Recebi um vídeo de um conhecido e, nele, havia uma mensagem da Gabriela Prioli sobre amores equivalentes. Sua provocação envolvia amores equivalentes - tanto hétero quanto queer - e qual seria o momento ideal para apresentar esse afeto às crianças.
Esse tipo de reflexão é sempre válido, especialmente no mês de junho, quando celebramos o orgulho LGBTQIA+. Não consigo falar sobre o meu amor sem receber algum tipo de bandeira ou rótulo, o que me faz ter uma certa resistência em abordar esse assunto. No entanto, achei o vídeo muito relevante (até me emocionei um pouco) e é importante refletir sobre o tema. Segue a discussão.
Amores discriminados
Ao longo dos anos, os amores que não se enquadram no padrão heterossexual normativo têm sido ignorados, violentados e sofrem todo tipo de violência, tornando-se inviáveis. Pessoas que se identificam com essas formas de amar sofrem desde cedo: falta de referências, sendo escondidas pelas próprias pessoas de suas famílias e sendo pressionadas a se encaixarem em algum rótulo para garantir a felicidade e a paz familiar.
Pensar que desde a infância você se sente inadequado ou até mesmo errado perante a sociedade e a religião é realmente angustiante. É como se nos marcassem desde cedo: "ele é diferente, vamos separá-lo do grupo". Nos negam o direito de pertencimento e o amor ao próximo desde muito cedo.
Devido a essa falta de amor, muitas vezes ficamos suscetíveis a aceitar migalhas: um relacionamento tóxico aqui, uma violência ignorada ali. Afinal, se não podemos ser amados plenamente, temos que aceitar o que nos é oferecido, certo?
Não. Na verdade, não podemos aceitar pouco. Ter essa consciência é libertador, mas também estressante, e digo isso por experiência própria.
Uma sociedade pouco acolhedora
Quem "se aceita" precisa sair do armário ou viver dentro dele. A decisão de lutar, ou não, é constante, uma vez que nossos direitos ainda estão em debate. Recentemente, conquistamos o direito ao casamento gay, mas o direito de ir e vir sem enfrentar constrangimentos ainda está distante.
Uma sociedade enraizada em modelos machistas, patriarcais, teocráticos e xenófobos inibe muito o amor ao próximo. Falo sobre amor ao próximo porque eu mesma tenho uma formação católica e enfrento conflitos internos e necessito de terapia para me compreender.
Ainda é preciso desconstruir muitas coisas. Acredito que a sociedade, juntamente com políticas públicas, pode fazer a diferença - sim, é uma frase clichê de redação do ENEM.
Infelizmente, os dados do Brasil não são nada amistosos:
- mais de 200 mortes de pessoas LGBT em 2022;
- pessoas LGBT +50 têm mais dificuldade de acessar recursos na área da saúde;
- Brasileiros ainda não encaram de forma séria pautas diversas.
Dificuldade de acesso a recursos
Pessoas trans precisam de cuidados. Elas precisam de serviços hospitalares de qualidade, de escolas que respeitem verdadeiramente o uso do nome social e de um mundo corporativo que as acolha de verdade, não apenas durante o mês do orgulho.
Li o livro O parque das irmãs magníficas, que aborda as opções que uma pessoa trans tem na sociedade. Muitas vezes, elas acabam recorrendo à prostituição, mas será que é porque querem ou porque é a única opção que lhes resta? Que ideia nos faz pensar que o lugar de uma pessoa trans é nas ruas? Isso é um absurdo.
Devido a esses estigmas, a comunidade LGBTQIA+ é muito ferida, e com toda a razão. Ocupar espaços, cargos e profissões é um ato político para as pessoas que amam.
Amar não é errado. Nunca foi e nunca será.
Conclusão
O vídeo nos faz refletir sobre se os pais devem apresentar afetividade heterossexual ou homossexual para as crianças, qual a diferença, entre outros aspectos. No entanto, não há diferença entre um e outro. Os pais têm a oportunidade que muitos não tiveram: amar seus filhos como eles são e tornar o mundo um lugar melhor. Eu voto pelo amor.