Todo dia, às 6 da manhã, sou acordada pela Alexa - uma maquininha no meu criado mudo com quem converso de vez em quando. Acendo o abajur e desço para preparar o café. Ou, melhor dizendo, outra máquina prepara meu café. Eu aperto alguns botões e aguardo. Enquanto me arrumo para começar o dia, uso meu celular para colocar um podcast no fundo e escutar as notícias do dia. Depois eu entro em um carro, que me leva até onde preciso chegar. Como? Não faço ideia - sei que devo ficar atenta à gasolina e às luzes no painel. Qualquer coisa além disso, está muito além do meu conhecimento.
Sinceramente, nunca pensei muito sobre nada disso - nem sobre o carro, nem sobre a Alexa, nem sobre a água corrente da qual eu dependo, o aplicativo do banco, os aviões, ou o shampoo que uso no meu cabelo. Só sei que necessito completamente de tudo isso.
Durante minha última temporada no Rio de Janeiro, visitei a exposição Studio Drift - Vida em Coisas, que questiona justamente isso. Lonneke Gordijn e Ralph Nauta, os artistas holandeses por trás da exposição, questionam o relacionamento entre a natureza e a tecnologia de uma forma incrível. Jamais pensaria que motores, ferros e metais criariam peças tão bonitas, mas com elas, a dupla cria objetos leves, que brincam com a luz e com os movimentos da natureza, nos levando a lembrar que um pertence ao outro, mesmo que às vezes pareçam ser tão distantes.
A principal atração da exposição é uma escultura intitulada Fragile Future (Futuro Frágil). Trata-se de uma espécie de lustre mecânico, em que circuitos elétricos de bronze se conectam a sementes da planta dente-de-leão, que são iluminados. De acordo com os artistas, sua intenção é analisar uma possível harmonia entre a natureza e a tecnologia. Entendi também que seria uma análise de como nós nos enxergamos no meio de tudo isso. Somos todos tão completamente dependentes de um mundo que nem sequer entendemos, que tudo aquilo que é natural, parece igualmente distante. Será que teríamos uma voz mais ativa se questionassemos nossos arredores com mais confiança?
Nauta, o artista, é guiado por uma paixão por entender como funcionam os objetos que nos rodeiam. Diz ele que aos 18 anos, ao ganhar seu primeiro carro, deu-se o desafio de desmontar e remontar o motor, pois se não fosse capaz de entender como o mesmo funcionava, não seria digno de dirigir o carro. Fiquei intrigada; não só pelo fato de que um pensamento assim nunca teria me ocorrido -engraçado como as mentes podem ser tão diferentes-, mas pelo fato de que ele o fez, com sucesso, e criou disso arte.
A sala que mais me cativou, talvez seja a mais simples. Nauta, certo em sua capacidade de entender o mundo, nos mostra todos os objetos grandiosos em sua forma mais simples: reduzidos às suas matérias primas. O que é um avião, se não quilos de alumínio? Um celular não passa de metal e cobalto, e sapatos que chegam a custar centenas, são somente fibras e couro.Toda a tecnologia e os objetos que nos cercam, e que às vezes parecem ser tão amedrontadores e distintos, de repente pareciam minúsculos.
Em um mundo onde tanto se fala sobre inteligência artificial, sobre robótica, drones, e o medo de um poder desconhecido, foi uma visita extremamente bem vinda, que me fez questionar se talvez não há uma forma diferente de conviver com todas as coisas que ditamos tão essenciais e incontestáveis. Ainda não entendo como funcionam, mas parecem um pouco mais atingíveis. Talvez a Alexa possa me explicar melhor.