Entende-se por Niilismo a realização de que tudo está desprovido de propósito. Aos olhos de alguns, este mantra pode ser encarado como uma virtude. Contudo, tal como qualquer virtude, a sua deturpação consegue atingir consequências nefastas. Nesta nossa era moderna, na azáfama do quotidiano em que todo o progresso se quer no imediato, onde predominam grandes índices de stress e de frustração, o Niilismo assiste a tudo nos bastidores.
Constroem-se planos que colapsam quando em contacto com o inimigo (e entenda-se por inimigo as adversidades do dia-a-dia). O peso começa a fazer-se sentir e o desgaste vai moldando a mente e a personalidade de quem encabeça esta iniciativa. Por fim, quando a energia acaba e se solta um pesado suspiro, é então que o Niilismo aparece e nos abraça. Sentimos o seu calor reconfortante ao mesmo tempo que ele nos assegura que não há problema nenhum, pois nada importa. E nós concordamos. Conformamo-nos com o resultado e abraçamos o Niilismo de volta.
Tudo isto acontece porque é fácil ser passivo. Não precisamos de energia para aceitar o que se está a passar, principalmente quando não temos força para fazer o que quer que seja. E é por ser fácil que se torna perigoso. O Niilismo não vem só. Com ele vem a amargura, o ódio, a vingança. Somos tomados por uma onda de revolta que constrói uma mentalidade do “eu contra os outros”... ou melhor “dos outros contra mim”. Sejam os outros quem quer que seja, tanto pessoas que conhecemos e que de alguma maneira encaramos como responsáveis por todo o caos na nossa vida, como o mundo ou até mesmo o universo!
Isto reflecte-se num gradual declínio. Sempre que se recuam dois passos por cada um que se avança, de mãos dadas com o Niilismo e com quem o acompanha, é mais um momento em que a percepção se deturpa, focando-se no fácil e não no correcto. Claro que o importante é agir, e para isso é imprescindível reconhecer que o problema existe. Não é fácil, mas é aí que ter um círculo de amigos e/ou familiares se mostra crucial. Podem ajudar a reconhecer o problema e, assim, dar o mote para a sua resolução. Mas toda a ajuda do mundo não vai mudar a dura realidade de que nos cabe a nós, nós que temos estado a abraçar o Niilismo há sebe-se lá quanto tempo, a dar o primeiro passo para a mudança. Mas como? Simplificando.
É importante contrariar o Niilismo e definir um propósito. É importante decidir o que queremos fazer com o nosso tempo. Então define-se um objectivo. Podemos até mesmo definir quando é que queremos alcançar esse mesmo objectivo, mas tal não é aconselhável para evitar episódios acrescidos de frustração. Com o objectivo definido listam-se passos a dar para chegar até ele. Uma série de mini-objectivos mais simples e fáceis de realizar. Algo que se possa fazer gradualmente de dia para dia e que resulte num sentimento de realização. Uma motivação gradual e certa que prova que a mudança é possível desde que seja feito o correcto investimento de tempo e de energia.
O Niilismo estará sempre presente, tal como qualquer outra forma de tentação. E mesmo que ele nos volte a abraçar, tal não será grave desde que o objectivo esteja claro e se avance gradualmente na sua direcção.
É possível progredir e dar um propósito a nós próprios… e tudo pode muito bem começar por arrumarmos o nosso quarto.
Não lutes contra monstros pois podes vir a tornar-te um, e quando olhas para o abismo, também ele olha para ti. (Friedrich Nietzsche)