tipos de empregos foram ofertados durante seu período de existência, de caixa de supermercado a engenheiro, incluindo dinâmicas que variavam conforme a função.

Uma matéria da BBC, publicada em 16 de agosto de 2002, destacou a disputa por uma vaga em uma rede de padarias chamada Las Medialunas del Abuelo. Os participantes tiveram que realizar uma tarefa recheando croissants e polvilhando-os com açúcar de confeiteiro para decidir quem havia feito a melhor apresentação da guloseima.

Apesar da estrutura relativamente simples, colocar esse programa no ar não era uma tarefa fácil. As vagas eram previamente anunciadas através de comerciais e do jornal Clarín, com data e local onde os candidatos deveriam fazer a inscrição. Uma empresa especializada em contratações realizava o crivo desses candidatos e, por fim, selecionava apenas dois concorrentes que participavam da atração.

Os selecionados para as vagas já assinavam no palco o contrato de trabalho com duração mínima de seis meses, salário base e todos os benefícios previstos na legislação trabalhista. Já os participantes que não ganhavam recebiam um plano de saúde para si e sua família por seis meses.

A atração conseguiu ofertar 238 vagas de emprego em pouco mais de 5 meses no ar. Apesar de não ser um grande sucesso de audiência na TV argentina, de forma surpreendente “Recursos Humanos” ganhou força suficiente para que obtivesse destaque em seu próprio país e ao redor do mundo.

Em 2003, ganhou o Prêmio Martin Ferro, a premiação mais popular da imprensa argentina, na categoria “Melhor programa de serviço”.

Em setembro de 2002, a Sony Pictures Television International comprou os direitos do formato para explorá-lo ao redor do mundo, chegando a países como Rússia, Portugal e Tailândia.

Na Alemanha, o anúncio de uma atração similar à argentina gerou bastante polêmica. Como a emissora alemã Neun Live quis reproduzir o formato sem comprar os direitos, a Sony precisou notificar a empresa sobre o programa. A Confederação Sindical Alemã também foi contra o projeto, considerando-o de mau gosto.

No Brasil, o formato chegou a ser negociado com a RedeTV! e ganharia uma adaptação chamada de "Emprego na TV”, apresentada por João Kléber. Mesmo com um piloto gravado, o projeto não saiu do papel.

Em 2009, “Recursos Humanos” foi comprado pela Record, que o transformou no quadro “O Contratado”, do Programa da Tarde. Nessa adaptação, a disputa por cada vaga ocupava uma semana inteira e possuía mais participantes, que eram eliminados a cada episódio conforme sua pontuação. Às sextas-feiras, era feita uma edição ao vivo, onde o público fazia sua decisão sobre quem deveria integrar a vaga.

Com um propósito bastante inusitado e com opiniões mistas ao redor do mundo, fica a dúvida: como “Recursos Humanos” funcionaria nos dias de hoje? Será que renderia muitos textões emocionados de CEOs no LinkedIn? Será que conquistaria a ira do ex-Twitter? Possivelmente, isso deve ficar só na imaginação.