A cultura traz no seu contexto uma complexidade na sua tradução e significados. Por sua vez, a cultura é polissêmica atua como um caleidoscópio é transformadora para vida social dos seres humanos. Há de se considerar, que a cultura exerce com muita polêmica a dinâmica na vida social dos seres humanos. Portanto, não há estrutura social sem cultura. Digamos que a estrutura social funcione como a brincadeira de “cabo de guerra”. O povo de um lado com seu repertório a partir de ferramentas ativas utilizadas no dia a dia para sobrevivência e para o trabalho. E do outro lado máquina estatal preparando seus argumentos e leis diante da revelação dos poderes. Cada um com suas ferramentas ativas de provocações revelam suas nuances.
No mundo vertiginoso dos acontecimentos, a cultura estabelece um movimento de circulação e visibilidade para facilitar as oportunidades que surgem no mundo. Podemos considerar que a cultura não pode ser separada de nós. Tudo que fazemos, pensamos, agimos e queremos tem resposta e perguntas na cultura. Para desenvolver qualquer projeto de vida necessitamos da cultura. O grande pesquisador da cultura Antonio Monegal afirma que “A cultura não é um luxo decorativo, é a base da nossa experiência vital.” Para tanto, os papéis sociais e principalmente o nosso status na sociedade tem como base o repertório formado pelas ferramentas da cultura.
O que ocorre é que a cultura age de forma invisível porque permeia o nosso dia a dia. Já ouviram falar que são os detalhes que fazem a diferença, pois é, esses detalhes proporcionam a mudança social. Sentir, interagir, agir, planejar e desenvolver são necessários para compor o repertório de significados e significantes da cultura. Todo esse movimento foi registrado pelos estudiosos, Mário de Andrade com O turista Aprendiz, Renato Almeida com a Inteligência do Folclore, Alceu Maynarde com o Folclore Nacional, Rossini Tavares com A ciência do folclore, Théo Brandão com Folguedos Natalinos de Alagoas, Câmara Cascudo com o Dicionário Brasileiro de Folclore, Mário Souto Maior com Orações que o povo reza, Roberto Benjamin com Folguedos e danças de Pernambuco, entre outras almas sensíveis que tiveram a preocupação de não separar a cultura da vida social. Por isso, a cultura exerce divinamente a responsabilidade de nos tornarmos melhores. Sem ela as metáforas não existiriam, nem as poesias ousariam em aparecer, nem as crenças se tornariam diamantes, nem as pinturas, as danças e as músicas sobreviveriam.
Por sua vez, algumas pessoas não conseguem enxergar a cultura como prioridade no surgimento de nossa identidade voltada para produção simbólica. Os símbolos existem porque o mundo é codificado, segundo Vilém Flusser, “Em suma: as formas não são descobertas nem invenções, não são ideias platônicas nem ficções; são recipientes construídos especialmente para os fenômenos.” (Flusser, 2013: 28).
Então, é na cultura que encontramos esses recipientes. Nesse contexto a cultura tem como privilégio organizar a sociedade. Os artistas e os fazedores de cultura acumulam sensibilidade para exporem ou decifrarem esses códigos. Ainda como afirma Antônio Monegal a cultura é um “ecossistema” alimenta a política, instituições e a vida social. A cultura é crucial nas vendas, no trabalho, na mídia e pasmem, até nos sonhos. Quem pode explicar melhor é o poeta Carlos Drummond de Andrade com a poesia - Lembrete "Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, Mas a poesia (inexplicável) da vida."
Para refletir melhor, a cultura traz o sentido da vida. Construímos memórias afetivas pela cultura porque somos feitos de histórias
Tudo porque a cultura vive dos detalhes inacabados. E hajam detalhes! Então, pelos mistérios existentes entre o céu e a terra, a cultura se faz presente. É viva! É dinâmica! É exuberante! Nela temos a tradição, a refuncionalização, a reatualização e muito sentimentos. A cultura carrega , como diz o poeta Carlos Drummond, o “Sentimento do mundo”. Por isso, a cultura acompanha a dor, a moral, a ternura, a magia, os costumes, a fé entre outros sentimentos. Há-de se considerar que a cultura carrega tanto a pureza da tradição popular quanto a euforia frenética da pós modernidade. Como até hoje ninguém sabe quem nasceu primeiro se foi o frevo ou passo, assim é a cultura que modela a vida, e ao mesmo tempo, a vida modela a cultura. Vai tornando, vai fazendo, vai acontecendo, tudo na vida, por conta da cultura. O popular amadurece o erudito, e o que era novo, hoje é antigo.
Nessa complexidade, a cultura traz e faz o tempo. O que, inevitavelmente, gera contradições, incertezas e crises. “A ideia dominante em seus últimos escritos afirma que a cultura é atravessada tanto por mudanças abruptas e lacerantes, fontes de ondas epidêmicas de terror (Lotman, 1985 [1984], p.145), como também por novos caminhos imprevisíveis.” Assim, a espontaneidade e os imprevistos são responsáveis pelo repertório da cultura, existentes também nas culturas populares, que regulam o trabalho e a vida.
E, para você que está duvidando das ferramentas ativas da cultura, basta lembrar do que você faz quando acorda? O que você escuta? O que você come? O que você assiste? Entre outras atividades. Tudo que nos cerca, é cultura. O ritual adotado que privilegiamos, a religiosidade, as crenças, as comidas, constroem a identidade de um povo.
A identidade proporciona um conjunto que nos fortalece e nos dá segurança. Nesse universo formamos nossa essência. Cada povo, cada comunidade, revela sua identidade por diversas maneiras. No jeito de falar, pelas comidas, pelo comportamento e pelo modo de como acreditam em algo, seja bom ou ruim. Na identidade revelam-se os fenômenos existentes na cultura. Ou seja, a identidade é guiada pela produção cultural.
Desde elaboração de memes, danças pelo aplicativo tiktok, entre outros repertórios ativos realizado pelo uso da tecnologia na tradição popular. Por sua vez, a identidade traz e faz a diferença mediante o mundo padronizado da globalização. Existe então, uma grande questão ao mesmo tempo que a identidade salva, também pode ser deturpada. É o caso do preconceito em relação aos nordestinos, aos povos originários, aos negros, que cá prá nós, é inadmissível! Somos frutos da mistura e mistérios do imaginário de várias etnias. Basta comprar um suco de uva, por exemplo e ler na embalagem o lugar de fabricação, e se deparar, por exemplo, com Pernambuco, um Estado do Nordeste. E se a gente for procurar nos folguedos e danças, encontraremos traços e vestígios de vários povos do mundo. Necessitamos aprender com a cultura.
Cultura é o sistema de ideias vivas que cada época possui. Melhor: o sistema de ideias das quais o tempo vive.
Cabe, a “todos seres humanos trazer clareza ao mundo”, ainda como diz Ortega y Gasset, porque a infância da cultura está no popular, no folclore. A cultura popular ou folclore é banhada por espontaneidade e ineditismo. Há uma sabedoria nas culturas populares que conseguem driblar a “ordem” devolvendo a sensação de sonhos. Nela existe o charme do caboclo de lança com o cravo na boca, o reflexo do espelho nas fantasias, o gingado da capoeira, o genuíno e a malemolência no passo do frevo, a força da fé, cadência de uma ciranda, e a produção maravilhosa das narrativas. Tudo isso, nos envolvem. Para Carlos Gomide fundador da Carroça de Mamulengos “um mundo carece de Vida Viva” E a cultura é vida viva! Não podemos dispensar o que nos faz melhor. Mas, não esqueçam, que a imaginação para Ambrose Bierce é um “entreposto de fatos, de propriedade de dois sócios: um poeta e um mentiroso.”
Mesmo assim, com tanta complexidade, a cultura é surpreendente!